quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Transexuais concluem o ensino básico e agora vislumbram universidade

Participantes do primeiro ano do programa Transcidadania (Wagner Origenes Nunes/Divulgação)

Quinze anos atrás, Marcela Monteiro foi praticamente expulsa da escola em que estudava. Os motivos não eram mau comportamento ou notas baixas. Transexual, Marcela foi ameaçada por um grupo de colegas que não aceitava sua presença no sistema de ensino.

“Os meninos do grupo disseram que iam colocar fogo em mim. Só me salvei porque um professor me colocou no porta-malas dele para que eu conseguisse fugir”, lembra.

Hoje, aos 34 anos, Marcela conseguiu voltar a estudar e vislumbra um novo horizonte em que é possível escolher uma profissão longe das ruas e da prostituição. "Meu sonho é ser assistente social", conta. Ela é uma das 100 transexuais que concluíram o primeiro ano do Transcidadania, programa da Prefeitura de São Paulo que oferece conclusão dos ensinos fundamental e médio, além de cursos como Mercado de Trabalho e Direitos Humanos.

“O programa fez com que nós voltássemos a nos enxergar com dignidade. Voltar para a escola é voltar a se sentir como uma cidadã e, automaticamente, mostrar para a sociedade que nós existimos e precisamos ser respeitadas”, relata.

Das participantes do primeiro ano do programa, 33 completaram o ensino fundamental e cinco, o ensino médio. Dessas cinco, duas obtiveram notas no Enem suficientes para ingressar em uma universidade através de programas como o Sisu e o ProUni.

“Isso é uma vitória se pensarmos que o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo todo”, ressalta Alessandro Melchior, coordenador de Políticas LGBT da Prefeitura.

Wagner Origenes Nunes/Divulgação

Em 2016, o programa terá continuidade com mais 100 vagas para transexuais, além de uma bolsa no valor de R$ 910,00, permitindo que os participantes se dediquem exclusivamente aos estudos. “Muita gente criticou o programa, às vezes por ignorância, por não saber como é a vida dessas pessoas. O fato de abrirmos novas vagas é uma resposta à altura para essas críticas”, pontua o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

“Nosso objetivo é um dia não precisar mais de programas como esse. O dia em que isso acontecer, é porque temos uma sociedade onde qualquer pessoa pode frequentar a escola, assumir sua identidade e escolher sua profissão. Enquanto isso não ocorre, continuaremos com o Transcidadania”, compromete-se Haddad.

Os resultados positivos fizeram com que a iniciativa chegasse até outros municípios. Nesta semana, a Secretaria de Direitos Humanos de Minas Gerais anunciou um projeto voltado para as transexuais do Estado, e, segundo Eduardo Suplicy, é possível que o modelo atravesse fronteiras.

“Estive com o embaixador americano para direitos humanos da população LGBT, Randy Barry, durante sua visita ao Brasil. Ele se emocionou muito ao ouvir os depoimentos da população transexual, tanto que convidou nosso coordenador Alessandro Melchior para visitá-lo nos Estados Unidos e conversar sobre o programa”, celebra Suplicy, secretário de Direitos Humanos de São Paulo.

(Karen Lemos - Portal da Band)

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