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Falar da filha Gabriela enche a jornalista Kety Shapazian de orgulho. Foi por causa dela que Kety viveu uma experiência única e marcante em 2015, quando embarcou para a Grécia, no ápice da crise migratória na Europa, para ajudar refugiados da África e do Oriente Médio, principalmente, que fugiam de guerras, perseguições políticas, fome, entre outros muitos problemas que ainda persistem nessas regiões.
A vivência também a fez abrir um ateliê de flores, onde ela mesma cria e vende arranjos em São Paulo. Parte do lucro é para custear o trabalho voluntário que Gabriela continua realizando na Europa desde a primeira viagem do tipo que fez ao lado da mãe. “Fui com Gabriela para Grécia em 2015 por causa dela. Se fosse por mim, eu teria ficado chorando no Facebook”, conta. “Eu nunca pensei em viajar para outro país e ajudar os outros, mas foi exatamente isso que aconteceu durante 45 dias. Quando tiver 90 anos de idade, ainda vou me lembrar de cada detalhe, cada emoção que vivi durante essa experiência.”
As histórias tristes dos refugiados que Kety conheceu, bem como a alegria que sentiu ao poder ajudá-los, marcaram tanto a jornalista quanto a sua filha, que decidiu continuar fazendo esse trabalho até hoje. “É o que ela faz da vida agora, não é só um projeto de férias escolares. O negócio dela é ajudar os outros, trabalhando em campos de refugiados na Grécia e na Turquia, ajudando no acolhimento, na integração deles e até dando aulas de inglês. É uma experiência ótima para ela também, que aprende muito lá fora. Tenho uma filha de 18 anos globalizada, completamente fora da curva, e isso é algo que me orgulha muito”, acrescenta Kety.
Para custear as viagens que a filha faz a cada 90 dias - tempo de permanência permitido pelo visto -, a jornalista decidiu abrir uma empresa de arranjos de flores, que batizou de Flores para os Refugiados. O negócio começou informalmente em 2016, quando Kety vendia flores nos semáforos da cidade. “Engraçado que eu nunca havia trabalhado com isso antes. Eu fazia alguns arranjos, de forma despretensiosa, em casa mesmo. Fui aprendendo na marra, vendo referências na internet, e decidi profissionalizar”, conta à reportagem.
No ateliê, é possível encontrar todo tipo de arranjo, além de encomendar decoração para festas, casamentos e até contratar entregas mensais. “O universo de arranjos de flor é imenso, dá para fazer um milhão de coisas. E quem compra esse produto, porque gosta ou acha bonito, sabe também que estará apoiando o trabalho que minha filha realiza lá fora.”
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Xenofobia
Ainda que não canse de exaltar o exemplo que sua filha dá ao ajudar os outros, Kety Shapazian reforça que, ao mesmo tempo, estranha o fato de Gabriela virar notícia por esse motivo. “Ela não deveria ser uma exceção. Ajudar quem precisa tinha que ser algo normal, não um diferencial.”
Gabriela recebendo uma refugiada afegã em Lesbos, na Grécia (Foto: Maciej Moskwa)
Em meio a uma crise migratória também vivida no Brasil, com o fluxo de imigrantes da Venezuela aumentando enquanto o país vizinho passa por dificuldades financeiras e conflitos políticos internos, a jornalista faz um apelo para que as pessoas tenham mais empatia com o outro.
“Temos visto muita xenofobia, muita coisa errada, não só onde minha filha está, mas também nos Estados Unidos e até no Brasil. A gente precisa se colocar no lugar do outro, esse outro sendo refugiado ou não, até porque refugiados são pessoas como a gente, e quando passamos a vê-los dessa forma, muitas barreiras caem”, pontua Kety.
Em algumas situações, essa dificuldade de compreender o outro leva a casos extremos de violência, como o ocorrido na última sexta-feira, 7. Em Roraima, um brasileiro e um venezuelano morreram após um suposto furto na capital Boa Vista.
“Sempre penso que, no futuro, podemos ser nós, brasileiros, passando por uma situação parecida com a que os venezuelanos estão enfrentando agora. Não dá para saber o que vai acontecer daqui a 30 anos, por exemplo. Minha filha sempre fala que se um dia ela precisar de ajuda, ela vai querer alguém do outro lado a recebendo com um prato de comida, um direcionamento, até mesmo um abraço. Isso faz toda a diferença”, conclui.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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