sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Grupo considerado ilegal na Alemanha já atuou no Brasil

Ibrahim Abou-Nagie, que fundou o grupo, aparece em uma distribuição do Alcorão em Florianópolis (Foto: Reprodução/Facebook)

A organização islâmica A Religião Verdadeira (Die Wahre Religion, em alemão) realizou ações pelas ruas de Florianópolis, em Santa Catarina, desde junho deste ano. Este mês, o grupo foi considerado ilegal pelo governo alemão, que o acusa de ter ligações com o terrorismo.

Além de Florianópolis, cidades da Europa como Londres, Paris, Istambul, Pula (Croácia) e diversos municípios da Alemanha, Áustria e Suíça já receberam ações do grupo, que costuma a distribuir cópias do Alcorão – o livro sagrado do Islã.

Apesar das atividades inofensivas, autoridades alemãs acreditam que ao menos 140 militantes foram recrutados através d'A Religião Verdadeira pelo Estado Islâmico para lutar na guerra civil da Síria.

Na página que a organização mantém no Facebook, é possível ver fotos e vídeos das ações. Uma publicação de 17 de junho deste ano mostra uma van carregada de cópias do Alcorão com a legenda originalmente em árabe “chegando às ruas do Brasil”.

Reprodução/Facebook

Há, ainda, vários registros de distribuição de Alcorão nas imediações do calçadão da Felipe Schmidt, no centro da capital catarinense.

Fundação

O grupo foi fundado em 2005 por Ibrahim Abou-Nagie, um imigrante palestino naturalizado alemão. Em 2011, ele foi investigado na Alemanha por publicar mensagens na internet convocando a violência contra infiéis. Segundo reportagem da Deutsche Welle, Abou-Nagie esteve em julho no Brasil e participou de uma distribuição do livro.

A Religião Verdadeira é um grupo salafista - um movimento fundamentalista dentro do islamismo sunita. O salafismo, porém, não é uma corrente majoritária do Islã e têm diversas frentes, algumas que pregam a violência através da política e outras que restringem sua visão do Islã à vida particular.

Depois da decisão do governo alemão, que proibiu ações da organização no país, o grupo se manifestou a respeito do assunto nas redes sociais: “só porque alguns poucos membros de nossa organização viajaram para a Síria e juntaram-se ao Estado Islâmico, não quer dizer você pode banir a organização inteira”.

O Portal da Band tentou entrar em contato com o grupo, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria. A reportagem também falou com a Polícia Federal para saber se a organização é monitorada no Brasil; por questões de segurança, o órgão, porém, não se pronuncia sobre assuntos envolvendo inteligência nacional.

Visão distorcida do Islã

Para Arlene Clemesha, professora de história e cultura árabe da Universidade de São Paulo (USP), grupos radicais como supostamente é A Religião Verdadeira reforçam a tendência de equiparar todo muçulmano a terrorista.

“Quando um grupo desses comete um atentado, sua simples existência ou a repercussão dessa existência parece justificar a ideia já criada de equivalência entre muçulmanos e o terrorismo, sendo que, dadas as proporções, os radicais representam um número ínfimo quando comparados com os cerca de 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo”, pontua em entrevista ao Portal da Band.

Clemesha ressalta ainda que a interpretação salafista está distante do que realmente prega o Islã. “É muito pelo contrário; o Islã, como a maioria das religiões, tem uma mensagem de paz dentro do seu livro sagrado, da atuação das pessoas; em suma, o Islã não prega a violência, mas uma interpretação radical salafista pode pregar o uso da violência para atingir os seus objetivos.”

(Karen - Portal da Band)

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