quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Estreando na direção, Marco Ricca escala elenco estelar em “Cabeça A Prêmio”












A experiência vasta como ator possibilitou a Marco Ricca conduzir uma trama totalmente focada em personagens. Para que o projeto saísse do jeito que gostaria, Ricca investiu na seleção de atores - boa parte colegas de trabalho que viraram amigos ao longo dos anos; e fez do elenco o brilho de “Cabeça a Prêmio”, novo longa que estréia em 20 de agosto nos cinemas nacionais.

“O filme é de personagens. O que mais me deu orgulho foi essa unidade de interpretação que se formou. Todo mundo se entregou ao filme, comprou essa ideia”, contou Ricca, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (16) em São Paulo.

Passado entre as zonas fronteiriças de Brasil, Paraguai e Bolívia, “Cabeça a Prêmio” é uma grande viagem realizada envolta de dramas e angústias. “A vida é angustiante mesmo, não tem jeito”, afirmou o ator e cineasta.

Com esse universo estruturado em histórias de frustrações, Ricca tenta, com a mesma obsessão, contar uma história de amor, envolvendo personagens diversos, cheio de dualidades, individualidades e, principalmente, humanos.

O veterano Fulvio Stefanini e Otávio Müller dão vida a dois irmãos fazendeiros, Miro e Abílio, que controlam um mercado perigoso, porém lucrativo, baseado em negócios ilícitos. Elaine, filha de Miro, vivida pela atriz Alice Braga, se apaixona por um dos pilotos da rede ilegal. Daniel Hendler (de “O Abraço Partido"), ator uruguaio, faz um ótimo trabalho no papel de par romântico de Alice.

A partir desse relacionamento, os dois se envolvem com a nata do crime no continente, e ficam à mercê da própria sorte, uma vez que tudo pode sair do controle quando homens armados e poderosos têm sua ira provocada.

Baseado no livro de Marçal Aquino, repórter que criou uma história a partir de suas experiências vividas nas fronteiras da América Latina, Ricca conta que, quando recebeu o texto original, viu ali seu potencial para uma adaptação cinematográfica.

“O livro já é um filme roteirizado, mas era grande demais. Minha meta era fazer essa obra caber no cinema, mesmo com poucos recursos que o filme iria pedir, devido viagens e locações diversas. No entanto, ‘Cabeça A Prêmio’ dava margem para personagens incríveis, com histórias que precisavam ser contadas."












“Minha experiência como ator possibilitou abertura aos personagens”, contou Ricca













“Cabeça A Prêmio” traz ainda boas atuações de Eduardo Moscovis e Cássio Gabus Mendes, na pele de dois capangas que fazem serviços sujos para o fazendeiro Miro (Fulvio Stefanini).

“O Marco [Ricca] estava pronto para isso. Você sentia uma segurança no momento da construção, da preparação antes das filmagens. Outro ponto importante, foi que ele estava aberto a possibilidades, ele ouvia, observava muito, dava espaço para o ator arriscar”, contou Cássio.

Sobre a amizade e o trabalho realizado em parceria com o cineasta, Eduardo Moscovis ainda detalhou: “Ele [Marco Ricca] já dirigiu teatro e está acostumado a trabalhar com o coletivo. Então, existe um privilegio de criação. De nada adianta ter um bom personagem, se não existe um diálogo com o diretor do filme. O núcleo de amizade que se formou no set de filmagem foi fundamental para que tudo desse certo”.

Outro destaque do longa é atuação dúbia e surpreendente de Otávio Müller, que precisou encontrar um equilíbrio em seu personagem para não cair no caricato. “Não poderia parecer um estereótipo. Lendo o roteiro, percebi aquela quebra no personagem, e fui lapidando isso, da forma que o texto pedia”, esclareceu Müller.

(Karen Lemos - Famosidades/MSN)

"Ironweed", por Babenco e Kennedy


“Ironweed” foi palco para um debate rico, realizado na última quarta-feira, 11, na Livraria da Vila Lorena, em São Paulo. Hector Babenco e William Kennedy, responsáveis pela difusão da história indigesta, se encontraram e fizeram do final daquela tarde fria paulistana uma reunião entre amigos.

Babenco, cineasta argentino radicado no Brasil, indicado ao Oscar por “O Beijo da Mulher Aranha” (1987), e Kennedy, repórter investigativo que fez uso de sua experiência para escrever romances (mais de dez obras publicadas), participaram da Pós-FLIP, organizada para quem perdeu as palestras de Paraty.

Não são poucos os motivos de “Ironweed” ter demorado a alcançar sua glória. A trama não cai na aceitação de qualquer um mesmo. Até o Prêmio Pulitzer, que recebeu em 1984 pela obra em questão, foram muitas reviravoltas. Mendigos, depressivos, alcoólatras, adoecidos, loucos, além de corrupção e violência, são alguns dos elementos que permeiam a escrita de Kennedy.

Todo esse universo acabou conquistando um jovem cineasta, que na época mal sabia ler inglês, mas foi cativado por um livro, disposto na biblioteca de um amigo que fora visitar.

“Foi o primeiro livro em inglês que li. Na época, só lia autores estrangeiros quando traduzidos para o espanhol ou português. Lembro-me de ler três ou quatro páginas de ‘Ironweed’, e ser tomado pelo livro. Em cada capítulo, ficava fisgado pela dimensão poética dos personagens, era algo, até então, desconhecido para mim”, conta Babenco.

Os personagens no qual o cineasta de refere, Francis Phelan e Helen Archer, são dois moradores de rua, alcoólatras e iludidos. Vivem embriagados para tentar esquecer traumas do passado. Francis, como exemplo, lida com a sombra da morte do filho, provocada por ele ao deixa-lo cair no chão quando ainda bebê.

Helen é uma pianista que caiu na decadência após ter experimentado fama e reconhecimento durante anos. Os dois personagens se envolvem e, em dado momento, precisam retornar à sanidade, já que Helen apresenta uma saúde frágil e necessita da ajuda do companheiro.

Na adaptação de Babenco, o elenco escalado é estelar. Jack Nicholson é Francis e Phelan, e Meryl Streep, Helen Archer. Embora toda adaptação cinematográfica jamais será fiel a sua obra original, Kennedy conta que ficou satisfeito com o resultado que viu nas telas.

“Perdemos algumas boas histórias, por conta do tempo no cinema; mas ganhamos muito com a interpretação dos atores [Nicholson e Streep]”, acrescenta.

O autor ainda detalhou algumas alterações que algumas especificidades das personagens perderam, quando levadas ao cinema. “O Francis deveria ser quase um cadáver, e Jack chegou com uma pança enorme no filme. Já Meryl, que no livro tinha uma barriga quase de grávida, estava muito longe daquela descrição”.

A imagem dos atores, no entanto, acabou sendo fixada na cabeça do escritor. “No meu próximo livro, que estou escrevendo, o personagem de Francis volta, e só o consigo imaginar o Jack ao pensar nele”, diz Kennedy.

Vagabundos demais

“Ninguém quer Nicholson e Streep sem lar e alcoólatras [risos]”, começa dizendo Babenco, ao questionado sobre as dificuldades de se levar uma história tão densa às telas. “A América não gosta de ver e de mostrar a própria miséria. É um tema [sobre os desabrigados] conhecido por lá, mas que simplesmente não se fala”, pontua.


Já difícil de emplacar nos cinemas, Kennedy, então, sentiu dificuldade maior ainda dentro do universo conservador da literatura no tempo em que tentou lançar “Ironweed”. O livro foi recusado treze vezes por conta do seu conteúdo. “Tinha vagabundo demais, pediram para tirar alguns deles” ri Kennedy. As situações adversas, no processo de publicação, não eram raras. Editores “presenteados” com o manuscrito de “Ironweed” foram demitidos, existe até a história macabra de um publicador que faleceu no metrô, dias antes de dar uma resposta para o conto de Kennedy.

Para Babenco, não somente o autor sofreu. “Ironweed” para os cinemas foi lançado em uma época de crise financeira mundial, em meados dos anos 90. Babenco contou que o filme sofreu com o saldo negativo arrecadado. “Ninguém [cineastas e seus projetos] saiu naquela época, foi uma catástrofe. Não teve o sucesso nem perto do que eu imaginava”.

Aposta

Em 1986, quando conheceu Hector e firmou a parceria para adaptação de “Ironweed”, Kennedy escrevia seu quarto livro. O escritor divide que, da parceria profissional, surgiu uma brincadeira entre os dois. Eles apostaram quem iria terminar o trabalho primeiro: Hector, seu filme, ou então Kennedy, que estava finalizando uma nova obra.

O prêmio, combinado entre ambos, era uma caixa de vinho e outra com charutos cubanos, embora Kennedy não fumasse.“Bom, ele ganhou”, disse melancólico o escritor, apontando para o cineasta, arrancando risos de Hector, ao lado, e da plateia presente.

Questão de estilo

“Percebi que estava imitando tantos outros escritores que admirava, e agregando aqueles estilos à minha escrita. Estou roubando Kafka! Pensei, comigo. Resolvi, então, me livrar de todos aqueles jeitos de escrever, e tudo o que sobrou, virou meu estilo próprio”, revela Kennedy, em tom irônico.

A busca por um estilo nunca foi obsessão de Kennedy, que encontrou sua escrita quando parou de procurá-la. A visão de Babenco é parecida, embora com um forte instinto artístico sobrepondo uma preocupação mais estética.


“É como perguntar a um jogador de futebol como ele faz um gol”, conta Babenco entre risos. “Se ele souber como fez, não funciona mais”.

“Nunca terminei a escola. O que eu fiz foi ler muito, perguntar muito, mentir muito, até que chegou o momento em que eu precisava provar que era capaz de algo. Quis fazer o que outros já fizeram, para dizer se gostava ou não”, diz o cineasta que, assim, chegou ao cinema.

“Fiz um curta, chamando ‘Natal em São Paulo’. O fotógrafo que trabalhava comigo perguntou: ‘que lente você quer?’. Eu olhei e respondi; ‘Porquê? Você tem várias lentes?’ [risos]. Eu não tinha ideia de como fazer aquilo, nunca tive saco com equipamento. Só coloquei o olho no buraco e encontrei o jeito de captar o que eu achava certo”, conta.

Para manter sua arte, mais instintiva do que técnica, Babenco tem macetes que inclui não ir ao cinema, por exemplo, para não poluir seu olhar de improviso. “Percebi que quanto mais informação recebia, mais perdia o meu olhar. Não quero fazer nada do outro, quero fazer o que eu gosto”, conclui.

(Por Karen Lemos)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Não vou dirigir filme sobre Janis Joplin", anuncia Fernando Meirelles












O projeto era brilhante. Retratar vida e carreira de um ícone da história da música mundial, com direito a uma trama emocionante, cheia de reviravoltas, rock and roll, drogas e sexo livre, e uma morte prematura, aos 27 anos, por conta de uma overdose acidental.

Assim foi a vida de Janis Joplin, uma figura conhecida a ponto de levantar o interesse de milhões de pessoas que querem conhecer melhor sua trajetória, e que agora perde a chance de ser retratada na história do cinema.

O papel principal já tinha até nome aprovado: Amy Adams, que já atuou em longas densos como “Dúvida”, e que já foi dirigida por Steven Spielberg em “Prenda-me se for Capaz”.

Fernando Meirelles, um dos nomes mais renomados do cinema e conhecidos internacionalmente, ficou com o cargo de responsabilidade para tocar um projeto tão grandioso quanto delicado. Um desentendimento de linguagem com os produtores musicais, que detém os direitos biográficos da roqueira, porém, colocou o longa em impasse, e que agora permanece intocável no papel.

“É fato que recebi um convite dos produtores com um roteiro pronto. Mas creio que os produtores esperavam uma espécie de documentário encenado, sem nenhum tipo de liberdade”, esclareceu, em nota, para o Famosidades.
“Este caminho não me agradou tanto, e o projeto ficou parado”, complementou.

Meirelles contou, ainda, que tentou reavivar o projeto por diversas vezes. Chegou a enviar o documento original para Zé Belmonte, diretor nacional com quem Meirelles tem muita afinidade. O resultado do trabalho exaustivo de Belmonte foi satisfatório para o cineasta de “Cidade de Deus”, no entanto, os produtores musicais torceram o nariz.

Agora, a parceria segue assim: sem nada acertado. Fernando revelou que voltará a conversar com os produtores no ano que vem em uma reunião a ser marcada. Lá, alguma coisa pode caminhar. Contudo, pelo menos para este ano, nada de Joplin nas telonas.

”Esse tipo de envolvimento, que acaba não resultando num filme, é comum não só lá fora como aqui também, por isso sou sempre cauteloso para confirmar algum projeto. Faz parte”, lamentou.

(Karen Lemos - Famosidades / MSN Brasil)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Em noite de surpresas, Maria Gadú grava seu primeiro DVD












Maria Gadú gravou, na noite de quinta-feira (29), seu primeiro DVD da carreira. A cantora, que estourou repentinamente em menos de um ano, conquistou a todos com suas canções simples, mas com uma intensidade de sentimentos enorme. Até Jayme Matazarro virou fã da moça, e a convidou para estrelar trilhas de atrações da Rede Globo, acarretando no sucesso súbito.

Para celebrar a boa fase, o público de São Paulo recebeu com carinho a cantora no Credicard Hall, para a gravação da turnê de seu primeiro disco (que, com tanto sucesso, recebeu o disco de platina de vendas).

Com vestes azuis e um bolerinho marrom com bolinhas brancas, Gadú subiu ao palco. O cabelo, sempre moderno, jogado para o lado e o jeito tímido e cativante. Sentou, pegou seu violão e arrancou elogios da plateia. Ela falou pouco, se emocionou e agradeceu demais o afeto do público.

No cenário, uma decoração simples, porém elegante, bem ao seu estilo. Mesmo com o tradicional acanhamento, Gadú se mostrava mais a vontade, cumprimentou a todos entusiadamente e até se mostrou preocupada ao, por vezes, parar o show para pedir a retirada de alguns fãs que passaram mal.

A primeira canção, "Encontro", foi a partida para uma apresentação que durou mais de duas horas (incluindo, claro, as pausas por conta de fãs desmaiados), seguida de "Bela Flor" e o hit "Shimbalaiê", cantado em uníssono pelo público - ponto alto do show.

Além dos seus sucessos, Gadú investiu bastante em homenagens a grandes ídolos. Logo na primeira metade do show, "Lanterna dos Afogados", dos Paralamas do Sucesso, e "A História de Lily Brown", de Chico Buarque (música que está em seu primeiro CD), no melhor estilo blues, provaram as boas referências musicais de Gadú.

Surpresas

Maria Gadú iniciou carreira envolta de muitos amigos. Crescendo musicalmente juntos, nada era mais justo que a participação, excessiva, de convidados e colegas para a gravação do DVD. Antes do primeiro convidado, um tampão cinza invadiu o palco, insinuando surpresas para a noite.

Um amigo, Caio Sóh, entrou e começou a escrever letras no tampão emoldurado enquanto o show prosseguia. Quatro jovens entraram com violinos acompanhando músicas como "Altar Particular", que emocionou o público. Luís Murá, um dos parceiros musicais de Gadú, a acompanhou. Dani Black, filho da cantora Tetê Espíndola, entrou na sequência. Juntos, eles cantaram "Aurora".

Leandro Léo, fiel parceiro, foi aplaudidíssimo ao ser chamado. Gadú, que o batizou de "o príncipe", cumprimentou Léo com um selinho, como é de costume. Nesse momento, a cantora escondeu o rosto para chorar emocionada. Juntos, cantaram "Linda Rosa", e foram acompanhados em coro pela plateia.

Fazendo do palco um verdadeiro encontro de amigos, a estrela chamou o grupo de cantores denominados "Os Varandistas", do qual fez parte no início da carreira. Sentados em um sofá colocado no palco, eles cantaram quase em capela para acompanhar Gadú que, naquela altura, mal conseguia segurar a felicidade.

Leandro Léo cantou sozinho, pouco depois, tomando o palco para si, cedido pela cantora. Claramente já tendo cativado o público da Gadú, o rapaz deu um show ao reproduzir a sua "João de Barro", apenas com voz e violão. Léo voltou ainda para algumas músicas como "Laranja". Neste momento, abajures desceram ao palco pendurados por uma linha.












Depois de composições próprias, Gadú entrou cada vez mais fundo em um repertório de referências e gostos pessoais. Tocou "Right Through You", de Alanis Morissette, e emendou uma surpresa de "Filosofia", de Noel Rosa, com "You Know I’m No Good", de Amy Winehouse.

Teve também "Trem das Onze", em uma homenagem moderna aos Demônios da Garoa e "Quase Sem Querer", do Legião Urbana, com direito a gritos de Renato Russo e aplausos da plateia no final. Para um repertório mais pop, "Who Knew", da cantora Pink, que teve alguns versos trocados. "Eu canto essa música há anos e vou errá-la justo hoje. Que papelão", disse, divertindo a plateia.

"Ne Me Quitte Pas", clássico francês na voz de Jacques Brel e, nos bis, "Quando Você Passa" fecharam o set-list de homenagens. Esta última canção, aliás, foi dedicada para Sandy, que estava na plateia. Ela surpreendeu ao subir ao palco no momento da música e se juntou a cantoria de Gadú. Todos adoraram a parceria de última hora.

De volta para o bis, Leandro Léo foi chamado de volta. Uma nova versão de "Laranja" foi feita pela banda, uma versão mais estendida, que dá direito aos músicos mostrarem o virtuosismo da habilidade com os instrumentos. Aos poucos, Gadú apresentou os membros de sua banda.

Enquanto a música se desenrolava, os convidados do show, os "Varandistas" (foto acima), Sandy e até a mãe de Maria Gadú entraram no palco para a despedida. Leandro Léo pegou o microfone e puxou um "ela merece!", que tomou conta da plateia. Uma bela noite para uma excelente cantora.

(Karen Lemos - Famosidades / MSN Brasil)

Daniel de Oliveira: "Minha figura não pode levar as pessoas ao cinema"












Quando recebeu o roteiro de “400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho” em mãos, convite do diretor Caco Souza, Daniel de Oliveira sabia muito bem onde estava pisando. O caminho não seria nada fácil, mas aceitar o desafio só viria a acrescentar na carreira já consolidada do ator.

A sua trajetória ainda vem sendo construída, no entanto, papéis em filmes como “Cazuza – O Tempo Não Para” e “A Festa da Menina Morta” fizeram de Daniel o intérprete perfeito para viver nas telonas William da Silva Lima, um dos fundadores do Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro cujo embrião nasceu nos presídios, na época da ditadura militar no Brasil.

Em “400 Contra 1”, Daniel procurou dar base a uma história que já dura 40 anos, mas que poucos a conhecem. O tema é delicado, mas para o ator que adora somar personagens reais em seu currículo, a história precisava ser contada.

“Quando fui chamado [por Caco Souza] senti aquele frio na barriga. Sabia que a coisa seria pesada, o caminho seria árduo, mas eu precisava fazer. Sou um ator, é minha função. E, de certa forma, foi um grande desafio. É uma responsabilidade retratar a história do meu país”, declarou Daniel para o Famosidades, na pré-estreia do filme que aconteceu na noite de terça-feira (27) em São Paulo.

Para encarar um papel de um militante comunista que virou cabeça de um grupo de criminosos organizados, o intérprete precisou mergulhar fundo no universo de William, a começar pelo seu relato mais pessoal: a biografia escrita por William, que ainda está vivo, e que foi o ponto de partida para toda a produção.

“O primeiro passo foi a leitura do livro. E já começou intenso. Apesar de ser um livro curtinho, é extremamente intenso, porque ele relata tudo que ele [William] viveu dentro da cadeia. Foram 37 anos ali dentro, tem muita história”, contou.

No inicio dos anos 1970, William era um combatente de uma organização contra o regime militar, batizada de Falange Vermelha, que atuava como assaltante de bancos para arrecadar fundos financeiros, dessa forma libertando companheiros presos e acumulando fundos para as futuras ações. Ao ser preso, ele entrou em uma verdadeira escola do crime, onde pregava-se organização e estratégia, fundamentos de base para o aparelhamento do que seria o Comando Vermelho mais para a frente.

Para entrar no universo genuíno e intenso de William da Silva, Daniel embarcou em uma viagem no cotidiano dos presídios. “Fomos para a penitenciaria agrícola do Paraná, onde houve toda uma preparação ao lado dos presos comuns. Eles participaram do filme conosco, estão no longa, inclusive. Acabamos criando um grupo nesse meio tempo, eles nos ajudaram e nós os ajudamos, foi uma troca mesmo.”

Além dessa escola, Daniel entrou de cabeça na pesquisa exaustiva em busca de referências para “400 Contra 1”. “Precisei de muita observação para pegar o ritmo de tudo. Consultamos materiais de arquivo, jornais, revistas que falassem da época para entrar mesmo, se aprofundar”, contou.

Com um ritmo pressuroso, planos criminosos entrançados e fortes cenas de ação, com direito a banho de sangue e tiro – como bem gosta e sugere uma nova linha do cinema nacional - “400 Contra 1” é o outro lado da história. Sem medo de apologias, Caco Souza se entregou ao roteiro delicado de seu projeto.












“É violento, claro, porque fala de uma facção criminosa. Por outro lado, é importante conhecer essa história. Porque será que temos tanto medo? Gostaria muito que as pessoas entendessem a forma como isso se deu, já que muitos desconhecem a verdade. É importante discutirmos um tema brasileiro tão pertinente”, explicou Caco.

Daniel, por sua vez, dá vida a uma passagem da nossa história que se mantém atual e, diretamente ou não, influência a vida de quem nem ao menos passa pelos caminhos que levam ao topo das favelas, onde o Comando Vermelho impera. Além disso, ele comemora o acréscimo de mais um grande papel.

“Fazer mais um personagem real? Completei seis personagens reais agora na carreira. É uma grande coincidência, claro, mas isso me interessou muito. Achei uma onda ótima”, afirmou.

Com tanto prestigio, vale ressaltar que Daniel foi a aposta de Caco para destacar a produção. Entretanto, a idéia de poder levar as pessoas ao cinema por meio de seu nome, parece não agradar muito o ator de 33 anos. “Minha figura não pode levar as pessoas ao cinema. Ele [o cinema] precisa andar sozinho. O público tem que comparecer independente disso”, disse.

(Karen Lemos - Famosidades / Portal MSN)

Brasil fica fora de mostra competitiva do Festival de Veneza












Não deu Brasil na lista de concorrentes selecionados para a 67° edição do Festival de Veneza, na Itália, que será aberto no dia primeiro de setembro e vai até 11 do mesmo mês.

Mesmo fora da competição pelo Leão de Ouro, o Brasil está representado no evento em produções inclusas nas mostras paralelas. “Lope” (imagem acima), realizado em uma parceria entre Brasil e Espanha, relata a vida do dramaturgo Lope de Vega, e traz Selton Mello e Sônia Braga no elenco. O curta “O Mundo é Belo”, também brasileiro, será exibido na mostra “Horizontes”.

Para a abertura do festival, um filme que promete muita repercussão. "Black Swan", com Natalie Portman, estreia em Veneza envolto de polêmicas. O novo longa de Darren Aronofsky, que já causou incômodo em "Réquiem para um Sonho", leva ás telas a história de duas bailarinas que disputam destaque na dança. A trama promete uma cena forte de sexo violento, envolvendo Natalie e a atriz Mila Kunis. Completam ainda o elenco Winona Ryder e Vincent Cassel.

Na corrida pelos prêmios principais do Festival, Sofia Coppola aparece com seu novo e esperado “Somewhere”, com participação de Benicio Del Toro e Stephen Dorff (de "Inimigos Públicos) como protagonista. A diretora de “Maria Antonieta” e “Encontros e Desencontros” traz agora a história de um magnata que tem sua vida alterada ao receber a visita de sua filha de 11 anos.


Outro filme bem aguardado é “A Letter to Elia”, novo de Martin Scorsese, cineasta de “Ilha do Medo”. As atenções, no entanto, estão viradas mesmo para a recente produç ão de Robert Rodriguez, “Machete”, filme que promete ser um trash-sangrento, ao estilo Tarantino (quem, frequentemente, realiza co-produções com Rodriguez), e que traz Lindsay Lohan no elenco, vestida de freira e pronta para matar (foto ao lado).

Ben Affleck ataca novamente como cineasta (o ator já esteve frente às rédeas de “Medo da Verdade”). Além da direção, o ator também realizou o roteiro da história sobre um ladrão profissional que se envolve com uma gerente de banco. O irmão de Ben, Casey Affleck, também na direção, apresenta o seu “I’m Still Here – The Lost Year of Joaquin Phoenix”, documentário sobre o comportamento estranho e sumiço do ator Joaquin Phoenix nos últimos anos.

Helen Mirren, vencedora do Oscar por “A Rainha”, protagoniza novo longa. Trata-se de “The Tempest”, adaptação cinematográfica moderna para “A Tempestade”, de William Shakespeare, que será exibido no Festival.

O circuito europeu também marca presença na seleção. Destaque para o renomado diretor francês François Ozon (de “8 Mulheres” e “Swimming Pool”), que apresenta o seu “Potiche”, com Catherine Deneuve e Gerard Depardieu no elenco, grandes estrelas do tradicional cinema francês.

(Karen Lemos - Famosidades / MSN Brasil)

“Festival de Gramado”: Paulo César Pereio será o homenageado do ano












A seleção de filmes e homenageados da 38º edição do Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul, traz uma programação diversificada e um dos homenageados em especial, que fez história no cinema e no teatro brasileiro.

Ao todo serão 12 filmes da cena gaúcha, 16 curtas nacionais, oito filmes nacionais e sete longas estrangeiros. Nas homenagens, Paulo Cesar Pereio, personagem em produções de Arnaldo Jabor e Cacá Diegues, receberá o Troféu Oscarito.

A cineasta Ana Carolina Soares, que dirigiu experimentais como “Das Tripas Coração” e “Sonho de Valsa”, será agraciada com o Troféu Eduardo Abelin.

Do dia 6 a 14 de agosto, muitos famosos vão passar pelo tapete vermelho do Festival, que contará não só com as tradicionais mostras competitivas e paralelas, mas também com debates e encontros entre profissionais do cinema.

Na programação estão longas como “180º”, produção carioca dirigida por Eduardo Vaisman, que traz no elenco Eduardo Moscovis; “Enquanto a Noite Não Chega”, de Beto Souza, adaptação de uma obra de Josué Guimarães; “Não Se Pode Viver Sem Amor”, de Jorge Durán, com elenco estrelar encabeçado por Cauã Reymond, Ângelo Antônio e Simone Spoladore.

Pereio, além de homenageado, ainda protagoniza “Ponto Org”, de Patrícia Moran, incluso na seleção. Os vencedores do Festival serão anunciados por votação do Júri Oficial e Júri Popular, composto por leitores indicados por nove jornais brasileiros. Serão 13 jurados ao todo.

(Karen Lemos - Famosidades / MSN Brasil)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ocupação retrata mente inquieta de cineasta

Mostra sobre Rogério Sganzerla mergulha em seu universo criativo através de objetos pessoais e obras restauradas













Dando continuidade a boa intenção do Itaú Cultural aplicada em seu projeto de “Ocupações”, após o dramaturgo Zé Celso e o músico Chico Science, entre os mais destacáveis, chega, pela primeira vez em São Paulo, uma mostra dedicada à obra inquieta e contraversiva de uma grande cineasta de nossa história, Rogério Sganzerla.

Apresentar um trabalho denso de Sganzerla para um público que, mesmo dada sua contribuição cinematográfica, pouco conhece ou até já ouviu falar de seu nome (quando não, porque sua obra mais conhecida, “O Bandido da Luz Vermelha”, foi citada), veio a se tornar um grande desafio para Helena Ignez, fiel companheira das telas e da vida do cineasta, que, juntamente com Joel Pizzini, se encarregou da curadoria da ocupação.

“Estamos trazendo o íntimo da atividade, do trabalho dele. É uma contribuição mostrar o que foi Sganzerla para o público, principalmente para essa juventude”, alega Helena, que atualmente dirige seu segundo longa-metragem “dentro desse filão experimental que foi o cinema de Sganzerla”, complementa.

O primeiro longa da atriz baiana, que se destacou também em filmes de Glauber Rocha, veio a partir de um projeto emblemático, quase que uma promessa e homenagem pessoal à alma do cineasta, morto em 2004 por conta de um tumor no cérebro. “Luz nas Trevas”, com roteiro de Sganzerla e olhar supervisor de Helena, trará de volta às telas todo o cinismo de João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, que virou sinônimo de contracultura em 1968, batizando o movimento Cinema Marginal Brasileiro.

Cenas exclusivas de “Luz nas Trevas”, no entanto, que só será finalizado no mês de agosto para entrar no circuito nacional de festivais, poderá ser apreciado pelo público que visitar a ocupação. Entre outras tantas novidades, há roteiros originais manuscritos, como o clássico “A Mulher de Todos”, com brilhantismo de Helena como protagonista (este, estará disponível em fac smile, que permite manusear os escritos), além de filmes desaparecidos que compõe, ainda, a seleção.

“São obras redescobertas, encobertas no período da Ditadura Brasileira. Em uma cidade como São Paulo, esse espaço, com fotos, sonoras e debates, traz uma melhor retrospectiva”, conta Sinai, filha de Sganzerla, que contribuiu no critério de seleção de obras, objetos e referências do universo criativo e pessoal do pai.












Sobre trabalhos desaparecidos e, posteriormente, recuperados - principalmente na pré-montagem da Ocupação, Sinai ainda ressalta: “Houve uma preocupação enorme, por parte nossa, de digitalização. Não queríamos perder mais nada do rico material do meu pai”. Muitas das pesquisas, conta Sinai, para a seleção de obras contou com o acervo da produtora Mercury, fundada por Sganzerla e que atualmente tem Helena no comando.

Entre os filmes recuperados estão “Carnaval na Lama”, com sequências rodadas nos anos 1970, contando com a participação dos músicos Jorge Mautnet e Jards Macalé; “Fora do Baralho”, um road-movie inusitado que retrata uma viagem de Sganzerla e Helena pelo Deserto do Saara; e ainda um documentário intitulado “Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista”, que surpreendeu a própria família do realizador, que, até então, desconhecia o material.

“Você tem toda uma questão de ambiente, luz e cores para recriar o mundo criativo dele: seus interesses,signos, referências”, enumera Joel Pizzini, cineasta e curador das mostras da ocupação que tem cenografia assinada por Valdy Lopes.

Os signos, dos quais Pizzini se refere, são representados, muitas vezes, com a possibilidade de interação com o público. Das referências pessoais, a ver com personalidades como Oswald de Andrade, Noel Rosa, Orson Welles e até Jimi Hendrix, são dispostas em forma de objetos pessoais, coletados por Sganzerla ao longo da vida, trabalhos fílmicos (como é o caso de “Isto É Noel” e “Noel por Noel”, sobre o compositor boêmio), e até uma guitarra, menção a Hendrix, que pode ser “arranhada” pelos visitantes.














“O Rogério adotou São Paulo, foi aqui que ele criou ‘O Bandido [da Luz Vermelha]’ e ‘A Mulher de Todos’. Colocando tudo isso nesse espaço de arte, temos um registro fiel do que foi a obra de Sganzerla”, conclui Pizzini.

Noite de conversas

Debates também pautaram a homenagem ao cineasta brasileiro. Helena Ignez, a atriz Maria Gladys, o pesquisador italiano Roberto Turigliatto e até o crítico da “Cahiers du Cinéma”, Bill Krohn, subiram a mesa de debates.

No primeiro dia de conversa, Julio Bressane (fundador, ao lado de Sganzerla, de uma produtora importantíssima, que realizou os principais filmes do cinema marginal: a Belair), comentou sobre o período de “hiato criativo” do seu companheiro de arte, que ocorreu entre os anos 1971 a 1977.

O cineasta, de renome do cinema marginal brasileiro, mencionou uma citação de Sganzerla que resume sua pausa, caracterizando sua personalidade forte. “Nenhum segundo eu parei, só fui melhorando... para pior!”. Helena Ignez também falou abertamente sobre o período negro: “Rogério sofreu todo tipo de repressão, calúnias, inveja”.













Para o grande encontro, familiares também estiveram presentes tanto na abertura da ocupação, como em boa parte dos debates. Compareceram Djin, outra filha de Sganzerla com Helena e que está no elenco de “Luz nas Trevas” (no papel que, em 1968, era o de sua mãe), o irmão do cineasta, Albino, e a mãe Zenaide, que pareceu encantada com um retrato fiel à mente irreverente de seu filho.

“Como mãe, foi o maior presente de vida. As pessoas, aqui, me rodearam com muito carinho”, pontuou.

Fechando a grande noite, Zenaide relembrou os anos rebeldes de adolescência do filho, época em que trabalhava como crítico do cinema para o suplemento literário do jornal “O Estado de S. Paulo” e entendeu, mais claro do que nunca, aquela paixão irremediável do garoto. “Meu filho sempre teve essa vocação”, concluiu.

E bem como o próprio Sganzerla dizia, apoiado nas ideias revolucionários de quem tanto admirava - Oswald de Andrade; uma vocação para um cinema que deve ser visto com “olhos livres”. Ou então, passando a palavra para Helena Ignez: uma “marginalização total, que ia contra a maré da ignorância”.

(Karen Lemos)

Sempre transgressor, Ney Matogrosso agora é ícone fashion












Convidado para abrir a edição 2010 do Ziguezague, evento de moda paralelo a São Paulo Fashion Week, Ney Matogrosso ficou espantado ao ver seu nome relacionado ao mundo de plumas e paetês. No entanto, o cantor vem aceitando melhor a ideia. Desde que foi chamado para cantar no desfile da Blue Man, no último Fashion Rio, Ney tem refletido e, com o tempo, vem encontrando semelhanças com sua performance extravagante no palco com as passarelas do universo da alta costura.

“Fiquei surpreso quando recebi o convite. Não sabia que meu nome era associado com moda. Depois notei que eu tenho mesmo essa relação com imagem, e eu acho ótimo que eu esteja provocando esses estímulos”, explicou em entrevista para o Famosidades.

O cantor subiu na passarela do Fashion Rio para cantar “Cuando Calienta el Sol”, rodeado por modelos musculosos e seminus.

“Esse lance do desfile da Blue Man me interessou muito, porque é uma mistura de moda, música e teatro. Acredito que as artes estão mesmo interligadas, e somente fui cantar por estar em outro ambiente. É claro que não sou modelo, e jamais cantaria vestindo uma sunga”, disse, afastando a ideia.

Em viagem remota ao passado, Ney vislumbrou sua adolescência, e se deu conta de que, em termos de estilo, sempre foi um ser transgressor, algo que acabou se estendendo para a carreira que já completa 36 anos.

“Sempre fui uma pessoa contrária a regras. Nos anos 1960, por exemplo, quando morava no Rio de Janeiro, eu gostava de andar de regata e tamanco de português. Faltavam me jogar pedras nas ruas e eu não entendia como, em uma cidade tão quente feito o Rio, os homens eram obrigados a andar de sapato fechado”, recordou.

Essa mentalidade de Ney se manteve até sua entrada no fenômeno Secos & Molhados, conjunto de rock brasileiro que abalou as estruturas do país em pleno regime militar na década de 70. Com a proteção de uma maquiagem facial, inspirada no teatro japonês Kabuqui, o cantor se esbaldou na liberdade de figurinos e interpretação.

Apresentava-se apenas com pedaços de pano e já investia no erótico. Elemento que passou a ser frequente ao longo da carreira. “A primeira vez que surgiu o erótico em meus shows foi no ‘Bandido’. Existia esse desafio na nudez e eu me perguntava: ‘Por que não posso mostrar?’. Então exacerbei mesmo, lambia salto de bota e trocava de tapa sexo, coberto apenas por um pequeno biombo, na frente de toda plateia”, afirmou.

O lado sexual aflorado artista, por vezes, invadia a vida pessoal. Ele conta que houve uma época em que não conseguia dormir se não fizesse sexo. O desejo era tanto, que se expandia até o público de seus shows.

“Eu olhava para a plateia e desejava, sabe? Queria fazer sexo com todo mundo que estava ali. Hoje em dia não tenho mais essa coisa louca. A plateia agora é uma pessoa que conheço há 36 anos e tenho toda intimidade do mundo”, contou.












Não é à toa que Ney tem fotos suas, um figurino, e um vídeo da época dos Secos & Molhados expostos da mostra “A Cidade do Homem Nu”, em cartaz no Museu da Arte Moderna de São Paulo. A exposição traz algumas obras de Flávio de Carvalho, artista plástico que escandalizou a sociedade dos anos 1950, ao sair pelas ruas usando uma saia.

O impacto é bem parecido com os shows de Ney Matogrosso, onde a transgressão é sempre bem vinda. Essa liberdade corporal o cantor atribui, em partes, ao figurino e alguns acessórios cênicos que lhe dão essa “coragem” para o desbunde.

“No show ‘Destino de um Aventureiro’, eu tinha umas orelhas de ouro que colocava na cabeça, e aquilo que dava uma força, um poder incrível”, confessou. Anos depois, em 1989, algo parecido aconteceu no palco. Ney estrelava um show que não tinha nome e, durante a entrevista, revelou algumas curiosidades da criação.

“Naquela época eu tomava Daime e, em um dos trabalhos, surgiu a imagem de um homem de crina de cavalo. Decidi então que faria uma peruca com crina de cavalo. Usei no show, e quando vestia aquilo, virava uma entidade latina, sabe? Eu era remetido para os Andes”, relembrou.

Os figurinos sempre tiveram peso nas apresentações do cantor, mesmo quando o extravagante e o brilho das fantasias estavam ausentes. Foi o que aconteceu com o show “Pescador de Pérolas”.

“Quando decidi fazer esse show, pensei: ‘Vou fazer tudo o contrário. Agora quero cantar músicas clássicas brasileiras, vestido de terno’. Embora eu usasse o terno como fantasia, aquilo dava um contraste”, explicou.

A empreitada deu certo, tanto que, hoje, Ney alterna apresentações mais intimistas entre mais elaboradas. A forma como isso funciona é emblemática. O artista conta que imagens para shows pulam aleatoriamente em sua cabeça, e há um segredo para captar tantas idéias.

“O que eu faço é liberar meu inconsciente para captar essas coisas. Estou sempre aberto, sempre recebendo informações, e quando elas vêem, eu anoto tudo, ou desenho, para não esquecer”, revelou.












Prestes a encarnar o Bandido da Luz Vermelha, personagem ícone do Cinema Marginal Brasileiro, Ney precisou de muita abertura do inconsciente para criar os arquétipos do seu bandido, que será estrela de “Luz nas Trevas”, continuação do clássico “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla.

“Quando Helena Ignez [viúva de Sganzerla e diretora do longa] me convidou fiquei surpreso! Aceitei na hora, depois fiquei um pouco assustado, já que se tratava de um ícone do cinema.”

Os medos, revela Ney, iam desde comparações com seu personagem ao clássico de 1968 até o receio de não ser um ator profissional. No entanto, quando soube que poderia expandir sua interpretação, o cantor entrou de cabeça no papel.

“Para a figura do Bandido, deixei a barba crescer, achei aquilo interessante e mostrei para Helena, que adorou. O figurino fui buscar em meu armário, pensando: ‘Que roupa um preso poderia usar?’ [risos]”, entregou.

Seja na passarela, na frente das câmeras ou mesmo no palco de casa de shows pelo mundo, Ney é um artista multifacetado, que surpreende em cada trabalho que realiza. Inovar é um verbo que o cantor adora colocar em prática na carreira, e ele explica o porquê:

“Nunca estou satisfeito, sempre quero mais. Só que esse meu pensamento é um pouco egoísta, porque não faço isso pensando no meu público, e sim no meu próprio prazer em cima do palco. É algo que me mantém interessado e, dessa certa forma, talvez eu possa me manter interessante também”.

(Karen Lemos - Famosidades / MSN Brasil)