Documentário não foca na nostalgia, mas presta homenagem às lojas que marcaram gerações (Divulgação)
Serviços de streaming como Netflix e Vod (vídeo sob demanda), a televisão por assinatura e até a pirataria mudaram nossa forma de consumir filmes, séries, desenhos e documentários. Antes disso, porém, imperava um tipo de negócio que, da década de 1970 até meados dos anos 2000, era a única maneira de levar grandes obras e as novidades do audiovisual para o conforto do lar.
Foi com as videolocadoras que o diretor Alan Oliveira alimentou sua paixão pelo cinema e a relação com outros cinéfilos como ele. “Existia uma magia no ato de levar um filme para casa. Eu me lembro do cheiro das fitas, de você precisar rebobiná-las após assistir. Era uma experiência física, muito sensorial e também sociocultural. Tinha aquela conversa com o atendente, que dava sugestões de filmes, e com outros clientes com quem você poderia trocar dicas do que alugar”, lembra.
Quando surgiram os sinais de que esse império começava a ruir, Alan ficou interessado em registrar o movimento nas últimas videolocadoras que ainda resistiam, além de resgatar a "era de ouro" do mercado de aluguel de filmes.
“Eu sempre quis saber o que aconteceu com essas pessoas [donos de videolocadoras] e não tinha ideia, porque ninguém falava disso”, conta ao Portal da Band o diretor, que a partir desta curiosidade começou a produzir um documentário sobre o tema: CineMagia, em cartaz nos cinemas a partir da quinta-feira da próxima semana, dia 9 de novembro.
Confira o trailer:
O documentário, Alan Oliveira gosta de ressaltar, não é um filme nostálgico sobre esse modelo de negócio, mas, sim, uma homenagem aos 40 anos em que as locadoras transformaram o mercado do audiovisual em São Paulo. “A gente ‘não mata’ as videolocadoras, pelo contrário, nós as celebramos”, explica.
A primeira videolocadora
Na capital paulista, em 1976, surge a primeira loja do tipo. Desta data em diante, o setor ficou tão forte que assumiu função parecida com as de distribuidoras de filmes. “Não existiam as distribuidoras ainda, então muitos filmes eram copiados. Algumas vezes a qualidade da imagem era bem ruim, outras cópias nem legenda tinham; mesmo assim os clientes alugavam porque queriam assistir aos sucessos da época”, detalha Alan.
As locadoras que tinham mais dinheiro iam além e viajavam ao exterior para comprar os filmes, que posteriormente eram ‘lançados’ em suas filiais. Outras chegaram até mesmo a patrocinar a Fórmula 1, competição mais importante do automobilismo.
O documentário CineMagia também resgata a imponência das lojas. “Na década de 1980, os filmes ficavam dispostos em pilares com luzes de neon coloridas, o que era uma loucura para aquela ocasião. A Omni Vídeo, por exemplo, tinha um prédio na Avenida Faria Lima, que você subia de elevador de tão grande que era”, conta o diretor. Vale citar ainda a rede norte-americana Blockbuster, que tinha lojas espalhadas por toda a cidade, e a tradicional 2001 Video, que fechou suas últimas unidades físicas no final de 2015.
Mais de 200 horas de material
Resgatar uma história de quatro décadas não foi tarefa fácil. As primeiras pesquisas para produzir o documentário foram praticamente infrutíferas, já que não há muito sobre o assunto na internet. O trabalho começou a dar resultados com o garimpo de sebos. “Encontramos revistas antigas que nos davam pistas sobre os antigos donos de videolocadoras em São Paulo”, diz Alan.
Além dos antigos donos desse comércio, o filme traz depoimentos de clientes, distribuidores, jornalistas e críticos de cinema renomados, como Rubens Ewald Filho e Christian Petermann, que morreu ano passado. “São pedaços de memórias que compõem um raio-x do que foi esse mercado”, resume o cineasta.
Com os relatos, os registros das atividades das últimas videolocadoras e imagens de arquivo para falar do começo desse império já são mais de 200 horas de material bruto. Todo esse conteúdo também vai virar série de televisão e um livro, ambos sem data de lançamento.
Novas gerações
Para Alan Oliveira, celebrar o fenômeno que foram as videolocadoras não tira a importância das ferramentas de hoje. “A relação que a geração de hoje tem com a Netflix é diferente, mas isso não quer dizer que é ruim. Se antes era custoso achar um filme, tinha que sair de casa, procurar nas prateleiras ou esperar alguém devolver, agora é só apertar um botão e, se não gostar, tem outros títulos à disposição.”
Quarenta anos após o boom das videolocadoras, duas lojas continuam de portas abertas em São Paulo: uma no prédio do Copan, no centro da capital, e outra no bairro Sapopemba, na Zona Leste. Tal resistência é uma prova de que a paixão pelo audiovisual se transforma, mas jamais se extingue.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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