segunda-feira, 28 de julho de 2014

Deborah Secco traz o debate da AIDS ao cinema: "O tema banalizou"


Ao ler os versos do conto "Frontal com Fanta", de Jorge Furtado, Deborah Secco se viu diante da oportunidade que esperou chegar em seus 26 anos de carreira como atriz, que inclui prestigiados trabalhos na televisão e no cinema.

Quando descobriu, através de uma amiga, que Carolina Jabor - filha de Arnaldo Jabor que estreia em seu primeiro longa-metragem de ficção - iria dirigir "Boa Sorte", filme baseado no conto, ela deixou a vaidade de lado e, mesmo com seu vasto currículo, pediu para fazer um teste com a intenção de convencer a diretora a escalá-la como Judite, protagonista da história.

"Eu li o conto e fiquei louca pela Judite", declarou Deborah em entrevista nesta sexta-feira (25) durante o Festival de Cinema de Paulínia, onde o longa foi exibido na noite anterior e arrancou muitos aplausos do público. "Quando soube que Carolina iria dirigi-lo, eu precisava de uma chance. Eu cheguei a falar para minha amiga: 'a atriz desse filme sou eu! Ela precisa me chamar'", recordou, aos risos.

Não precisou de muito para fazer com que a diretora acreditasse que era ela quem tinha que dar vida a personagem principal da história. "A força de vontade dela em fazer esse trabalho me impressionou muito", afirmou Carolina.

Dessa forma, Deborah ganhou o papel de uma mulher que colhe os frutos de uma vida regada a drogas e sexo. Internada em uma clínica, acaba conhecendo João (vivido por João Pedro Zappa), com quem vive um surpreendente amor. Completam ainda o elenco Gisele Fróes, Felipe Camargo e Cássia Kis Magro em ótimas atuações, e Fernanda Montenegro, sempre encantadora, no papel da avó de Judite.

Temática relevante 

Não é só de história de amor que vive "Boa Sorte". Entre suas abordagens, estão duas que, para o elenco, são tão relevantes quanto um romance que desabrocha de forma inesperada em um ambiente inóspito. Primeiro, o filme lida com a procura, cada vez mais preocupante, dos jovens por medicamentos. "Os jovens estão buscando isso muito cedo, mas eu acho importante lidarmos com a dor. Aprendemos muito com ela", opinou Deborah.

É a personagem da atriz, inclusive, que abre discussão para o segundo tema de maior importância do longa. A AIDS. Portadora do vírus HIV, Judite chega em um momento oportuno para se discutir o assunto. "Tive uma preocupação ao falar disso porque muitos jovens hoje agem como se a doença tivesse cura e não tem", ressaltou Deborah. "As taxas de mortalidade vem aumentando e, no Brasil, o risco de contaminação está crescendo (cresceu 11% segundo último relatório feito pela ONU)", destacou. "A doença ainda mata, ainda é cruel e ainda gera preconceito. Essa geração de jovens não viu de perto as perdas que a AIDS causou. A discussão está banalizada e eu fico lisonjeada de levantar essa bandeira de novo".


 João Pedro Zappa e Deborah Secco na coletiva de "Boa Sorte" 

A doença em questão precisava ser retratada, também, no físico da atriz. Para tanto, Deborah emagreceu 11 quilos para conquistar o aspecto abatido que precisava em sua Judite. Embora a aparência raquítica impressione, esse não foi o ponto alto de sua preparação para o filme.

"Não teve essa relevância toda como a imprensa colocou", pontuou. "Me disponibilizar fisicamente foi difícil sim, mas não foi o mais sacrificante". Para ela, transbordar a alegria de viver em uma personagem cuja própria vida castigou, foi de longe mais penoso. "Eu trouxe a morte para o físico, mas tive que trazer a vida para o espírito", explicou.

Novos rumos 

Como começou a atuar muito cedo, aos oito anos de idade, foi difícil para Deborah conduzir a carreira de forma autoral, escolhendo seus papéis e trilhando um caminho que gostaria de seguir artisticamente. "Não era bem isso o que eu queria, mas foi ótimo chegar até aqui", ressaltou.

Estabilizada financeiramente, a atriz pretende explorar rumos mais desafiadores, ainda que isso coloque em jogo o que conquistou até o momento. "Não foi uma carreira errada, foi certa, mas agora quero algo diferente. Quero poder escolher as mulheres que vou viver", concluiu.

(Karen Lemos - Portal RedeTV!)

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