quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Sem vice da República, presidência da Câmara dos Deputados se torna estratégica para partidos

Plenário da Câmara dos Deputados (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Nesta quinta-feira (2), caso a eleição se resolva em primeiro turno, o Brasil terá um novo presidente da Câmara dos Deputados. O evento por si só é de extrema importância, mas as atuais condições do País tornaram o pleito ainda mais valioso para os partidos políticos.

A razão principal, como bem lembra o cientista político Michael Mohallem, é que não há um vice-presidente no Brasil desde que Michel Temer assumiu a presidência no lugar de Dilma Rousseff, afastada após processo de impeachment no ano passado.

“Nos próximos dois anos, o novo presidente da Câmara ocupará a cadeira do presidente da República quando este se ausentar em razão de viagens ou por qualquer outro motivo”, explica o especialista ao Portal da Band.

Vale destacar também que o empossado tem chance de se tornar de fato presidente até 2018 se a chapa Dilma-Temer, investigada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), for cassada.

Ademais, é o presidente da Câmara quem instaura um processo de impeachment no Congresso Nacional, tornando a cadeira ainda mais estratégica.

Governista, Maia aumenta suas chances à reeleição

Marcelo Camargo/ABr

Entre os nomes que concorrem ao cargo, está o de Rodrigo Maia (DEM-RJ). O democrata cumpre um mandato-tampão desde que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi cassado. Apesar da polêmica que envolve sua reeleição, contestada por alguns deputados com base em interpretações do regimento da Casa, as chances para sua recondução são boas.

“Maia se colocou como alguém que conseguiu fazer uma boa interlocução com o Centrão e entre dois partidos que vêm se aproximando em um cenário para [as eleições presidenciais de] 2018: o PMDB e o PSDB”, destaca o cientista político.

Rodrigo Maia, segundo o especialista, também mostrou serviço a Temer, o que fez com que o presidente abandonasse outras candidaturas e apostasse nele. “Em momentos difíceis, como a crise entre [os ex-ministros] [Marcelo] Calero e Geddel [Vieira Lima] ou durante a crise carcerária, Maia esteve presente; ele também cultivou uma agenda alinhada com o Governo; as pautas de Temer foram aprovadas sob seu comando.”

PT em crise

De última hora, o Partido dos Trabalhadores - que compõe o segundo maior bloco partidário da Casa - definiu apoio a André Figueiredo (PDT-CE). Um pouco antes, a legenda se dividia entre lançar um candidato próprio ou até mesmo apoiar a reeleição de Rodrigo Maia, o que causou indignação em sua própria militância. “O PT está em uma posição nova; foram 12 anos participando de negociações vencedoras, tanto na Câmara quanto no Senado. Agora há uma dificuldade de se encontrar. É mais um capítulo difícil na história do partido”, observa Mohallem.

André Figueiredo 

José Cruz/Agência Brasil

Na visão de Mohallem, a candidatura de André Figueiredo não é uma articulação para vencer a presidência da Câmara, mas para marcar uma posição do partido, que tenta conquistar a esquerda desiludida com legendas notáveis - como o PT, aspirando às eleições de 2018. “O PDT tem um nome forte que é o de Ciro Gomes [para presidente da República]; tudo começa a girar, então, em torno disso.”

Jovair Arantes


Valter Campanato/Agência Brasil

Assim como o PDT de Figueiredo, o PTB de Jovair Arantes (GO) lança uma candidatura mais de estratégia do que propriamente mirando a presidência da Câmara. “Alguns partidos saem com candidatos mais para renegociar posições na aliança de poder. É mais um instrumento para tentar aumentar poder do partido no governo.”

Júlio Delgado 

Wilson Dias/Agência Brasil

Outro exemplo de candidatura estratégica está na de Júlio Delgado (PSB-MG). A própria legenda decidiu apoiar a reeleição de Maia, mas Delgado se lançou de forma avulsa para tentar construir uma liderança dentro do PSB. “Existe uma disputa dentro do partido, que não se alinha com facilidade ao governo”, explica Mohallem. “Além disso, a candidatura ajuda a pulverizar votos e traz alternativa para outros partidos que não se sentem representados pelos nomes que estão disponíveis.”

Luíza Erundina

Antonio Cruz/Agência Brasil

O nome de Luíza Erundina (PSOL-SP) aparece como outra opção da esquerda. A deputada, que ano passado teve pouco mais de 3% dos votos na eleição para prefeito de São Paulo, tem poucas chances no pleito. “O PSOL costuma lançar candidatura própria que não vem acompanhada de articulação com outros partidos de oposição, de modo que não é um elemento que traga alterações neste cenário.”

Jair Bolsonaro

Wilson Dias/Agência Brasil

Último a lançar candidatura na véspera da eleição na Câmara, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é outro que deve usar a eleição na Câmara como um investimento para o futuro. “Também não é uma articulação para ganhar. Bolsonaro já está há um tempo cuidando da candidatura para a presidência da República em 2018”, lembra o cientista político.

Rogério Rosso retira candidatura 

Valter Campanato/Agência Brasil

Até a noite de quarta-feira (1º), Rogério Rosso (PSD-DF) também disputava a cadeira da presidência. Para o cientista político, o deputado não teria muitas possibilidades de vencer, já que a situação era diferente de quando o político disputou com Maia o mandato-tampão para presidência da Câmara.

Naquela época, próximo do Centrão, Rosso era uma figura interessante para o governo alcançar maioria estável na Casa. Mas os ventos a seu favor mudaram de curso. “Boa parte do Centrão aderiu à candidatura de Maia e o governo conseguiu sua estabilidade a custo de ministérios. Dessa forma, Rosso perdeu os trunfos que tinha e ficou com a candidatura fragilizada”, avalia o especialista.

(Karen Lemos - Portal da Band)

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