domingo, 9 de outubro de 2016

Machismo, terrorismo e imigração dominam segundo debate das eleições norte-americanas


O segundo debate presidencial entre os candidatos Hillary Clinton e Donald Trump, que aconteceu neste domingo (9) na Universidade de Washington, teve um clima ainda mais tenso com a pressão em cima do republicano sobre os comentários machistas que fez em uma antiga entrevista, que veio à tona um mês antes das eleições.

O debate, que desta vez contou com perguntas dos eleitores presentes, começou com uma professora questionando o exemplo que os candidatos dariam para as crianças do país. Logo surgiu o assunto sobre as falas misóginas do republicano.

“Aquilo foi uma conversa de vestiário, privada, entre quatro paredes”, definiu Trump. “Não me orgulho disso, já pedi desculpas, mas acho que há coisas maiores e importantes acontecendo; o Estado Islâmico decapitando pessoas, guerras acontecendo, uma carnificina no mundo inteiro.”

O candidato ainda disse que sempre teve muito respeito pelas mulheres, e Hillary reagiu. “O que ouvimos Donald dizer sobre as mulheres é o que ele realmente pensa”, disse. “Vimos isso durante toda a campanha. Ele também falou contra os afro-americanos, imigrantes, latinos, pessoas deficientes, muçulmanos e tantos outros.”

Trump contra-atacou citando quatro mulheres - e inclusive levando-as para a plateia - que acusaram o marido da democrata, o ex-presidente Bill Clinton, de abuso sexual. “Jamais na história política desse país alguém foi tão agressivo com relação às mulheres”, afirmou o magnata.

Hillary não comentou as acusações, mas citou uma fala da primeira-dama Michelle Obama. “Quando eles derem um golpe baixo, você vai por cima”, disse, arrancando aplausos, e acrescentando que não é apenas um vídeo que paira sobre a campanha de Trump.

“Ele não pede desculpas a ninguém que ofende. Não pediu desculpas à família de Khizr Khan (militar muçulmano morto no Iraque), não pediu desculpas ao juiz federal de Indiana que ele afirmou não ser confiável por ser mexicano, nem à repórter que ele envergonhou em plena rede nacional e nem a Obama, de quem duvidou ter nascido nos Estados Unidos”, completou Hillary.


Terrorismo e crise migratória

Uma eleitora quis saber a opinião dos candidatos sobre o preconceito com os muçulmanos. Para Trump, a islamofobia existe e é um grande problema no país. “Gostando ou não, esse problema existe”, declarou. “Eu quero ter certeza de que os muçulmanos denunciem [casos de terrorismo]; Há sempre uma razão para tudo e, se os muçulmanos não fizerem denúncias, vai ficar difícil”.

Clinton, por sua vez, lamentou o que chamou de “comentários que dividem” o país e citou Muhammad Ali como exemplo de verdadeiro muçulmano. “Minha visão para os EUA é de que todos tenham um lugar para poder trabalhar duro e contribuir para a comunidade. Entrar nessa demagogia de Trump é ser míope diante do problema; precisamos dos muçulmanos para trabalhar contra o terrorismo; eu quero derrotar o Estado Islâmico em uma coalização com países muçulmanos. Não estamos em guerra contra o Islã; as falas de Trump, aliás, favorecem os terroristas”, comentou Hillary.

Uma das jornalistas que mediava o debate perguntou, então, ao magnata sobre sua política de proibir a entrada de muçulmanos no país. “Ninguém sabe quem eles são”, respondeu o republicano. “Obama quer aumentar a entrada deles nos EUA, será o maior cavalo de Troia da história. Não quero centenas de milhares de pessoas da Síria que não conheço e não sei se gostam ou não do meu país. Temos muito imigrantes ilegais criminosos aqui. Hillary não quer fazer isso, mas eu vou deportar todos eles.”

Hillary lembrou da foto do menino de quatro anos ferido após um bombardeio em Aleppo. “Existem crianças sofrendo com essa guerra. Não estamos carregando a carga que a Europa está carregando. Faremos uma triagem dura, mas é importante ter uma política que não proíba as pessoas por causa da religião delas.”

E-mails e wikileaks

Trump aproveitou escândalos envolvendo Hillary para atacá-la. O republicano disse que a adversária também deve desculpas e explicações sobre os 33 mil e-mails que ela apagou quando era secretária de Estado e falou que vai empossar um ministro da Justiça especialmente para o caso dela, caso seja eleito presidente.

“Foi um erro ter usado uma conta pessoal de e-mail [para o trabalho], eu não faria isso de novo, peço desculpas. Quero lembrar, porém, que em um ano de investigação, não encontraram nenhuma informação sigilosa que possa ter parado em mãos erradas. Agora, é bom saber que um temperamento como o seu não está à frente da nossa lei”, respondeu Hillary ao republicano. Trump provocou e disse que, se isso fosse a realidade, ela estaria presa.

Outro escândalo foi o vazamento do Wikileaks sobre discursos pagos da democrata. A candidata falou que as informações estão descontextualizadas e alertou para a série de hackeamentos feito pela Rússia com a intenção, segundo ela, de influenciar as eleições a favor de Trump. “Talvez porque Trump concorde com as coisas que Putin [presidente russo] faz ou porque quer fazer negócios em Moscou; eu realmente não sei.”

Respeito

No primeiro debate, Trump e Hillary apertaram as mãos no início e no final do encontro. Desta vez, não houve cumprimentos, apenas um mais contido no encerramento do debate.

O claro aumento de tensão entre os dois foi notado pelos eleitores. Um deles pediu até para que os candidatos falassem algo que fosse “respeitoso” um ao outro, o que gerou risos na plateia.

Respondendo primeiro, Hillary afirmou que admira muito os filhos de Trump. “Eles são hábeis e comprometidos, um reflexo de Donald. Posso não concordar com muita coisa que ele diz, mas respeito esse fato.”

Já Trump afirmou que não concorda com os objetivos pelos quais a democrata luta, mas que ela é uma “lutadora que não desiste nunca”. “É uma ótima característica”, definiu. “E agradeço o elogio aos meus filhos, não sei se foi sincero, mas tenho muito orgulho deles.”

Análise

Para a ex-correspondente nos Estados Unidos Patrícia Campos Mello, Trump conseguiu se salvar dos escândalos que o aguardavam neste debate. “Acho que ele foi suficiente para não acabar com a própria campanha. Ele não mostrou arrependimento e ainda dobrou a aposta, discutindo coisas importantes para os eleitores dele.”

O jornalista norte-americano Matthew Shirts concordou. “Foi surpreendente. O Trump se saiu melhor do que no outro debate. Em relação à Hillary, acho que houve um empate.”

Por fim, Solange Reis, coordenadora do observatório político dos EUA, analisou que Trump teve um bom começo de debate, mas depois derrapou. “Ele estava terrivelmente despreparado para assuntos que ele não tem conhecimento, como política externa.”

(Karen Lemos - Portal da Band)

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