quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Deputados não têm poder para questionar o STF na polêmica sobre o aborto

Mulheres fazem protesto no Rio de Janeiro pela legalização do aborto (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Durante a votação do pacote anticorrupção na Câmara dos Deputados, que teve início na noite de terça-feira e se estendeu até a madrugada desta quarta, parlamentares que principalmente compõe a bancada evangélica da Casa se manifestaram contra a decisão do STF, que entendeu não ser crime o aborto nos três primeiros meses de gestação.

Diante da pressão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou a criação de uma comissão especial que irá analisar o entendimento da Suprema Corte.

Ao Portal da Band, a especialista em Direito Médico Maria Luiza Gorga, do Braga Martins Advogados, esclareceu que nem a comissão e nem os parlamentares têm poder para que a decisão do Legislativo se sobreponha a do Judiciário.

“O que deve ser feito [na comissão] é a apresentação de uma emenda constitucional para conferir esse poder a eles”, explica. Tal emenda, contudo, seria inconstitucional, esclarece ainda a advogada.

Tentativas anteriores


Tentativas de interferência do Poder Legislativo no Poder Judiciário aconteceram ao menos em dois episódios recentes com a PEC 3 e a PEC 33. A primeira garantia aos parlamentares o direito de sustar atos normativos de outros poderes; já a segunda limitava os poderes do Supremo Tribunal Federal ao submeter suas decisões ao Congresso. Ambas as propostas foram arquivadas.

Resposta ao eleitorado

Assim como nas ocasiões anteriores aqui citadas, emendas do tipo surgem sempre que o Supremo diz algo que o Legislativo não gosta. O novo episódio desta semana revela, além do mais, o retrato da Câmara em sua composição atual: mais conservadora e com uma bancada evangélica forte.

Não é surpresa alguma, à vista disso, que um tema como o aborto tenha provocado tanto os ânimos dos deputados.

Nesse sentido, a comissão criada para analisar a decisão do STF surge também como uma resposta ao eleitorado mais conservador, que contribuiu para a construção do Congresso Nacional como conhecemos hoje.

“Essa tentativa de interferência entre poderes é péssima, portanto, porque mostra que os deputados não se importam de fato com a Constituição e legislam em causa própria”, destaca Maria Luiza Gorga.

Direitos previstos na Constituição

A especialista ressalta ainda que a atuação do Supremo - ao decidir pela descriminalização do aborto nos três primeiros meses de gravidez - está em linha com o que a Constituição não só permite que ele o faça, mas que também dele exige. “A decisão do STF apenas efetivou direitos já previstos na Constituição, mas cuja discussão estava largada pelo Legislativo.”

“Em síntese, entendeu-se que a conduta pode ser relativizada pelo contexto social da gestante, mesmo que o Código Penal Brasileiro proíba expressamente o aborto. Isto porque, sabidamente, o Brasil é um país desigual, que seleciona apenas um extrato social para sofrer os impactos do aborto clandestino - sejam essas consequências sociais, penais, ou mesmo risco de morte”, acrescentou.

Por fim, é importante esclarecer que a decisão não significa a descriminalização do aborto no Brasil. “Deve-se analisar, de forma cautelosa, a evolução jurisprudencial e legislativa da questão, até que haja algum posicionamento definitivo”, pontua a advogada.

Entenda

O entendimento da primeira turma do STF é válido para um caso concreto que foi julgado na terça-feira. A decisão veio com base no voto do ministro Luís Roberto Barroso, que considerou que a criminalização do aborto, naquele caso, viola os direitos da mulher, à sua autonomia de escolha e também à sua integridade física e psíquica.

Barroso ainda pontuou que a criminalização não acontece em países desenvolvidos como Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido, por exemplo.

“Em verdade, a criminalização confere uma proteção deficiente aos direitos sexuais e reprodutivos, à autonomia, à integridade psíquica e física, e à saúde da mulher, com reflexos sobre a igualdade de gênero e impacto desproporcional sobre as mulheres mais pobres. Além disso, criminalizar a mulher que deseja abortar gera custos sociais e para o sistema de saúde, que decorrem da necessidade de a mulher se submeter a procedimentos inseguros, com aumento da morbidade e da letalidade”, afirmou.

O ministro considerou, consequentemente, a criminalização do aborto em casos nos quais a interrupção da gravidez ocorre após o primeiro trimestre da gestação. “Durante esse período, o córtex cerebral – que permite que o feto desenvolva sentimentos e racionalidade – ainda não foi formado, nem há qualquer potencialidade de vida fora do útero materno”, concluiu.

(Karen Lemos - Portal da Band)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Grupo considerado ilegal na Alemanha já atuou no Brasil

Ibrahim Abou-Nagie, que fundou o grupo, aparece em uma distribuição do Alcorão em Florianópolis (Foto: Reprodução/Facebook)

A organização islâmica A Religião Verdadeira (Die Wahre Religion, em alemão) realizou ações pelas ruas de Florianópolis, em Santa Catarina, desde junho deste ano. Este mês, o grupo foi considerado ilegal pelo governo alemão, que o acusa de ter ligações com o terrorismo.

Além de Florianópolis, cidades da Europa como Londres, Paris, Istambul, Pula (Croácia) e diversos municípios da Alemanha, Áustria e Suíça já receberam ações do grupo, que costuma a distribuir cópias do Alcorão – o livro sagrado do Islã.

Apesar das atividades inofensivas, autoridades alemãs acreditam que ao menos 140 militantes foram recrutados através d'A Religião Verdadeira pelo Estado Islâmico para lutar na guerra civil da Síria.

Na página que a organização mantém no Facebook, é possível ver fotos e vídeos das ações. Uma publicação de 17 de junho deste ano mostra uma van carregada de cópias do Alcorão com a legenda originalmente em árabe “chegando às ruas do Brasil”.

Reprodução/Facebook

Há, ainda, vários registros de distribuição de Alcorão nas imediações do calçadão da Felipe Schmidt, no centro da capital catarinense.

Fundação

O grupo foi fundado em 2005 por Ibrahim Abou-Nagie, um imigrante palestino naturalizado alemão. Em 2011, ele foi investigado na Alemanha por publicar mensagens na internet convocando a violência contra infiéis. Segundo reportagem da Deutsche Welle, Abou-Nagie esteve em julho no Brasil e participou de uma distribuição do livro.

A Religião Verdadeira é um grupo salafista - um movimento fundamentalista dentro do islamismo sunita. O salafismo, porém, não é uma corrente majoritária do Islã e têm diversas frentes, algumas que pregam a violência através da política e outras que restringem sua visão do Islã à vida particular.

Depois da decisão do governo alemão, que proibiu ações da organização no país, o grupo se manifestou a respeito do assunto nas redes sociais: “só porque alguns poucos membros de nossa organização viajaram para a Síria e juntaram-se ao Estado Islâmico, não quer dizer você pode banir a organização inteira”.

O Portal da Band tentou entrar em contato com o grupo, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria. A reportagem também falou com a Polícia Federal para saber se a organização é monitorada no Brasil; por questões de segurança, o órgão, porém, não se pronuncia sobre assuntos envolvendo inteligência nacional.

Visão distorcida do Islã

Para Arlene Clemesha, professora de história e cultura árabe da Universidade de São Paulo (USP), grupos radicais como supostamente é A Religião Verdadeira reforçam a tendência de equiparar todo muçulmano a terrorista.

“Quando um grupo desses comete um atentado, sua simples existência ou a repercussão dessa existência parece justificar a ideia já criada de equivalência entre muçulmanos e o terrorismo, sendo que, dadas as proporções, os radicais representam um número ínfimo quando comparados com os cerca de 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo”, pontua em entrevista ao Portal da Band.

Clemesha ressalta ainda que a interpretação salafista está distante do que realmente prega o Islã. “É muito pelo contrário; o Islã, como a maioria das religiões, tem uma mensagem de paz dentro do seu livro sagrado, da atuação das pessoas; em suma, o Islã não prega a violência, mas uma interpretação radical salafista pode pregar o uso da violência para atingir os seus objetivos.”

(Karen - Portal da Band)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Desaposentados podem ter prejuízos após decisão do Supremo Tribunal Federal

Especialista recomenda que beneficiários aguardem a publicação da decisão antes de recorrerem (Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini)

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar inconstitucional a desaposentação traz prejuízos a todos os aposentados que continuam trabalhando, avalia o especialista em direito previdenciário André Luis Domingues Torres.

Para o advogado, a Corte “não cumpriu seu papel de guardiã da Constituição e dos direitos sociais”. “A real situação dos brasileiros é que não se consegue sobreviver só com a aposentadoria. Por essa razão, recorre-se a uma complementação de renda que vem através da desaposentação”, explica ao Portal da Band.

O recurso nada mais é do que continuar trabalhando mesmo após ter dado entrada na aposentadoria. O aposentado continua contribuindo para a Previdência Social e, quando o benefício for mais vantajoso, ele pede um novo cálculo que levará em conta a idade e o tempo de contribuição.

Com a decisão do Supremo, porém, essa contribuição acaba não sendo mais tão conveniente. “Na verdade, deixa de ser uma contribuição e passa a ser mais um tributo que o brasileiro vai pagar”, elucida Torres. “O entendimento que a Corte teve é que essa colaboração é para a coletividade, isto é, quem trabalha, contribui para quem está aposentado.”

Meu benefício pode ser reduzido?

O novo cálculo de aposentadoria era feito, até então, através de liminares. O julgamento do STF fez com que essas liminares perdessem a sua validade, o que pode trazer arrependimentos para quem optou pela desaposentação.

“Essa pessoa pode voltar para a renda inicial que ela recebia quando propôs a ação de desaposentação”, explica o advogado. Por exemplo, um aposentado que recebia R$ 2 mil, e passou a receber R$ 4 mil com a revisão do benefício, deve voltar a embolsar somente a metade do dinheiro.

Isso só poderá acontecer, no entanto, quando a decisão do STF for publicada, o que deve ocorrer a partir de janeiro do ano que vem.

Após essa data, serão apresentados ainda os embargos de declaração, para solucionar pontos não esclarecidos. A presidente da Suprema Corte, a ministra Cármen Lúcia, afirmou que as decisões serão tomadas "caso a caso".

Preciso devolver o valor da segunda aposentadoria?

Se o cenário parece ruim, pode ainda piorar. A advogada-geral da União Grace Mendonça já sinalizou que o governo estudará se os desaposentados devem devolver os valores que receberam com a nova aposentadoria.

Torres não acredita que isso seja improvável, já que a decisão do STF “abriu as portas” para essa possibilidade. “No nosso entendimento, essa verba é de caráter alimentar, ou seja, não há a necessidade da devolução. Mas, se o STF se posicionar de forma contrária a isso, [o aposentado] vai ter que devolver [o dinheiro]”.

Ainda será decidido como essa cobrança – caso ela aconteça – será feita. Segundo o advogado, há várias formas de isso ser feito, que vão desde a cobrança no montante da aposentadoria até de forma administrativa, que desconta até 30% do benefício.

Voltamos ao exemplo do aposentado que, com a decisão do STF, pode voltar a receber R$ 2 mil. Mesmo com a pensão reduzida, ele ainda será cobrado em até 30% - no modelo administrativo – se o governo decidir que ele deve restituir os valores da segunda aposentadoria.

O que fazer agora?

Independente das futuras decisões do judiciário, uma coisa é certa: não existe a possibilidade de parar com a contribuição. “Quem tem carteira assinada é um segurado obrigatório, isso quer dizer que é exigido que ele contribua para a Previdência. Só uma legislação nesse sentido poderia mudar esse cenário”, explica o sócio do Crivelli Advogados Associados.

Torres recomenda ainda para os leitores que estão nessa situação que esperem a publicação da decisão do STF e a análise dos embargos de declaração antes de entrar com recurso. “É preciso também aguardar que os processos que já estão em andamento terminem nas instâncias em que estiverem. Depois disso, um advogado vai avaliar a melhor estratégia jurídica para o seu caso.”

(Karen Lemos - Portal da Band)

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Coletivos estudantis querem formar profissionais que saibam lidar com a diversidade

Cézar, Vitor, Deivid e Leonardo são da geração de estudantes que quer mais visibilidade às minorias (Foto: Portal da Band)

Receber a alcunha de “destruidores da tradição da universidade” diz muito sobre a necessidade dos grupos de militância dentro dos espaços acadêmicos. Ainda mais quando a “tradição” está relacionada à exclusão social, piadas preconceituosas e ações de violência, como as que são vistas em tradicionais festas universitárias ou nos batismos dos calouros.

“Criamos um coletivo porque queríamos que os bichos [como também são chamados os calouros] fossem recepcionados melhor do que nós fomos”, explica Leonardo Alvim, do Coletivo de Diversidade do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).

Um dos participantes da segunda edição da Semana da Diversidade da Escola Politécnica, o estudante de licenciatura lembrou as festas de batismo do curso, na qual muitos calouros recebiam apelidos humilhantes ou pejorativos e tinham que correr, dentro de sacos de batata, e mergulhar em uma caixa cheia de água para “formalizar” o ingresso no curso. 

Os grupos de militância, em sua opinião, contribuem para a formação de um ambiente mais agradável, principalmente para as minorias.

O evento foi organizado pela Frente PoliPride, outro coletivo voltado para a comunidade LGBT, que atua dentro de um cursos mais tradicionais da USP. “Nossa intenção é também quebrar o estereótipo da engenharia como um curso para homens, heterossexuais e cisgêneros (quem se reconhece com o gênero designado no nascimento). Somos muito mais do que isso”, descreve Cezar Vieira, estudante da Escola Politécnica e membro da PoliPride.

Além dos muros da universidade

A visibilidade que toda a militância traz dentro de um ambiente acadêmico é tão importante quanto a que é aplicada fora dos muros da universidade. Para Deivid Déda, do Coletivo da Faculdade de Medicina da USP (Mosaico), ter conhecimento e respeito pela diversidade vai muito além de aceitar um beijo gay em uma festa tradicional do curso.

“É entender que o LGBT existe e que tem uma saúde a ser tratada”, exemplifica. “Nas aulas, sempre falamos de medicina em termos heteronormativos e a saúde da mulher é totalmente voltada para a reprodução. Mas e a saúde dos transexuais? E a saúde da mulher lésbica? Os médicos mal sabem orientá-las sobre como se protegerem na hora do sexo.”

Vitor Piazzarollo, do Coletivo LGBT da Faculdade de Direito (SanFran), partilha da mesma opinião. “Estamos formando advogados e juízes que vão trabalhar, por exemplo, com a resignação de nomes sociais para transexuais. É um processo difícil, a lei é vaga nesses casos, então vai muito de acordo com as convicções do juiz. Um juiz que teve mais contato com essas pessoas em um ambiente acadêmico tende a ter mais cuidado com elas; não as deixam desamparadas”, pontua Vitor, que cita o grupo de estudos sobre auxílio jurídico para trans, que o coletivo criou dentro do curso, como uma ferramenta que transforma o olhar que se tem dessa população.

Ajuda mútua entre coletivos

Há cerca de 10 anos, um gay assumido na faculdade era a grande piada do curso. De 2012 para cá, essa realidade está cada vez mais distante com o surgimento de inúmeros grupos que discutem as políticas afirmativas para negros, mulheres, LGBTs, entre outros. Com isso, esse debate avançou muito – e em pouco tempo.

Uma das razões do êxito desses coletivos é que eles mutuamente se apoiam e se ajudam. “Partilhamos de uma espécie de realidade conjunta. Todos nós temos a luta pela igualdade em comum”, diz Cézar, da Frente PoliPride.

“Teve um caso de estupro no Instituto de Química no qual nós, que representamos também o curso da engenharia química, ajudamos a desenvolver ações em repudio ao estupro por lá”, detalhou.

Reflexo na sociedade

Para Cézar, a universidade pública reflete em alguns pontos o que somos enquanto sociedade. “Muita gente chega aqui vindo de comunidades ou escolas conservadoras. Aqui, elas têm a oportunidade do primeiro contato com a diversidade.”

“Por isso é tão necessário ter esse esforço de trazer para cá um debate que é negligenciado lá fora”, observa o estudante de medicina Deivid Déda. “Precisamos pensar nos problemas tanto em nossa realidade social quanto na profissional.”

Vitor Piazzarollo ressalta que, mesmo quem não está inserido na comunidade LGBT, pode ter uma influência na vida dessas pessoas. “E prejudicá-las, se tomarmos decisões carregadas de preconceitos. Cito como exemplo a lei do divórcio. Até pouco tempo atrás, a mulher precisava provar que sua honra estava sendo ferida para que o divórcio fosse aceito. Hoje, com o debate feminista em voga, a lei foi alterada.”

As mudanças que transformam a própria sociedade também começam a ser notadas no campo acadêmico. “Antes, se dois homens se beijassem em uma festa universitária, eles levavam latas de cerveja na cabeça, empurrões ou até socos. Isso acontece menos agora porque existe a resistência da militância. Também vejo isso acontecendo com as mulheres, que não aceitam mais o assédio dentro das universidades”, pontua o estudante de direito.

A militância não precisa partir somente dos grupos organizados em torno de uma causa. “É possível fazer sua parte mantendo o respeito e, se possível, repreendendo preconceitos”, aconselha Cezar Vieira, que também menciona a aceitação de grupos minoritários em ciclos de convivência, como o estudantil. “Não dá para falar de diversidade na universidade sem que essas pessoas estejam, de fato, presentes na universidade”, enfatiza o aluno da Escola Politécnica, que não deixa de destacar a importância das cotas e dos programas de ingresso ao ensino superior, como o Fies, ProUni, Sisu, entre outros.

(Karen Lemos - Portal da Band)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Hillary e Trump discordam sobre temas essenciais para os EUA no terceiro debate presidencial


Os candidatos à presidência dos Estados Unidos, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump, se encontraram pela terceira e última vez na Universidade de Nevada, em Las Vegas, no debate desta quarta-feira (19). Sem apertarem as mãos no início do encontro, eles se atacaram por diversas vezes ao comentarem temas importantes para o país, como a questão da imigração.

O plano já conhecido de Trump em levantar um muro separando o país do México, a fim de evitar o ingresso de imigrantes ilegais, foi questionado. “Precisamos ter fronteiras sólidas; temos milhares entrando aqui com drogas na maior facilidade. Os policiais de fronteira querem fronteiras mais firmes. Precisamos desse muro. Há muitos ‘hombres’ [homens, em espanhol] ruins aqui e serão expulsos”, afirmou o magnata.

Já Hillary citou uma mulher que ela conheceu cuja preocupação é que seus pais, mexicanos, sejam deportados. “Essas pessoas trabalham duro, fazem de tudo para ter uma boa vida e eu não quero dividir famílias. Meu plano inclui uma gestão nas fronteiras e deportar pessoas que são violentas. Somos uma nação de imigrantes e de lei, podemos agir de acordo com isso.”

A democrata falou ainda que pretende tirar os ilegais das sombras e colocá-los na economia do país. Por fim, ela provocou o adversário. “O Donald sabe disso muito bem porque ele usou imigrantes ilegais para construir a Trump Tower; não vamos deixar os empregadores explorarem os imigrantes ilegais como ele fez.”

Trump desconversa sobre resultado de eleição

Questionado se aceitaria ou não o resultado desta eleição nos Estados Unidos, que - segundo o republicano - está sendo articulada para favorecer sua adversária - Trump preferiu se esquivar da pergunta.

"Vou responder isso na hora. Por enquanto vou manter o suspense", afirmou, deixando em aberto a possibilidade de recusar a decisão das urnas, caso seja derrotado.

Rússia e armas nucleares


A questão de uma possível cyber-espionagem feita pela Rússia para influenciar as eleições também foi levantada no debate. Ao falarem do presidente russo Vladmir Putin, os dois se provocaram. “Putin não respeita Obama e nem Hillary”, atacou Trump. “É porque Putin prefere ter uma marionete nas mãos”, respondeu a democrata.

Trump disse ainda que o presidente russo é mais inteligente do que sua adversária, porque ele tem coragem de tomar decisões difíceis, como a que envolve as forças militares na Síria. Hillary falou então sobre armamento militar e citou as armas nucleares que o país possui. “Pensar que devemos usar essas armas só porque nós as temos, como Trump pensa, é horrível. Muitas pessoas que têm acesso aos códigos nucleares já disseram que jamais confiariam esses códigos a Trump”, afirmou Hillary.

Misoginia

Mais uma vez os escândalos de misoginia e assedio sexual envolvendo Donald Trump virou tema de discussão no debate. Trump voltou a negar as histórias. “Essas mulheres queriam seus 15 minutos de fama ou então receberam dinheiro da campanha de Hillary para me difamar. Eu nem pedi desculpas para a minha mulher, porque eu não fiz nada”, defendeu-se.

O mediador do debate chegou a questionar Hillary sobre os casos de escândalos sexuais envolvendo o marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, mas ela fugiu da pergunta e atacou o adversário. “Quando Donald negou que fez o que fez com as mulheres, ele negou dizendo que elas não eram bonitas suficientes. Ele acha que menosprezar as mulheres faz com que ele seja maior”, disse a democrata.

Estado Islâmico e Síria

Outro ponto essencial que está sendo debatido nos Estados Unidos é a questão do terrorismo envolvendo o grupo extremista Estado Islâmico e a Síria, país imerso em guerra civil. Para Trump, o ditador sírio Bashar al-Assad é “mais inteligente e rígido do que Barack Obama”. “Ele se aliou a Rússia e ao Irã, que hoje é um país poderoso. Enquanto isso, nós apoiamos os rebeldes, que nem sabemos ao certo quem são. Claro que o Assad é ruim, mas sem ele pode ficar ainda pior”, declarou o magnata.

Trump ainda culpou Hillary pela atual situação no país. “Se ela tivesse feito algo [como secretária de Estado], a situação lá poderia ser diferente. Foi ela quem causou essa onda migratória. São dezenas de milhares de refugiados sírios vindo para os EUA que, provavelmente, são aliados do Estado Islâmico. Será o maior cavalo de Troia da história.”

Já Hillary lembrou da foto do menino sírio ferido dentro de uma ambulância em Aleppo (“essa imagem me assombra até hoje”, disse) para falar do problema. “Não vou fechar as portas. Isso não resolve nossos problemas com o terrorismo. Precisamos trabalhar com os islâmicos contra a radicação. Alguns deles são norte-americanos. O atirador de Orlando nasceu no Queens, onde Trump nasceu, inclusive. É preciso deixar bem claro o que é essa ameaça e como vamos enfrentá-la”, concluiu a secretária.

Porte de armas

A segunda emenda da Constituição americana garante aos cidadãos o direito de portar arma. Hillary afirmou que entende e respeita essa tradição. “Mas creio que devemos regulamentar isso. São 33 mil pessoas que morrem todos os anos por causa de armas, muitas delas, crianças. Precisamos ter checagens mais rígidas, acabar com as lacunas que existem nessas checagens. Essa reforma não entrará em conflito com a segunda emenda”, garantiu a democrata.

Trump, por sua vez, que confirmou que recebe apoio da Associação Nacional do Rifle (NRA), disse que vai trabalhar pela defesa da segunda emenda. “Temos Chicago como exemplo. A legislação lá é das mais restritas e a violência com armas lá ocorre em maior número do que qualquer outra cidade.” 

Aborto

Os candidatos voltaram a discordar quando o assunto levantado foi o aborto, que é legalizado no país. Trump quer indicar ministros para a Suprema Corte que são contrários ao aborto. “Acho um absurdo arrancar o bebê do útero”, disse.

Hillary, porém, vai defender que essa opção seja da mulher. “É uma decisão muito pessoal e difícil que a mulher precisa tomar em termos de saúde. Nós fomos longe demais para retroceder agora. Não acho que o governo deva interferir.”

Comparações

O magnata voltou a provocar a democrata ao questioná-la sobre o que teria feito em 30 anos na política. “Você não fez nada”, criticou Trump. Hillary fez, então, uma comparação da trajetória dos dois candidatos. “Enquanto eu trabalhei com crianças negras, você foi processado por discriminação racial. Enquanto eu trabalhava a favor dos direitos humanos, você estava xingando uma miss universo. Enquanto eu trabalhei supervisionando a operação que localizou o Bin Laden, você estava dando festas.”

Trump, por fim, rebateu. “Eu estava administrando uma empresa fantástica, que lucra bilhões. Se eu tocar esse país como toquei minha empresa, esse país vai te dar muito orgulho.”

As últimas pesquisas eleitorais, divulgadas pelas CNN e NBC News, mostram Hillary na frente. Na da CNN, a democrata tem 47% das intenções de voto, e Trump, 39%; na sondagem da NBC News, feita com eleitores latinos, 67% declaram voto em Hillary, e só 17% no candidato republicano. As eleições norte-americanas acontecem no dia 8 de novembro.

(Karen Lemos - Portal da Band)

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Projeto fotográfico traz um novo olhar às favelas do Rio

Alguns lutam com outras armas, diz a legenda da fotografia que está sendo compartilhada na internet (Foto: Anderson Valentim)

Desde quinta-feira (13) uma foto impactante está circulando as redes sociais. Na imagem, moradores do Morro do Turano, na zona norte do Rio de Janeiro, seguram instrumentos musicais enquanto cobrem os rostos com as camisetas que vestem.

O registro é uma crítica à visão negativa que se tem das comunidades e também um recado sobre o quanto a arte pode ser transformadora na vida de uma pessoa.

Foi o que aconteceu com o autor da foto, Anderson Valentim. A música e a fotografia trouxeram novas perspectivas para o morador do Morro do Borel, local onde foi criado junto com a irmã pela mãe viúva e empregada doméstica.

“Se tivesse mais arte em nosso país, as coisas seriam diferentes”, relata Anderson ao Portal da Band. “Foi a arte que me salvou; graças a ela, hoje eu faço faculdade e vivo meus sonhos”, acrescenta o estudante do quarto ano da graduação de design gráfico.

Favelagrafia

Anderson é um dos fotógrafos que participam do projeto Favelagrafia, um incentivo da secretaria municipal de Cultura do Rio com patrocínio da NBS Rio+Rio. Ao todo, são nove profissionais com a tarefa de registrar nove favelas da cidade. 

“O projeto surgiu de um incômodo que diz respeito à imagem da favela. Quase sempre é uma imagem estereotipada, que envolve referências ao tráfico de drogas, às armas, a algo perigoso. Só que esse retrato não é o retrato que existe na mente das pessoas que moram nas comunidades”, conta Aline Pimenta, diretora do NBS Rio+Rio, à reportagem.

“O Favelagrafia vem desse desejo de trazer um novo olhar sobre essas comunidades”, acrescenta. “E chegamos a conclusão de que quem tem legitimidade para trazer esse novo olhar é o morador da favela”.

Na cidade brasileira com o maior percentual de pessoas que moram em favelas (cerca de 22%), os fotógrafos têm como missão registrar o dia a dia deles, as paisagens que encontram, os moradores com quem dividem a rotina. “Algo que venha com a alma junto”, resume Aline.

O trabalho de Anderson, aliás, é uma síntese desse ideal. “A foto que eu fiz foi um grito de resistência”, definiu o fotógrafo. “O que sai do morro é só coisa ruim, mas acontece que isso representa 10% do que há no morro. Os outros 90% são as histórias espetaculares que você encontra aqui; exemplos de gratidão, como minha da mãe mesmo. Graças ao esforço dela, que criou sozinha eu e minha irmã, nós conseguimos cursar uma faculdade hoje. Tem muita coisa boa no morro, através desse projeto foi possível retratar isso.”

Talento sob holofotes

Todos os participantes do Favelagrafia tiveram um workshop sobre fotografia antes de começar a trabalhar. A vocação deles, porém – ressalta Aline Pimenta – só foi aprimorada. “O olhar deles ficou mais apurado desde o início do projeto [em julho] porque eles começaram a exercitar mais a fotografia. O talento, porém, eles já tinham; o que fizemos foi só jogar um holofote em cima disso.”

As próximas etapas do projeto incluem agora uma exposição com algumas fotos selecionadas, um livro a ser publicado e um site que ainda será lançado. Tudo isso no mês de novembro. “Depois disso, o projeto vai continuar existindo”, conta Aline. “Os fotógrafos continuam livres para atuar e, futuramente, queremos auxiliá-los para que atuem como um coletivo profissional. A ideia é que eles tenham condições de trabalhar profissionalmente e viverem da fotografia.”

(Karen Lemos - Portal da Band)

domingo, 9 de outubro de 2016

Machismo, terrorismo e imigração dominam segundo debate das eleições norte-americanas


O segundo debate presidencial entre os candidatos Hillary Clinton e Donald Trump, que aconteceu neste domingo (9) na Universidade de Washington, teve um clima ainda mais tenso com a pressão em cima do republicano sobre os comentários machistas que fez em uma antiga entrevista, que veio à tona um mês antes das eleições.

O debate, que desta vez contou com perguntas dos eleitores presentes, começou com uma professora questionando o exemplo que os candidatos dariam para as crianças do país. Logo surgiu o assunto sobre as falas misóginas do republicano.

“Aquilo foi uma conversa de vestiário, privada, entre quatro paredes”, definiu Trump. “Não me orgulho disso, já pedi desculpas, mas acho que há coisas maiores e importantes acontecendo; o Estado Islâmico decapitando pessoas, guerras acontecendo, uma carnificina no mundo inteiro.”

O candidato ainda disse que sempre teve muito respeito pelas mulheres, e Hillary reagiu. “O que ouvimos Donald dizer sobre as mulheres é o que ele realmente pensa”, disse. “Vimos isso durante toda a campanha. Ele também falou contra os afro-americanos, imigrantes, latinos, pessoas deficientes, muçulmanos e tantos outros.”

Trump contra-atacou citando quatro mulheres - e inclusive levando-as para a plateia - que acusaram o marido da democrata, o ex-presidente Bill Clinton, de abuso sexual. “Jamais na história política desse país alguém foi tão agressivo com relação às mulheres”, afirmou o magnata.

Hillary não comentou as acusações, mas citou uma fala da primeira-dama Michelle Obama. “Quando eles derem um golpe baixo, você vai por cima”, disse, arrancando aplausos, e acrescentando que não é apenas um vídeo que paira sobre a campanha de Trump.

“Ele não pede desculpas a ninguém que ofende. Não pediu desculpas à família de Khizr Khan (militar muçulmano morto no Iraque), não pediu desculpas ao juiz federal de Indiana que ele afirmou não ser confiável por ser mexicano, nem à repórter que ele envergonhou em plena rede nacional e nem a Obama, de quem duvidou ter nascido nos Estados Unidos”, completou Hillary.


Terrorismo e crise migratória

Uma eleitora quis saber a opinião dos candidatos sobre o preconceito com os muçulmanos. Para Trump, a islamofobia existe e é um grande problema no país. “Gostando ou não, esse problema existe”, declarou. “Eu quero ter certeza de que os muçulmanos denunciem [casos de terrorismo]; Há sempre uma razão para tudo e, se os muçulmanos não fizerem denúncias, vai ficar difícil”.

Clinton, por sua vez, lamentou o que chamou de “comentários que dividem” o país e citou Muhammad Ali como exemplo de verdadeiro muçulmano. “Minha visão para os EUA é de que todos tenham um lugar para poder trabalhar duro e contribuir para a comunidade. Entrar nessa demagogia de Trump é ser míope diante do problema; precisamos dos muçulmanos para trabalhar contra o terrorismo; eu quero derrotar o Estado Islâmico em uma coalização com países muçulmanos. Não estamos em guerra contra o Islã; as falas de Trump, aliás, favorecem os terroristas”, comentou Hillary.

Uma das jornalistas que mediava o debate perguntou, então, ao magnata sobre sua política de proibir a entrada de muçulmanos no país. “Ninguém sabe quem eles são”, respondeu o republicano. “Obama quer aumentar a entrada deles nos EUA, será o maior cavalo de Troia da história. Não quero centenas de milhares de pessoas da Síria que não conheço e não sei se gostam ou não do meu país. Temos muito imigrantes ilegais criminosos aqui. Hillary não quer fazer isso, mas eu vou deportar todos eles.”

Hillary lembrou da foto do menino de quatro anos ferido após um bombardeio em Aleppo. “Existem crianças sofrendo com essa guerra. Não estamos carregando a carga que a Europa está carregando. Faremos uma triagem dura, mas é importante ter uma política que não proíba as pessoas por causa da religião delas.”

E-mails e wikileaks

Trump aproveitou escândalos envolvendo Hillary para atacá-la. O republicano disse que a adversária também deve desculpas e explicações sobre os 33 mil e-mails que ela apagou quando era secretária de Estado e falou que vai empossar um ministro da Justiça especialmente para o caso dela, caso seja eleito presidente.

“Foi um erro ter usado uma conta pessoal de e-mail [para o trabalho], eu não faria isso de novo, peço desculpas. Quero lembrar, porém, que em um ano de investigação, não encontraram nenhuma informação sigilosa que possa ter parado em mãos erradas. Agora, é bom saber que um temperamento como o seu não está à frente da nossa lei”, respondeu Hillary ao republicano. Trump provocou e disse que, se isso fosse a realidade, ela estaria presa.

Outro escândalo foi o vazamento do Wikileaks sobre discursos pagos da democrata. A candidata falou que as informações estão descontextualizadas e alertou para a série de hackeamentos feito pela Rússia com a intenção, segundo ela, de influenciar as eleições a favor de Trump. “Talvez porque Trump concorde com as coisas que Putin [presidente russo] faz ou porque quer fazer negócios em Moscou; eu realmente não sei.”

Respeito

No primeiro debate, Trump e Hillary apertaram as mãos no início e no final do encontro. Desta vez, não houve cumprimentos, apenas um mais contido no encerramento do debate.

O claro aumento de tensão entre os dois foi notado pelos eleitores. Um deles pediu até para que os candidatos falassem algo que fosse “respeitoso” um ao outro, o que gerou risos na plateia.

Respondendo primeiro, Hillary afirmou que admira muito os filhos de Trump. “Eles são hábeis e comprometidos, um reflexo de Donald. Posso não concordar com muita coisa que ele diz, mas respeito esse fato.”

Já Trump afirmou que não concorda com os objetivos pelos quais a democrata luta, mas que ela é uma “lutadora que não desiste nunca”. “É uma ótima característica”, definiu. “E agradeço o elogio aos meus filhos, não sei se foi sincero, mas tenho muito orgulho deles.”

Análise

Para a ex-correspondente nos Estados Unidos Patrícia Campos Mello, Trump conseguiu se salvar dos escândalos que o aguardavam neste debate. “Acho que ele foi suficiente para não acabar com a própria campanha. Ele não mostrou arrependimento e ainda dobrou a aposta, discutindo coisas importantes para os eleitores dele.”

O jornalista norte-americano Matthew Shirts concordou. “Foi surpreendente. O Trump se saiu melhor do que no outro debate. Em relação à Hillary, acho que houve um empate.”

Por fim, Solange Reis, coordenadora do observatório político dos EUA, analisou que Trump teve um bom começo de debate, mas depois derrapou. “Ele estava terrivelmente despreparado para assuntos que ele não tem conhecimento, como política externa.”

(Karen Lemos - Portal da Band)

sábado, 8 de outubro de 2016

Cidade goiana elegeu um vereador, mas terá cinco

O mandato coletivo da esquerda para a direita: professor Sat, Laryssa Galantini, Ivan Anjo Diniz, João Yuji e Luís Paulo Nunes (Foto: Divulgação)

Nas eleições municipais de 2016, mais de 25 milhões de eleitores brasileiros se abstiveram de registrar seu voto em todo o País. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram ainda que os votos brancos, nulos e ausências nas urnas “venceram” o primeiro turno para a prefeitura de dez capitais, sendo que no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte esse número foi maior do que os votos obtidos pelos dois candidatos que, agora, disputam o segundo turno.

A insatisfação diante da velha política no Brasil também incomodou alguns candidatos que disputaram o pleito deste ano. Entusiasta da política desde criança, e contagiado com o apelo por mudanças que despontou nas manifestações de junho de 2013, quando morou em São Paulo, João Yuji retornou para Alto Paraíso, em Goiás, querendo sugerir algo novo.

A partir de 2014, ele começou a desenvolver um formato para um mandato coletivo, convidando pessoas de diferentes expertises para dividirem as tarefas e atender as demandas do município. “Nossa ideia é descentralizar o poder legislativo. É uma articulação em longo prazo, que, das câmaras municipais, queremos levar até o Congresso Nacional”, explica João ao Portal da Band.

Na cidade com cerca de quatro mil votantes, a ideia agradou, e João – candidato formalmente registrado – venceu as eleições pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), apresentando uma proposta diferente.

Junto com João, que cuidará da parte jurídica, trabalham no mandato Ivan Anjo Diniz (cultura), Laryssa Galantini (ambiente), Luís Paulo Nunes (turismo e comércio) e professor Sat (educação). “Estamos buscando ainda alguém que trabalhe na área da saúde”, disse Yuji.

Salário e novos membros

A novidade levantou algumas dúvidas em Alto Paraíso. Alguns questionaram como o grupo faria com relação ao salário que o mandato de um homem só receberia. Para isso, o coletivo registrou em cartório um acordo e o divulgou para os eleitores. O artigo 12 do acordo diz, por exemplo, que o subsídio do vereador “será de propriedade do coletivo, que somente poderá aplicar tais valores em assuntos de interesse comum do Município”.

Ou seja, o honorário de R$ 5 mil que um vereador da cidade recebe será destinado ao munícipio. “Todos do grupo vão trabalhar de forma voluntária. Toda vez que chegar o dinheiro do mês, vamos nos reunir e discutir de que forma ele será aplicado. É por isso que, quem quiser entrar no grupo, precisa realmente querer e assinar esse acordo”, explica João.

Sim, o mandato está aberto para adesão de novos membros, mas, para tanto, é preciso passar por um período de experiência e conseguir uma aprovação unânime. “Se uma pessoa do grupo não concordar com a entrada de uma nova pessoa, está vetado”, acrescenta o vereador eleito.

Existe ainda a possibilidade de expulsão, se assim o grupo desejar. João conta ainda que, embora as decisões sejam do coletivo, a opinião do eleitorado vai pesar. “Nossa ideia é estar perto do eleitorado, queremos que ele esteja lá conosco nas sessões da Câmara, mostre suas demandas e se aproxime; o nosso trabalho tem que ser feito com transparência.”

Uma política nova (e menos partidária)

Primeiro a abraçar a causa e a integrar o mandato coletivo, o turismólogo Ivan Anjo Diniz não é filiado a nenhum partido político; nem ele, e nem os outros membros do mandato – com exceção de João, claro, que precisava de uma legenda para se lançar candidato. “Não acreditamos muito nesse sistema que está aí. A ideia do mandato coletivo é suprapartidária e reúne pessoas de diferentes ideologias”, detalha.

Uma das coisas que atraiu Ivan para o projeto, além desse compromisso mais político, porém menos partidiário, foi a ideia de priorizar o comunitário, deixando de lado o “ego” e a “personalização” no Legislativo. O turismólogo acredita que as abstenções cada vez maiores nas eleições mostram que a política não pode estacionar.

 “A Câmara [Municipal de Alto Paraíso] era bem conservadora antes, agora tem mais jovens lá querendo fazer algo novo ali, abertos para propostas, com interesse em ajudar. Acho que estamos construindo um novo momento político”, disse ao Portal da Band.

Dos nove vereadores que lá trabalham, apenas um permanece após as eleições de 2016. “Isso mostra que a própria população buscou essa renovação. Ninguém aguentava mais continuar como estava.”

Ações e projetos

Antes mesmo de assumir o mandato em 2017, o coletivo já começa, em 18 de dezembro, a realizar mutirões por Alto Paraíso para agradecer os votos que recebeu. Os mutirões vão, inclusive, continuar acontecendo a partir do ano que vem para que se verifiquem as demandas – como limpeza e reformas – de cada bairro da cidade.

Outra preocupação do grupo é como a questão da segurança é vista pelo olhar político. “O nosso viés não é policialesco. Quando pensamos em segurança, temos que pensar em trabalhar com a infância e a juventude e na criação de oportunidades”, exemplificou Ivan.

Outras áreas de atenção serão educação, cultura, turismo, saúde e a veia mais forte do coletivo, o meio ambiente. “Com o dinheiro que vamos receber através do mandato do João queremos, por exemplo, investir nas nascentes no entorno da cidade, fazer uma brigada voluntária na época do fogo e atuar com educação ambiental em diversos problemas que temos na cidade”, conta a bióloga Laryssa Galantini à reportagem.

“Por sermos um grupo muito unido, acredito que conseguiremos alcançar nossos objetivos com a comunidade local, bem como formar uma rede com interessados em fazer outros mandatos coletivos com o nosso modelo em outros municípios”, completou a bióloga, que define as expectativas para o início do mandato como as melhores possíveis.

“O apoio que estamos recebendo não só dos moradores de Alto Paraíso, mas também do Brasil todo, tem nos fortalecido muito, nos motivado cada dia mais a trabalhar voluntariamente e a acreditar que estamos no caminho certo”, finaliza Laryssa.

(Karen Lemos - Portal da Band)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Hillary e Trump se atacam em primeiro debate


Candidatos à presidência dos Estados Unidos, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump se enfrentaram no primeiro debate eleitoral na noite desta segunda-feira (26). O encontro, o primeiro de três debates previstos antes das eleições em 8 de novembro, aconteceu na Hofstra University, estado de Nova York.

Trump chegou a dizer que Hillary não teria “cara de presidente”, o que foi considerado um comentário sexista pela democrata. “Ela não parece ser presidente mesmo; não tem a raça, a força para ser uma. É preciso ter condições de negociar acordos comerciais. Ela pode ter experiência, mas é ruim nisso.”

Hillary rebateu. “Este homem já chamou mulheres de porcas, inferiores aos homens, disse que gravidez é algo inconveniente e que mulheres não devem receber remuneração igualitária. Depois que você viajar por 112 países, negociando acordos de paz e de cessar-fogo, ou ficar 11 horas testemunhando para uma comissão, nós podemos discutir sobre força aqui”, disse, arrancando alguns aplausos, ao referir-se à sua experiência como secretária de Estado e ao escândalo dos e-mails do qual precisou justificar-se.

Racismo
 

Temas em voga, como a economia do país, racismo e o combate ao terrorismo dominaram o debate e levaram, por diversas vezes, os candidatos a se estranharem. A questão racial, por exemplo, levantou novamente a polêmica com relação à nacionalidade do atual presidente, Barack Obama.

Trump, que insiste que o democrata nasceu no Quênia, tentou justificar sua tese, mas o próprio mediador do debate assegurou que a certidão de nascimento de Obama garante que ele é cidadão norte-americano. O republicano disse ainda que é preciso restabelecer a lei e a ordem nos EUA. “Em algumas regiões do país, você anda na rua e leva um tiro. Precisamos tirar as armas das mãos dos imigrantes ilegais, que estão atirando nas pessoas; isso não é discriminação, essas pessoas são do mal, é preciso atuação da polícia.”

Hillary falou que existe preconceito em vários segmentos da sociedade e que é preciso restaurar a confiança entre a polícia e as comunidades, visto os altos índices de morte de jovens negros por policiais brancos. “Vou trabalhar para que os policiais sejam bem treinados, preparados para usar a força só quando necessário e tirar armas das mãos das pessoas que não deveriam portá-las. Temos que atacar essa praga que é a violência das armas.”

Estado Islâmico

A segurança nacional ainda é uma grande preocupação para o eleitor norte-americano. Trump afirmou que o Estado Islâmico não existiria se todo o petróleo fosse tirado da região, já que isso é um dos pilares de sustentação do grupo extremista. Ele também criticou a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que formou coligação para combater os jihadistas. “Nós pagamos 73% da OTAN. Eles que deveriam nos pagar para protegê-los.”

Hillary respondeu que a OTAN enfrenta uma ameaça terrorista que não se apresenta só nos EUA, mas no mundo todo. A democrata disse também que é preciso trabalhar junto a comunidade islâmica, e não atacá-la como, segundo ela, Trump faz de forma temperamental. “Meu ponto positivo é meu temperamento. Eu sei vencer, Hillary não”, rebateu o magnata, arrancando alguns risos da plateia.

Empregos e impostos
 

Recém-saído de uma crise econômica, os Estados Unidos preocupam-se com o futuro financeiro do país. Ao debaterem o tema, Hillary e Trump se alfinetaram. O plano do empresário é cortar de 35% para 15% a tributação de empresas no país. Dessa forma, de acordo com Trump, as empresas vão querer ficar e gerar empregos nos EUA.

Hillary acredita, porém, que priorizar os ricos foi o que mergulhou o país na crise. “A economia não cresce com o método Trump de distribuir riquezas”, alfinetou. “Trump teve sorte na vida - bom para ele - mas não acredito que ajudar os mais ricos é melhor para todos. Precisamos fortalecer a classe média.”

A discussão esquentou quando Donald foi questionado sobre a declaração de seu imposto de renda que nunca apresentou – os candidatos devem apresentar o documento ao se lançarem na disputa à presidência. “Por que ele não divulga? Tenho um palpite, talvez ele não pague os impostos federais como deve”, provocou Hillary. A democrata ainda lembrou relatos de ex-funcionários do empresário que alegam não ter sido pagos. “Talvez o trabalho deles não tenha sido bom”, respondeu o republicano.

Análise

Na análise de especialistas ouvidos pelo BandNews TV, que transmitiu o debate norte-americano, Hillary surpreendeu, conseguiu tirar seu adversário do sério, enquanto Trump derrapou e se mostrou nervoso demais.

Para a professora Fernanda Magnotta, a democrata precisava – e conseguiu - mostrar simpatia, e o eleitor necessitava ver o lado “presidenciável” de Trump, mas não foi isso o que o magnata apresentou.

“A Hillary reverteu o cenário e se mostrou simpática. O Trump, que por diversas vezes tentou provocá-la, foi quem acabou ficando nervoso”, analisou Raul Juste Lores, que já foi correspondente em Washington.

Para o jornalista norte-americano Matthew Shirts, Hillary superou as expectativas. “Ela demonstrou controle, parecia que era dona da situação. Não acho que foi um nocaute [em cima de Trump], mas ela marcou muitos gols.”

(Karen Lemos - Portal da Band)

sábado, 3 de setembro de 2016

Era digital amplia contato entre candidato e eleitor


Desde os tempos da já extinta rede social Orkut, que existiu até 2014, a advogada e ativista social Michely Coutinho já notava a importância que uma ferramenta como aquela poderia agregar para suas funções.

Em 2016, multiplicou o número de possibilidades em que usuários da internet podem interagir entre si. Para Coutinho, o momento não poderia ser melhor. Neste ano, ela lança pela primeira vez uma candidatura à carreira política e, se não fosse pelos avanços da era digital, as dificuldades de divulgar sua campanha, suas propostas e chegar até seu eleitor seriam imensas. “Utilizar as redes sociais sai muito mais barato - praticamente a custo zero - e é bem mais eficiente”, explica em conversa com o Portal da Band.

Candidata à vereadora pelo Partido dos Trabalhadores em Goiânia, Michely quer trabalhar com políticas públicas voltadas para a mulher e precisa, para ser eleita, ser conhecida pelo eleitor que também quer propostas em prol das mulheres sendo discutidas da Câmara Municipal de sua cidade.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a representação feminina no Congresso Nacional não chega nem a 10%. Sem voz na política e sendo um nome novo entre candidatos, quais chances teria Michely de chegar ao seu eleitor-alvo?

“Se eu fosse divulgar minha campanha de porta em porta ou distribuir ‘santinhos’ [panfletos de papel utilizado por muitos políticos], isso seria muito difícil”, conta. “Na rua, eu consigo dialogar com um eleitor ou outro. Na internet, porém, uma publicação sobre mim pode atingir milhares de pessoas.”


Isso acontece porque muitos usuários, reunidos em nichos específicos (por exemplo, redes de amizade ou grupos ou comunidades que compartilham informações sobre o emponderamento da mulher) se comunicam. Se um amigo seu compartilhar a campanha de Michely, pronto, você passa a conhecê-la como possível candidata.

Além disso, páginas específicas na internet fazem um trabalho parecido. Citamos aqui o Vote numa feminista. Como a próprio nome diz, trata-se de um local onde usuários podem encontrar e compartilhar informações sobre candidato(a)s que vão lutar pelos direitos das mulheres na política. Foi através dessa página, aliás, que a repórter conheceu e pode conversar com Michely para escrever esta reportagem.

Mão de obra digital

Uma das maiores preocupações de um candidato à eleição é o financiamento. A grana é curta em partidos menores; se o candidato é novo de carreira, então, nem se fala. Marcio Black, que está disputando uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo pelo Rede Sustentabilidade, sabe bem disso. Com as redes sociais, entretanto, ele conseguiu contornar esse problema.

“Na internet, você cria uma rede de apoiadores, sabe? O cara que acredita na sua campanha não está a fim de doar dinheiro. Ele quer se engajar, quer fazer acontecer. Dessa forma eu consegui gente que faz um vídeo pra mim, cria roteiro, elabora uma arte visual que eu posso usar na campanha, enfim. Ninguém é funcionário meu, mas fazem parte da campanha porque acreditam nela”, comenta o produtor cultural e militante negro que já soma cerca de R$ 200 mil doados através de serviços, horas de trabalho comunitário ou produtos, como uma camiseta ou um adesivo para sua campanha.


Marcio Black, cuja candidatura pode ser encontrada no Enegreça seu voto - página para quem procura políticos com propostas voltadas para os negros - também ressalta outro ponto positivo das redes sociais: a interatividade direta com o eleitor.

“As pessoas estão olhando com muita desconfiança para a política ultimamente, mas elas sabem que precisam pesquisar bem sobre o assunto, porque isso impacta diretamente na vida delas”, afirma Marcio, que encontrou na web uma forma de se aproximar do eleitorado. “Na rede social, o cara vai ver meu vídeo, vai me conhecer, saber em quais eventos eu vou estar e em quais ele pode me conhecer pessoalmente, vai também me mandar uma mensagem, perguntar sobre uma proposta, me contar dos anseios dele enquanto eleitor; ele quer e precisa de um candidato acessível, e a internet faz muito bem esse papel.”

E depois das eleições?

Falamos da interação dos candidatos com o eleitor na campanha. E após as eleições? A sensação que muitos de nós temos é que, depois do período eleitoral, somos ‘esquecidos’ pelo político no qual votamos. Pensando nisso, alguns candidatos da era digital, acostumados a ter as redes sociais como uma grande aliada, querem utilizar a tecnologia como uma ferramenta útil caso forem eleitos.

Para exemplificar isso, citamos uma ideia que teve Todd Tomorrow, militante LGBT e candidato a vereador em São Paulo pelo PSOL. “Através do smartphone, o cidadão poderá usar um aplicativo e decidir como seu vereador vai se portar. Terão vários tipos de cadastros. Alguns cadastros darão acesso desde à fiscalização até, por exemplo, ao direito de opinar nas votações da Câmara.”


Todd, que atingiu quase 20 mil votos na candidatura a deputado estadual em 2014 - quando ainda era um rosto pouco conhecido na política, atribui esse número a uma estratégia de pulverização da campanha pelas redes sociais. Estratégia parecida foi usada pela legenda na candidatura de Luciana Genro à presidência no mesmo ano. Luciana não era favorita e pertence a um partido pequeno (o que já reduz seu tempo nas propagandas eleitorais), mesmo assim, obteve mais de 1,5 milhão de votos, ficando em quarto lugar na apuração. 

Para a comunidade LGBT, é possível conhecer candidatos como Todd na página Vote LGBT. “Além de dar visibilidade, redes como essa servem quase como um ‘selinho’ de comprometimento do candidato com uma pauta específica”, define. 

Linguagem dos memes

Alguns candidatos possuem propostas para vários segmentos e, por essa razão, podem aparecer em mais de uma página, aumentando ainda mais as chances de alcançar o eleitor. É o caso da professora Luiza Coppieters. Candidata à vereadora em São Paulo pelo PSOL, ela possui pautas para mulheres, para gays, lésbicas e  transexuais. Sua candidatura surge em diversas páginas, como o já citado Vote LGBT e também o Candidaturas Trans do Brasil, para quem procura candidatos que vão lutar por melhorias para a comunidade transexual da cidade.

Para conseguir conversar com um eleitorado tão amplo, Luiza encontra nas redes sociais outro fator positivo na relação que se estabelece entre a sociedade e a política. Ela cita como exemplo o uso da linguagem dos memes, que permite uma conversa mais clara e direta com o eleitor. “As redes sociais nos oferecem mecanismos de criatividade que podem estimular as pessoas a participarem da política, saber o que uma vereadora faz, colaborar com a elaboração de um projeto, enfim, dar oportunidade para que a população tenha sua voz ouvida”, explica.


Luiza também tem propostas para um possível mandato que envolvem tecnologia e a participação cidadã. Ela quer propor que qualquer pessoa, através de um cadastro simples na internet, tenha a oportunidade de participar de uma votação de seu interesse na Câmara Municipal. “Ela vai poder escolher o dia e a votação que quer acompanhar e terá direito a uma passagem gratuita até a Câmara”, detalha. “A gente percebe, então, que a internet é um instrumento não só para a eleição, mas também para refazer o modelo de representatividade; o legislativo não pode mais ficar distante da população.”

WhatsApp

Quando pensamos em redes sociais, logo vem à mente a mais tradicional delas, o Facebook. Tem muito candidato, porém, que está se dando melhor em outras redes de comunicação nessas eleições 2.0. Ronaldo Denardo, candidato a vereador em Santo André pelo PV, encontrou uma ferramenta mais efetiva para divulgar suas ideias que envolve uma cidade mais acessível para pessoas com deficiência.

“O caminho agora é o WhatsApp; é uma febre, todo mundo usa”, diz. “Tem muitos grupos no aplicativo que trocam inúmeras informações. Eu peço para minha rede falar sobre minha campanha nos grupos do qual eles fazem parte e dá muito certo”. A aposta na ferramenta é tanta que Ronaldo conseguiu que os últimos números de seu WhatsApp fossem, também, os números de sua candidatura.

O contato mais direto proposto pelo Facebook também é um dos recursos oferecidos pelo aplicativo. “Eu encontro alguns eleitores nas pré-campanhas que eu faço. Para não perder o contato, eu adiciono a pessoa no meu WhatsApp e, dessa forma, vou criando uma base de dados que pode ser útil não só na minha campanha, mas nas minhas propostas, já que muitas pessoas me mandam demandas pessoais pelo aplicativo”, acrescenta.


Carolina Marques, candidatada a vereadora em São Bernardo do Campo pelo PPS, também quer lutar pelas pessoas com deficiência em uma almejada carreira política. “Essa eleição será a eleição das redes sociais. É um grande recurso para falarmos com nossos eleitores já que a Justiça Eleitoral proibiu muitos materiais e reduziu o tempo da campanha eleitoral”, diz.

A candidata, aliás, tem trabalhado muito com todas as ferramentas possíveis, desde o Facebook, passando pelo Twitter e Instagram, e até mesmo o Snapchat. “A visibilidade é maior e a formação de opinião também”, observa.

(Karen Lemos - Portal da Band)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Candidatos à prefeitura de São Paulo participam de primeiro debate das Eleições 2016

Os candidatos Fernando Haddad (PT), Celso Russomanno (PRB) e Major Olimpio (SD)
(Foto: Lucas Ismael)

Celso Russomanno (PRB), Fernando Haddad (PT), João Doria (PSDB), Major Olimpio (SD) e Marta Suplicy (PMDB) participam, nesta segunda-feira (22), do primeiro debate das Eleições 2016. O encontro acontece na Band às 22h15.

Atual prefeito da cidade de São Paulo, Haddad espera críticas à sua gestão vindas de seus adversários, mas que o momento agora é de defender o legado de seu trabalho. “Críticas são naturais e serão respondidas, mas a expectativa do eleitor é que se faça propostas.”

O petista, que tenta a reeleição, diz que eventuais deslizes de sua gestão “serão reconhecidos para que possam ser corrigidos”. Questionado sobre o que mudaria caso reeleito, Haddad responde que melhoraria a comunicação; “cortei 50% dessa verba devido à crise e, com isso, veiculamos muito pouco do que a prefeitura fez para a imprensa”, explica.

Liderando com 25% nas pesquisas eleitorais, Celso Russomanno acredita que a cidade de São Paulo não pode ser pensada como uma coisa só. “A diferença entre bairros é grande. Cada bairro deve ser tratado como uma administração.”

Para o candidato, o maior problema de São Paulo, para a baixa/média renda, é a saúde; já para a média/alta renda, é a segurança pública. “Vamos atuar em todas essas áreas”, promete.

Candidata do PMDB à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy tem como desafio trazer seu antigo eleitorado com ela. A ex-petista, porém, garante que isso não será um problema. "Sou extremamente qualificada para trazer o novo à cidade", afirma.

Os candidatos João Doria (PSDB) e Marta Suplicy (PMDB). (Foto: Lucas Ismael)

Para Marta, a cidade tem grandes problemas na saúde, no transporte e na educação. “O atual prefeito [Haddad] não chegou nem perto de solucionar esses problemas.”

João Doria, candidato do PSDB na corrida eleitoral, considera a saúde, a educação e a habitação os principais problemas da cidade. “Lamentavelmente, a gestão do PT nessas áreas foi um desastre”, define. Ele quer trabalhar essas questões, além de “gerar empregos e oportunidades”.

Após declarar que faria cortes na Secretaria de Direitos Humanos, que engloba secretarias como LGBT, Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Pessoa com Deficiência, o candidato quis se explicar: “Não faremos cortes, faremos uma otimização. Não haverá prejuízos às mulheres, deficientes, negros ou nenhuma minoria; todos serão valorizados.”

Tendo servido quase 30 anos à Polícia Militar, o foco do candidato Major Olimpio será a segurança pública. “São Paulo virou uma terra sem lei, abandonada, suja, com tráfico de drogas em todos pontos da cidade por causa da omissão dos poderes; em São Paulo, o crime compensa. Caso eleito, eu darei um 'choque de legalidade na cidade'”.

(Karen Lemos - Portal da Band)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Experiência fez de Rodrigo Maia candidato forte à presidência da Câmara, diz cientista político

Rodrigo Maia assume a presidência da Câmara dos Deputados após renúncia de Eduardo Cunha Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Eleito presidente da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (14), Rodrigo Maia (DEM-RJ) era o candidato “mais preparado” para assumir o posto, segundo o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto.

“A experiência parlamentar é muito importante para exercer o cargo de presidente da Câmara dos Deputados”, avalia. “O ambiente [da Casa] não é para principiantes”, diz em referência ao adversário de Maia na eleição em segundo turno, Rogério Rosso (PSD-RF), que está em seu primeiro mandato.

“Pela trajetória política, Rodrigo Maia [já em seu quinto mandato como deputado federal] tem mais condições de dirigir a Câmara, de impor respeito dentro da Casa e de conseguir apoio dos colegas na hora de votar projetos”, acrescenta.

Embora tenha feito uma campanha que tentou dialogar com partidos da antiga base da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), Maia garantiu que dará prioridade para a agenda econômica de Michel Temer (PMDB) - visando desafogar o país da crise, sempre dando espaço para a oposição.

“O presidente da Câmara é o coordenador de trabalhos, independentemente da sua posição pessoal. Sou governo, e quando converso com a oposição deixo isso muito claro. O papel do presidente, entretanto, é garantir respeito à regra do jogo, ao regimento da Casa. Garantir o espaço dos 400 [deputados] da base do governo Michel Temer e 100 da oposição, de forma proporcional”, pontuou o deputado em entrevista à BandNews FM na véspera da eleição.

Para o cientista político, é muito arriscado que qualquer um que assumisse a presidência da Câmara se posicionasse contra o presidente interino. No caso de Maia, porém, trabalhar de forma incondicional para Temer pode não ser uma prioridade.

“Acho que ele está mais preocupado com a política no Rio de Janeiro, vislumbrando uma candidatura de prefeito ou até de governador no futuro, e não no plano federal”, pondera.

“De qualquer forma, um cargo desse é importante para qualquer político. Primeiro porque você entra para a linha sucessória do país, e segundo que há, como presidente da Câmara, grande poder de influência nas eleições municipais agora em outubro. Ou seja, quem pega um cargo desse, só tem a ganhar.”

Lava Jato

Mês passado, o nome do parlamentar apareceu nas investigações da Operação Lava Jato. Maia surgiu em uma troca de mensagens, a respeito de supostas doações, com Léo Pinheiro, da empreiteira OAS.

Para Peixoto, o fato é lamentável, porém quase “inevitável” considerando a situação da maioria dos parlamentares do Congresso Nacional. “Partindo desse pressuposto, você tem mais de 100 deputados que foram citados na Lava Jato”, lembra.

Em conversa com a BandNews FM, Rodrigo Maia se mostrou tranquilo diante da questão. “Pedi recursos... Entraram na campanha pelo diretório do Rio, na campanha do Senado. Todos declarados. Não existe nenhum problema nessas menções”, garantiu.

(Karen Lemos - Portal da Band)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Drag queens se unem para ajudar moradores de rua

Arquivo Pessoal

É noite do segundo dia de inverno em Brasília. Um carro se aproxima do Terminal Rodoviário do Plano Piloto, onde moradores de rua buscam refúgio das baixas temperaturas. Do veículo sai um grupo de mulheres maquiadas e bem vestidas. Elas chamam mais atenção pelo que carregam, do que pela aparência.

Em sacolas, mais de mil doações em agasalhos começam a ser distribuídas para a fila que rapidamente se forma no terminal. As roupas e as mantas entregues são a esperança de quem enfrenta uma insegurança diária, que aumenta com a chegada do frio.

A descrição acima é da primeira ação de um grupo formado há poucos meses. Batizado de Montadas Para o Bem, o coletivo reúne dez drag queens da boate Victoria Haus, da capital federal, que, como o próprio nome sugere, se uniram para fazer boas ações.

“Há pouco tempo atrás, nós perdemos um amigo, que tralhava com a gente no backstage da boate. Isso fez com que nós pensássemos mais na ajuda ao próximo”, conta a artista Laurie Blue.

“Além de ajudarmos, também estamos mostrando que a drag queen está além dos palcos. Ela pode estar no palco brilhando, fazendo show e divertindo plateias, mas também pode estar na rua mostrando que é um ser humano, e que isso independe de sexualidade ou qualquer outra coisa”, acrescenta.

Além de Blue, também integram o grupo Carrie Myers, Dita Maldita, Gabe Lucke, Leona Luna, Mary Gambiarra, Pikinéia Minaj, Poppy Moore, Savanna Berlusconny e Xantara Thompson. Na primeira ação do coletivo, em que estavam presentes Laurie, Poppy, Pikinéia, Mary e Carrie, a recepção foi positiva e surpreendente.

Arquivo Pessoal

“Eles [moradores de rua] nos agradeceram muito. Disseram que doações de agasalho são raras no inverno, e é justamente quando eles mais precisam”, relata Laurie. “O momento foi de gratidão. Teve abraço, tiveram muitas histórias bacanas que escutamos e que nos emocionaram também.”

Repercussão 

Uma das integrantes do coletivo de drag queens, Laurie Blue revelou que nenhuma delas esperava uma repercussão tão grande depois da ‘estreia’ do grupo nas ruas. “Montamos esse projeto pensando que somente nossos amigos próximos iriam ajudar”. Além dos amigos, as montadas do bem chamaram atenção de brasilienses, moradores de outros estados do país e também dos veículos de mídia.

Até mesmo na internet, onde não é difícil se deparar com discursos de ódio, o feedback foi bom. “Sempre tem quem critica, né?”, diz Blue. “Mas, digamos que 90% gostaram e elogiaram a nossa iniciativa. Isso é muito importante e serve como incentivo para continuarmos.”

Próximas ações 

As montadas para o bem ainda farão mais uma ação para doar agasalhos antes de iniciar uma nova etapa. No dia 29 de julho, graças a uma parceria com a boate Victoria Haus, haverá outra coleta de doações, que serão entregues no início do mês de agosto.

Também em agosto, o grupo começa a receber doações de alimentos, cuja previsão de entrega é para o mês de setembro. Além de Brasília, as artistas estudam realizar a distribuição em cidades satélites. Os detalhes estarão na página do Facebook do grupo.

(Karen Lemos - Portal da Band)

domingo, 26 de junho de 2016

Refugiada palestina dirige curta-metragem no Brasil

Arquivo pessoal

A sensação de sentir-se como um peixe fora d’água é universal, talvez seja por isso que o curta-metragem "Fingers" seja tão encantador. Nas imagens, um garoto de cinco anos tenta entender o mundo estranho ao seu redor, captando os movimentos das mãos e dos dedos das pessoas que o rodeiam.

Foi mais ou menos assim que a diretora do filme, a refugiada palestina Rawa Alsagheer, de 20 anos, se sentiu quando chegou a São Paulo há cerca de um ano. Rawa viveu em Homs, na Síria, até os 18 anos. Quando a guerra civil teve início em seu país, ela precisou fugir para a Turquia, onde viveu ilegalmente junto com a família.

“Na internet, começamos a pesquisar sobre países em que pudéssemos viver. Foi aí que ficamos sabendo do Brasil, que recebe refugiados palestinos sírios”, contou a aspirante a cineasta.

A paixão pelo cinema ela conta que veio de seu cunhado, que trabalha na área. “Ele que me puxou e me levou a um workshop sobre direção de curta-metragem porque ele sabia que eu gostava muito disso.”

Apesar da pouca experiência em audiovisual, a jovem impressiona com seu olhar delicado e poético para as primeiras percepções da criança protagonista, vivida pelo ator Taim Tanji, também refugiado palestino.


“A ideia de 'Fingers' veio de um amigo meu da Jordânia chamado Ahmed Shaman”, detalha. “Para mim, a história fala de uma realidade que toda criança vive; adorei a proposta e resolvi, então, filmar.”

O roteiro também atraiu Rawa devido às dificuldades que teve ao chegar ao Brasil e descobrir um país totalmente novo e desconhecido. “Tudo é diferente e há também a barreira da língua”, explica a jovem, que concedeu a entrevista em inglês. “Ainda assim, eu trabalho duro para me adaptar e me integrar à sociedade brasileira, que me recebe bem, uma vez que o país possui muitas culturas e é bem receptivo.”

O sonho da refugiada palestina é estudar muito e, claro, trilhar carreira no cinema. “Espero alcançar esses meus objetivos aqui no Brasil. Seguindo carreira como cineasta, espero ainda defender a Palestina e os direitos dos palestinos de voltarem a morar lá”, acrescentou ela, cujo desejo pode ter sua representação artística nas cenas finais de sua obra de estreia.

(Karen Lemos - Portal da Band)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Professor vira drag queen em aula de português

Arquivo pessoal

Desde 2009, Jonathan Chasko dá aulas em um cursinho pré-vestibular no Paraná. O curso, um projeto de extensão da faculdade onde faz mestrado, é voltado para alunos que saíram da escola pública ou que estão fora da escola há um tempo. Os professores são voluntários e precisam dominar uma linguagem abrangente, já que há alunos de 16 a 50 anos ali.

Desde 2015, a drag queen Sofia Ariel brilha na noite paranaense. Trabalha como DJ e também faz recepção em baladas de Cascavel, no oeste do Estado. Mês passado, Jonathan e Sofia se encontraram na sala de aula - e o resultado foi maravilhoso.

O professor, que se apresenta como drag queen na cidade paranaense, se montou e levou a personagem para falar sobre artigos definidos e indefinidos em uma aula de português do cursinho; de quebra, ele discutiu homofobia, respeito à diversidade e identidade de gênero.

“Sempre levo temas polêmicos para serem discutidos em sala de aula. Costumo a dizer que a educação é um iceberg; a ponta dele é o senso comum, e o que me interessa é fazer com que meus alunos pensem na parte que está submersa”, contou Chasko.

Jonathan, que já abordou a cultura do estupro, machismo e racismo com os alunos, se inspirou no Dia Internacional contra a Homofobia, celebrado no dia 17 de maio, para a aula. “Fiquei pensando em algo para aquela data e, como já trabalho como drag queen, decidi ‘dar à luz’ Sofia durante a aula. Cheguei abrindo meu leque, me apresentando e aproveitando para falar sobre homofobia e gênero.”

No começo, o professor relatou ter tido medo de uma possível resistência ou reprovação dos alunos diante de sua performance. “Aos poucos eles foram entrando na vibe e interagindo comigo. Fizeram perguntas sobre o movimento LGBT e sobre a cultura drag; eu esperava mais resistência, mas eles me mostraram que estavam abertos para entender assuntos como identidade de gênero, tema que vem sendo muito criticado, mas que é bem simples de entender.”

Discussão de gênero 

Jonathan afirma que, desde sempre, somos apresentados à discussão de gênero. “Nos primeiros anos de escola, aprendemos que existem banheiros só para meninos e só para meninas. Isso já é discutir gênero”, afirma. “O que vemos agora é uma posição conservadora que vai contra debater o tema nas escolas; acham que discutir gênero é se assumir transexual. Não é nada disso!”

Para ele, casos como o da adolescente de 16 anos que foi estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro, elucidam a urgência deste debate. “Falar sobre gênero é importante para que se perceba o quanto nossa estrutura é machista, patriarcal e falocêntrica”, diz.

Arquivo pessoal

“Esse tipo de estrutura tende a colocar a mulher em um lugar menor de valorização e, quando a mulher bate na mesa, ela é vista como histérica. A discussão de gênero vai muito além do que pensam; [a discussão] é, basicamente, o entendimento do respeito às mulheres. Como investir no desenvolvimento social do aluno ignorando uma das principais características de sua personalidade, que é a identidade de gênero dele?”

Críticas

Embora a reação de seus alunos tenha sido positiva, Jonathan recebeu críticas depois que a sua história viralizou na internet. “As únicas críticas vieram das redes sociais, na verdade”, explica. “Os alunos, meus amigos, meus colegas de faculdade e o responsável pelo cursinho no qual trabalho, me apoiaram. Na internet, porém, recebi comentários cheios de palavrões, sem pudor, agressivos”, lamenta.

Em sua opinião, essa reação tão descompensada no universo digital só mostra a carência que existe em nosso sistema de educação e da urgência de professores falarem sobre respeito dentro das salas de aula.

Projetos de escolas sem partido 

Na contramão da aula proposta por Chasko, estão projetos de lei que visam coibir o professor de expressar qualquer tipo de opinião. A ideia é manter uma suposta neutralidade em sala de aula e evitar a “doutrinação” do aluno de acordo com alguma ideologia ou conduta moral. Para Jonathan, propostas do tipo - como o Projeto Escola Livre, que foi aprovado no Estado de Alagoas - beiram o absurdo.

“Primeiro, essa tal imparcialidade não existe”, discorre. “Quando se fala de descobrimento do Brasil, você precisa assumir a voz do colonizador português ou do índio colonizado. Como você vai falar de nazismo de forma neutra? De política no Brasil de forma neutra? De movimento LGBT de forma neutra? Em nossos discursos, nós não somos neutros. Mesmo quando não assumimos um lado, já estamos de certa forma tomando uma posição.”

“Escola não é lugar de manipulação, mas de desenvolvimento intelectual. Os professores estão ali para fazer os alunos pensarem, e não assumirem posicionamento. Em minhas aulas, sempre digo que não estou ali para convencer ninguém de nada. O que eu quero é causar desconforto. Dizer o que querem que você diga não vai desenvolver os alunos e nem fazer uma sociedade melhor”, conclui.

(Karen Lemos - Portal da Band)

domingo, 29 de maio de 2016

Crianças narram a crise migratória através de desenhos

Naddeo colhe relatos de crianças refugiadas. Foto: reprodução/Instagram

O jornalista brasileiro André Naddeo é uma das pontes entre o mundo e os refugiados. Enquanto o mundo tenta fechar os olhos para a crise migratória, o brasileiro dá voz e rosto para as pessoas que deixam seus países em busca de uma nova vida – esta que, não raras vezes, lhes é negada nas portas de entrada da União Europeia.

Naddeo se instalou em um desses acessos, mais precisamente no porto de Pireus, na Grécia. O local é um verdadeiro paradoxo. Todos os dias, barcos cheios de turistas chegam e partem de lá tendo como destino as belas ilhas gregas como Santorini, Mykonos e Creta. Por outro lado, refugiados chegam em péssimas condições de saúde, amontoados em embarcações precárias e lotadas. Muitos não conseguem chegar até o final. Morrem durante a viagem, ou se afogam quando o barco não suporta o longo trajeto e a grande quantidade de pessoas a bordo.

O ministério grego da Imigração estima que há 2 mil imigrantes vivendo na região.



A viagem para a Grécia, planejada nos primeiros três meses deste ano, surgiu de uma necessidade que André enxergou na questão. “A mídia, de uma forma geral, concentra sua cobertura sobre a crise de refugiados de maneira muito superficial. [Jornalistas] vêm para os campos, passam ali duas horas, ou mesmo o dia todo, e acham que com isso já basta para contar o que essas pessoas sentem e suas histórias de vida”, diz Naddeo em conversa com o Portal da Band. “Você acha que uma pessoa que está fugindo do Talibã, por exemplo, vai se abrir para você de uma hora para a outra?”

Convivência

Para conseguir relatos dos refugiados, André passou a dormir no mesmo local que eles, se alimentar da mesma comida, utilizar o mesmo banheiro, por exemplo. “No momento em que eles reconhecem que você está ali, sobretudo, para ajudar, você ganha a confiança para obter os seus depoimentos”, conta.

A partir desse convívio intenso, o jornalista iniciou um projeto chamado I Am Immigrant (cujo site ainda entrará no ar); dentro dele está o Drawfugees (junção das palavras desenho e refugiado, em inglês), no qual crianças se expressam por meio de desenhos. O resultado deste trabalho revela o que há de mais triste e, de certa forma, promissor, nesses pequenos que são parte dessa crise.

“A ideia do Drawfugees é apenas um braço de um sonho maior: fazer um retrato social de quem são essas pessoas se deslocando atualmente sem pátria pelo mundo”, explica. “São milhares perdendo um período precioso da vida: a infância. Sem estudar, sem se alimentar direito.”

Para fotografar as crianças, André pede a permissão dos pais e a ajuda de alguém que possa fazer a tradução do inglês básico para o árabe ou o farsi (falado em países como Irã e Afeganistão). “Depois, eu pincelo o que elas queriam dizer com o desenho e escrevo curtos depoimentos - afinal de contas, o desenho em si já diz muita coisa”, ressalta. “Tem sido muito gratificante”, resume.

Histórias marcantes

Pouco mais de um mês em Pireus, André já considera o grupo de refugiados do qual faz parte como uma família. Sabendo ouvir, ele conseguiu registrar algumas histórias marcantes, como a de Ahmad, garoto sírio de 12 anos que precisou fazer o trajeto de seu país até a Europa sozinho. “Certa vez, estava brincando com ele quando uma amiga da família o colocou no telefone para falar com a mãe. Eu não entendi nada, mas precisei sair de lá para dar uma chorada básica”, lembra.


Outra história que emocionou o brasileiro é a da afegã Sana, de seis anos. “Ela é um doce de menina”, define. “Está sempre sorrindo, tímida, mas quando pega a caneta faz desenhos avassaladores”, conta. Um deles é de um helicóptero dos Estados Unidos bombardeando a casa de sua família.


Naddeo, que deve retornar ao Brasil mês que vem, afirma que a experiência na Grécia o tornou mais humano. “Tive a certeza de que a vida começa para valer quando você deixa sua zona de conforto”, acrescenta.

Na Europa, ele percebeu que a questão envolvendo os refugiados é mais complexa do que imaginava. “É um problema que a União Europeia varre para debaixo do tapete”, descreve. “A Grécia não suporta a sua própria crise econômica, quanto mais um problema desse quilate. Eles querem o mínimo possível de visibilidade para o tema e reprimem bastante o trabalho voluntário por aqui”, afirmou, citando como exemplo a evacuação esta semana no campo de refugiados de Idomeni, um dos maiores do continente e que abriga milhares de imigrantes. “O preconceito [contra refugiados] existe, sim. Como existe no Brasil, existe no mundo todo”, lamenta.

(Karen Lemos - Portal da Band)