quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Daniel de Oliveira: "Minha figura não pode levar as pessoas ao cinema"
Quando recebeu o roteiro de “400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho” em mãos, convite do diretor Caco Souza, Daniel de Oliveira sabia muito bem onde estava pisando. O caminho não seria nada fácil, mas aceitar o desafio só viria a acrescentar na carreira já consolidada do ator.
A sua trajetória ainda vem sendo construída, no entanto, papéis em filmes como “Cazuza – O Tempo Não Para” e “A Festa da Menina Morta” fizeram de Daniel o intérprete perfeito para viver nas telonas William da Silva Lima, um dos fundadores do Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro cujo embrião nasceu nos presídios, na época da ditadura militar no Brasil.
Em “400 Contra 1”, Daniel procurou dar base a uma história que já dura 40 anos, mas que poucos a conhecem. O tema é delicado, mas para o ator que adora somar personagens reais em seu currículo, a história precisava ser contada.
“Quando fui chamado [por Caco Souza] senti aquele frio na barriga. Sabia que a coisa seria pesada, o caminho seria árduo, mas eu precisava fazer. Sou um ator, é minha função. E, de certa forma, foi um grande desafio. É uma responsabilidade retratar a história do meu país”, declarou Daniel para o Famosidades, na pré-estreia do filme que aconteceu na noite de terça-feira (27) em São Paulo.
Para encarar um papel de um militante comunista que virou cabeça de um grupo de criminosos organizados, o intérprete precisou mergulhar fundo no universo de William, a começar pelo seu relato mais pessoal: a biografia escrita por William, que ainda está vivo, e que foi o ponto de partida para toda a produção.
“O primeiro passo foi a leitura do livro. E já começou intenso. Apesar de ser um livro curtinho, é extremamente intenso, porque ele relata tudo que ele [William] viveu dentro da cadeia. Foram 37 anos ali dentro, tem muita história”, contou.
No inicio dos anos 1970, William era um combatente de uma organização contra o regime militar, batizada de Falange Vermelha, que atuava como assaltante de bancos para arrecadar fundos financeiros, dessa forma libertando companheiros presos e acumulando fundos para as futuras ações. Ao ser preso, ele entrou em uma verdadeira escola do crime, onde pregava-se organização e estratégia, fundamentos de base para o aparelhamento do que seria o Comando Vermelho mais para a frente.
Para entrar no universo genuíno e intenso de William da Silva, Daniel embarcou em uma viagem no cotidiano dos presídios. “Fomos para a penitenciaria agrícola do Paraná, onde houve toda uma preparação ao lado dos presos comuns. Eles participaram do filme conosco, estão no longa, inclusive. Acabamos criando um grupo nesse meio tempo, eles nos ajudaram e nós os ajudamos, foi uma troca mesmo.”
Além dessa escola, Daniel entrou de cabeça na pesquisa exaustiva em busca de referências para “400 Contra 1”. “Precisei de muita observação para pegar o ritmo de tudo. Consultamos materiais de arquivo, jornais, revistas que falassem da época para entrar mesmo, se aprofundar”, contou.
Com um ritmo pressuroso, planos criminosos entrançados e fortes cenas de ação, com direito a banho de sangue e tiro – como bem gosta e sugere uma nova linha do cinema nacional - “400 Contra 1” é o outro lado da história. Sem medo de apologias, Caco Souza se entregou ao roteiro delicado de seu projeto.
“É violento, claro, porque fala de uma facção criminosa. Por outro lado, é importante conhecer essa história. Porque será que temos tanto medo? Gostaria muito que as pessoas entendessem a forma como isso se deu, já que muitos desconhecem a verdade. É importante discutirmos um tema brasileiro tão pertinente”, explicou Caco.
Daniel, por sua vez, dá vida a uma passagem da nossa história que se mantém atual e, diretamente ou não, influência a vida de quem nem ao menos passa pelos caminhos que levam ao topo das favelas, onde o Comando Vermelho impera. Além disso, ele comemora o acréscimo de mais um grande papel.
“Fazer mais um personagem real? Completei seis personagens reais agora na carreira. É uma grande coincidência, claro, mas isso me interessou muito. Achei uma onda ótima”, afirmou.
Com tanto prestigio, vale ressaltar que Daniel foi a aposta de Caco para destacar a produção. Entretanto, a idéia de poder levar as pessoas ao cinema por meio de seu nome, parece não agradar muito o ator de 33 anos. “Minha figura não pode levar as pessoas ao cinema. Ele [o cinema] precisa andar sozinho. O público tem que comparecer independente disso”, disse.
(Karen Lemos - Famosidades / Portal MSN)
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