terça-feira, 4 de novembro de 2014
Caco Ciocler estreia como diretor e desabafa: "problemas com direitos autorais foram frustrantes"
Caco Ciocler exibiu o documentário "Esse Viver Ninguém Me Tira", sua estreia como diretor, pela primeira vez em São Paulo em sessão para convidados no MIS na noite de segunda-feira (3). O filme, uma produção da Cine Group que chega as salas de cinema em 2015, já havia sido exibido no Festival de Gramado e no do Rio este ano.
Em conversa com o Portal da RedeTV, o ator falou dos desafios de retratar nas telas a história de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, esposa de Guimarães Rosa, que salvou dezenas famílias de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
"Eu tinha dois pilares para trabalhar nesse filme. Um deles era abordar a vida de Aracy como esposa de um grande escritor brasileiro, mas, por conta de problemas com direitos autorais, não pude falar do relacionamento deles", contou em entrevista. "Essa dificuldade foi frustrante, mas acabou sendo uma benção porque fatalmente colocaríamos Aracy como coadjuvante do Guimarães".
A impossibilidade forçou Caco a explorar melhor o segundo pilar - o do gesto de Aracy em facilitar a entrada de judeus ao Brasil. Nascida no Paraná, ela se mudou para a Alemanha em 1934, onde começou a trabalhar como chefe do setor passaportes do consulado brasileiro na cidade de Hamburgo. Mesmo correndo risco de ser pega pelo regime nazista, ela liberou vistos ao Brasil para judeus perseguidos pelo governo. "Acho que ela não tinha noção de que estava salvando aquelas pessoas e nem elas sabiam do que estavam escapando, já que a realidade dos campos de concentração não era divulgada. Mesmo assim, ela não economizou nesses pequenos gestos que geraram vidas", completou.
Com esse foco, foi possível colocá-la como protagonista absoluta - o que também não foi uma tarefa fácil. "Não tinha absolutamente nenhuma documentação sobre isso, era um pilar muito frágil. O filme acabou se tornando, então, uma busca sobre o que sobrou da existência dela e de como isso transformou outras existências, inclusive a minha", recorda o ator, que é judeu.
Com depoimentos de pessoas próximas a Aracy ou que tiveram sua vida modificada por conta de suas boas ações e com filmagens que mostram lugares por onde ela passou e viveu, "Esse Viver Ninguém Me Tira" documenta mais a ausência de Aracy do que ela própria. "Foi mais ou menos como a barbatana do 'Tubarão' de [Steven] Spielberg. A produção do filme não podia mostrar o tubarão porque ele era um robô muito bizarro. Aí alguém teve a ideia de mostrar só a barbatana, deixando o público criar o seu monstro", explicou Caco. "Tive que criar essa barbatana para o documentário, o que fez com que o filme deixasse de ser sobre a Aracy e acabou virando um retrato do arquétipo de um herói".
A estreia por trás das câmeras foi tão válida que Ciocler espera repetir a experiência em breve. "Me sinto mais preparado para dirigir novamente agora que aprendi com erros e ingenuidades. Já tenho um novo projeto, mas ainda não posso falar sobre isso", declarou o agora cineasta.
(Karen Lemos - Portal RedeTV!)
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