sábado, 6 de fevereiro de 2010

Carnaval para se curtir dentro do cinema















"O Mistério do Samba"

Para quem gosta de Carnaval, mas não tem o samba no pé, é possível aproveitar esta ocasião mais do que brasileira sem estar na avenida dos sambódromos. Voltado para os amantes dessa arte e cinéfilos de plantão, o cinema da Galeria Olido, no Centro da cidade de São Paulo, oferece um cardápio cinematográfico recheado com obras que têm em comum a temática da festa popular.

Entre os dias 19 a 31 de janeiro, o Cine Olido abre alas para a exposição “O Samba Pede Passagem”, que reúne uma programação diversificada. Ao todo, são 25 produções entre longas-metragens e curtas-metragens de ficção, além de documentários sobre a data e seus principais representantes (como célebres sambistas e compositores), registros de shows, e filmes que relembram a época do carnaval de rua – conhecidos como as chanchadas.

A mostra, que já está em sua segunda edição, tem como principal objetivo “a descoberta de uma enciclopédia do samba dentro do cenário da cultura brasileira”, como define Alex Andrade, programador de cinema da Galeria Olido e curador da exposição. “A segunda edição surgiu da necessidade de exibir as obras que ficaram de fora da primeira, e que agora valeriam a pena serem mostradas. São muitos filmes, e existe uma dificuldade de incluir todos na programação. Precisei encontrar um recorte que tivesse uma proposta”, explica Alex. Mesmo assim, muita coisa ainda ficou de fora, o que já alimenta a ideia para uma terceira edição prevista para o ano que vem.

Entre os destaques estão obras como “O Mistério do Samba”, de 2008, um retrato da Velha Guarda da escola carioca Portela que surgiu como consequência de uma pesquisa da cantora Marisa Monte para repertório de um novo trabalho. Riquíssimo em material de arquivo, o filme traz Carolina Jabor (filha de Arnaldo Jabor) e Lula Buarque de Hollanda (sobrinho de Chico Buarque) nas rédeas da direção.

O roteiro ainda apresenta “Saravah”, que traz um registro cinematográfico de uma viagem ao Brasil do cineasta francês Pierre Barouh no ano de 1969. No Rio de Janeiro, o diretor gravou encontros marcantes com artistas nacionais como Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Baden Powell, entre outros.

O projeto para realização da mostra teve o apoio da ABBC (Associação das Bandas, Blocos e Cordões Carnavalescos do Município de São Paulo), que já há alguns anos está à frente de uma iniciativa cultural para resgatar a memória do Carnaval. “O tema da exposição foi sugerido por nós, e enviado para a Secretaria de Cultura. Mais do que uma mostra, ‘O Samba Pede Passagem” traz essa intenção de resgatar nossa memória, através de obras que falam das marchinhas e dos blocos de rua”, explica Zeca Dal Secco, presidente da Associação.

Falando em memória, os clássicos do cinema nacional também compõem a seleção. “Nem Sansão, Nem Dalila”, com Oscarito no elenco e direção de Carlos Manga, rodado no ano de 1954, se tornou um marco do cinema chanchada, original do Rio de Janeiro, elaboradas com tramas leves e muitos números musicais.

“Todos apresentam o samba como elemento narrativo. Temos comédias da década de 50, por exemplo, que não necessariamente têm o samba como assunto principal, mas as canções passam - atravessam os filmes de uma maneira importante, com os números musicais que funcionam quase como personagens na trama”, complementa Alex.














O compositor Cartola, um dos homenageados na mostra

Cinebiografias e documentários

Os documentários musicais, inclusive, são exemplos desta ideia exposta pelo curador. “Cartola - Música para os Olhos”, retrato cinebiográfico de um dos principais compositores do gênero, não necessariamente trata do Carnaval em si, mas diz respeito a um de seus principais representantes.

“Paulinho da Viola, Meu Tempo é Hoje”, sobre o cantor e compositor homônimo, acompanha de perto sua rotina musical, atrelada com o universo do samba. “As biografias são importantes para conhecer o samba através de seus principais personagens, e entender a trajetória de vida de alguns sambistas, muitos de origem humilde, e como eles chegaram até às telas”, conta Alex.

A programação de curtas-metragens também é especial. “Nelson Sargento”, sobre o sambista da mangueira, e “Com que Roupa eu vou”, mostram facetas de dois artistas do gênero, sendo que este último - sobre o compositor Noel Rosa – traz em seu enfoque uma das canções mais conhecidas do autor da década de 30. Para complementar, a mostra exibe “Noel – Poeta da Vila”, de Ricardo van Steen, longa de ficção sobre a vida e obra de Noel.















Rafael Raposo vive o poeta Noel Rosa

A importância do resgate cultural

Uma das intenções de Alex Andrade foi buscar na memória da cultura brasileira pérolas do cinema nacional que fossem contundentes com o tema da mostra. Durante o processo, o curador se deparou com raridades, e colocou-as de volta ao panorama das telonas.

“Quarenta por cento desses filmes nunca entraram em cartaz. Alguns até foram exibidos em festivais de cinema, mesmo assim foi pouco. Há obras nessa exposição, por exemplo, que ficaram de fora até mesmo dos circuitos de cine-clubes”, conta.

É o caso de “A lira do delírio”, dirigido por Walter Lima Jr. A produção faz uso de elementos documentais para apresentar uma ficção sobre um bloco de carnaval de rua. O presidente da ABBC, Zeca Dal Secco, acredita que esse tipo de obra traça um cenário de evolução do samba. "Quando se fala em carnaval, estamos exibindo um retrato da nossa sociedade. Essas manifestações também representam a transformação. O carnaval que vemos hoje é uma consequência de todos esses momentos - as marchinhas, o carnaval de rua – que chegaram até hoje, com os desfiles nos sambódromos”, explica.
















Cena de "Diário de Naná"

Outras produções que Alex Andrade, programador da Cine Olido, destaca são “Assim era a Atlântida”, sobre a produtora de filmes que lançou boa parte das chanchadas durante a década de 50, e “Diário de Naná”, que mostra a busca da percursionista Naná Vasconcelos à procura de diferentes batidas e ritmos durante uma viagem pelo Brasil afora.

“O samba, durante muito tempo, teve um perfil marginal dentro da sociedade. Recentemente, isso tem mudado, podendo até levar as pessoas ao cinema para assistir a uma exposição sobre o tema – e é o que tem acontecido”, esclarece Alex.

(Karen Lemos - O Estado RJ)

“O Samba Pede Passagem”
De 19 até 31 de janeiro
Cine Olido - Galeria Olido.
Av. São João, 473. Centro de São Paulo
Tel.: 3331-8399
Ingressos a R$1

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