Rosa e Bruno são dois idosos que atingiram os 80 anos e enfrentam o desprezo da sociedade, das pessoas próximas e amadas, como seus próprios filhos. Para os mais novos, os protagonistas desse drama são como crianças à espera da morte. Nada mais resta a eles, a não ser esperar.
Cientes de que ainda há vida pulsando dentro de seus corpos, eles relutam em aceitar essa tese, mesmo que a (re)descoberta de sentimentos o surpreendam a princípio. Ainda assim, Rosa e Bruno acreditam que o destino lhes reservou algo além do previsto e decidem embarcar neste novo desafio proposto.
Ao se esbarrarem, por acaso – ou não, na frente de um prédio onde Rosa acabara de ser despejada por sua própria filha, os dois personagens desenvolvem uma conversa agradável que resgata boas memórias da longa trajetória de ambos e outras lembranças não tão afáveis, mas que divertem da mesma forma, afinal, porque não rir da vida? Essa é a lição que o casal sempre nos passa ao longo do filme.
No dia que se conhecem, surgem sentimentos de afeto impossíveis de serem ignorados. O primeiro beijo acontece naquele primeiro encontro e assusta. Mas torna-se inesquecível. Valeria a pena para Bruno deixar um casamento sólido de anos por uma aventura de paixão incerta? Valeria! Os dois resolvem, então, namorar – como dois adolescentes saboreando sentimentos ainda desconhecidos.
As cenas de amor são surpreendentemente sensíveis. Nada vulgar. Os detalhes, como a textura da pele envelhecida, encantam. Assim como "Chuvas de Verão", de Cacá Diegues, o sexo na terceira idade não é tratada de forma grotesca como sugere o tabu que circunda o tema, mas de forma humana, como merece e deve ser visto.
A rotina do casal, embora estranha à realidade da maior parte das pessoas com menos de 80 anos, comove e diverte. Entre um passeio e outro, Rosa e Bruno têm consultas médicas. A cena em que Rosa procura sua dentadura antes de sorrir para o amado não é grotesca, é encantadora. O amor dessas crianças de 80 anos é juvenil, cheira ao prazer da descoberta.
E quantas descobertas! Outra sequência de destaque é quando o casal, junto com um amigo da mesma faixa etária, experimenta maconha pela primeira vez na vida. Uma cena divertidíssima, mas, acima de tudo, charmosa.
Por se tratar de um drama, a história tem lá os seus percalços. Rosa chega a ser internada em um asilo. Bruno não desiste e vai atrás da amada. Nada atrapalha nossos adolescentes que, mesmo diante de dificuldades, eternizam o momento deles de uma forma que poucos conseguiram ou irão conseguir durante toda a juventude. Uma lição de vida.
(Karen Lemos)
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