Vinicius de Oliveira, Fernanda Montenegro e Walter Salles na exibição de cópia restaurada de 'Central do Brasil' (Foto: Natali Hernandes/agenciafoto.com.br)
“A obra fala de um menino em busca do pai, mas que na verdade também está em busca de um país. E nós estamos em busca de um país novamente”, acrescentou a atriz, referindo-se, mas sem citar nomes, ao momento politicamente conturbado que se agravou com as eleições deste ano.
Central do Brasil chegou aos cinemas em 1998, mas as primeiras ideias para o longa surgiram na mente do diretor Walter Salles em outro período delicado. “O filme foi pensando durante os anos negros do governo [Fernando] Collor e momentos após a ditadura militar. A trajetória [da protagonista] Dora é de ressensibilização depois daquela época tão traumática”, definiu o cineasta.
Comentando a onda conservadora que atingiu o país – e que junto dela vieram ataques à classe artística, Walter Salles pediu união. “Agora é hora de se reagrupar, estarmos juntos, pensar e criar novamente”, pontuou o diretor do longa vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim e indicado ao Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro, além de também render uma indicação a Fernanda Montenegro como melhor atriz na principal premiação da indústria.
Cena do filme 'Central do Brasil' (Foto: Divulgação)
O ator Vinícius de Oliveira, intérprete do menino Josué, lembra ainda que o cinema brasileiro já enfrentou percalços, como a censura nos tempos de ditadura militar e o financiamento escasso. “O nosso cinema não está em um caminho sólido, e esse momento que estamos passando, no qual a cultura e os artistas estão ‘apanhando’, pode ser devastador. Sempre houve resistência por parte daqueles que trabalham nesse ramo, e em muitas ocasiões o próprio público abraçou mais a produção nacional. Ainda assim, podemos estar diante de novos tempos difíceis”, lamentou em conversa com o Portal da Band.
Duas experiências profissionais, no entanto, trouxeram uma outra perspectiva, essa mais positiva, para Vinícius. O ator esteve no Nordeste do País na década de 1990 para filmar Central do Brasil, e retornou em 2014 para a região, onde rodou Boi Neon, de Gabriel Mascaro. “Encontrei um Nordeste muito diferente, mais moderno, mais possível, com pessoas distintas. Em algum momento a gente melhorou, só espero que não haja retrocessos.”
A restauração de Central do Brasil, feita pelo laboratório francês Éclair, ressaltou os tons do sertão nordestino captados pela fotografia de Walter Carvalho e a trilha sonora marcante assinada por Jaques Morelenbaum e Antônio Pinto. O grande poder do filme, entretanto, está em emocionar um público diverso. A história de Dora e Josué toca até mesmo quem não conhece a realidade dura da maioria dos brasileiros. É difícil segurar as lágrimas diante da construção de uma amizade tão improvável dos dois e, principalmente, do reencontro da professora aposentada com a sua própria compaixão, há muito tempo perdida.
Além das atuações de Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira, o filme também traz um dos trabalhos de Marília Pêra, morta em 2015. Foi para a colega de cena que Fernanda dedicou a sessão. “Não lembro dela para entristecer, embora ela faça mesmo muita falta, mas porque essa noite é dela. Talvez pela sua ausência, essa noite é totalmente dela”, concluiu a atriz.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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