Agentes de campanha de saúde levam a flor para mulheres em comunidades do Pará (Foto: Divulgação)
Uma orquídea está servindo como um importante lembrete na prevenção do câncer de colo de útero para mulheres da região Norte do Brasil, onde o risco estimado para a doença é 60% mais alto do que no resto do País.
Adaptada para o clima da região amazônica, a planta floresce a cada 12 meses, avisando que é hora de realizar o Papanicolau, exame responsável por detectar lesões que podem evoluir para este tipo de câncer.
Com a ação, agentes de saúde esperam reduzir a incidência da doença, que é de 25,62 casos a cada 100 mil mulheres na região Norte. Em todo o Brasil, o risco estimado é de 15,43/100 mil, segundo relatório do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Para a enfermeira epidemiologista Maria Beatriz Kneipp, a discrepância de porcentagem está relacionada a uma somatória de fatores.
“A região Norte tem uma característica diferenciada do resto do País. Tem a questão da extensão de densidade demográfica e também de nível educacional mais baixo. O câncer de colo de útero também está relacionado com os problemas de desenvolvimento socioeconômico da região, que pode ser visto, por exemplo, na dificuldade das mulheres em ter acesso ao exame”, explica a especialista ao Portal da Band.
A última pesquisa nacional sobre o tema, elaborada em 2013, mostra que o percentual de mulheres que fazem o exame Papanicolau regularmente na região é de 75%; outras 12% relataram jamais ter realizado a avaliação médica. “Dessas mulheres, algumas disseram que não acharam necessário fazer o exame, outras afirmaram ter vergonha e teve ainda quem respondeu nunca ter sido orientada a fazer o Papanicolau. É preciso, então, identificar e trabalhar essas questões que aumentam os riscos da doença”, acrescenta Kneipp.
Flor da Vida
Foto: Divulgação
Com base nesses dados que preocupam as autoridades de saúde, foi criada a campanha Flor da Vida, idealizada pela Ogilvy Brasil para o Hermes Pardini com apoio da Secretaria da Saúde do Governo do Pará. Três mil agentes de saúde, envolvidos no projeto, se dividem na entrega das flores, na promoção de eventos e de aulas educativas sobre o tema.
A orquídea usada na ação é um híbrido de cattleya, desenvolvida pelo orquidófilo Sergio Barani, que tem mais de 50 anos de experiência na área. “Através de cruzamentos, conseguimos criar esse híbrido que floresce uma vez por ano, alertando as mulheres que chegou a hora de fazer o exame ginecológico. Também será possível reproduzir [a orquídea] aos milhares por clonagem”, diz Barani no vídeo institucional da campanha.
Foto: Divulgação
Apesar do ciclo de 12 meses da planta, o exame de Papanicolau pode ser realizado em até três anos, com exceção de mulheres que têm problemas de imunidade, como portadoras do vírus HIV, que precisam fazer a avaliação médica anualmente.
Infraestrutura regional e tratamento da doença
O foco da campanha Flor da Vida está justamente na prevenção por ser a forma mais efetiva de reduzir a incidência do câncer de colo de útero. O exame Papanicolau pode ser realizado em qualquer centro de saúde. Há, inclusive, unidades fluviais que atendem comunidades mais afastadas. “Esse exame identifica lesões pré-malignas que podem ser retiradas em um ambulatório sem nem precisar de internação. A lesão é removida e a mulher vai para casa no mesmo dia”, esclarece a epidemiologista Maria Beatriz Kneipp à reportagem.
Já os procedimentos médicos para combater o câncer já evoluído implicam em uma logística bem mais complicada. “Para um tratamento com quimioterapia ou radioterapia, a paciente pode ter que se dirigir até outra cidade. Em alguns Estados, como Amapá ou Roraima, esse tipo de tratamento é feito só nas capitais”, ressalta. “Existe, portanto, essa preocupação com o deslocamento e também com a realidade de algumas mulheres, que têm casa e filhos para cuidar e nem sempre conseguem fazer o tratamento até o final.”
Mesmo sendo um tipo de tumor com potencial alto de prevenção e cura, principalmente se diagnosticado precocemente, o câncer de colo de útero matou 800 mulheres na região Norte em 2016 segundo dados do Ministério da Saúde. Para Kneipp, é possível diminuir os números de mortalidade e também de casos em que o câncer se desenvolve.
Na região Sudeste, por exemplo, a incidência desse tumor é de 9,97 a cada 100 mil mulheres. “Vemos, portanto, que é possível reduzir os riscos para a doença e, por essa razão, tentamos sempre buscar alternativas e estratégias com esse propósito”, conclui a especialista.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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