domingo, 14 de novembro de 2010
Deborah Secco: “Não enxergo minha carreira sem a Bruna Surfistinha”
Sem dúvida, "Bruna Surfistinha" é um dos filmes mais esperados. E não é só pelo grande público. Deborah Secco, a atriz escolhida para protagonizar a produção, também já não consegue esconder a ansiedade. Deborah definiu seu trabalho no filme como um divisor de águas em sua carreira, por conta da intensidade com que mergulhou dentro do universo sombrio da personagem.
O filme, com direção de Marcus Baldini, leva aos cinemas os detalhes do trabalho de uma garota de programa: Raquel Pacheco, quem dá título ao longa. Na última sexta-feira (29), o trailer do filme foi divulgado para jornalistas em evento em Florianópolis, Santa Catarina, sob muitos aplausos no final da exibição.
Baseado no livro “O Doce Veneno do Escorpião”, a obra cumpre parcialmente sua função de matar a curiosidade das pessoas a respeito do mundo das prostitutas. A protagonista, ela mesmo uma garota de programa, ganhou a vida não somente encantando os homens, mas também relatando com minuciosidade tudo o que fazia com eles.
Diante deste desafio, Deborah resolveu arriscar e se aprofundou em uma realidade que muitos fingem não existir. E a atriz não poderia passar imune à essa experiência tão visceral. “Para qualquer atriz, esse personagem é um presente. Completa e complexa. Atuei de uma forma como há muito tempo eu não atuava: quase virgem de qualquer vício, me desprendendo de tudo que já aprendi, porque tive a oportunidade de, em tão pouco tempo, trabalhar profundo e intensamente na Raquel. Isso é algo realmente excitante para um ator”, afirmou Deborah no evento para o Famosidades.
Uma pessoa conhecida, uma história popular. Antes mesmo que Deborah fosse anunciada, instalaram-se muitas expectativas sobre a adaptação cinematográfica de “O Doce Veneno do Escorpião”. Por conta disso, a produção trabalhou arduamente no projeto. Foram dois anos adaptando o roteiro e três meses de filmagens intensas, fora a pós-produção de “Bruna Surfistinha” que, ao que tudo indica, está sendo muito bem caprichada. Mas, voltando às filmagens, também não foi nada fácil gravar as cenas do longa.
“A Bruna não foi logo de cara para a prostituição de luxo. Quando ela saiu de casa, aos 17 anos, foi trabalhar em pulgueiros. Tivemos que filmar no centro da cidade, ao lado da ‘Cracolândia’ [na região do bairro da Luz, em São Paulo]. Por vezes tivemos que interromper as gravações porque ouvimos meninos de rua drogados gritando alto. A energia por lá era péssima”, recordou.
Esse universo tão rico em informações (“e muito triste também”, acrescentou Deborah), foi um prato cheio para a atriz que se embrenhou em prostíbulos e passou a viver intimamente com garotas de programa. E a vivência trouxe lições.
“Muitas coisas me impressionaram no universo delas. É um mundo chamado de ‘vida fácil’ mas que, para mim, talvez, seja a mais difícil que existe. Elas não são vilãs, elas não fazem mal a ninguém a não ser elas próprias. Fui descobrindo isso ao olhar para os olhos de cada uma delas, era um olhar vazio, já anestesiado por tantos maus tratos. Não tem nada mais grave que se auto-flagelar”, se emocionou Deborah ao lembrar.
Durante seu laboratório, a atriz se mudou para São Paulo na época da produção. Ela contou que, para entender a Raquel Pacheco, passou a viver como ela: sozinha. “Precisava conhecer o que era a solidão, o que era a falta de amor. Venho de uma família extremamente amorosa, e essa necessidade pela solidão foi algo importante para compor a Bruna”, afirmou.
Além dessa experiência, a atriz frequentou assiduamente prostíbulos e casa de striptease. Deborah não ficava com as garotas apenas quando elas subiam ao palco, dançavam ou levavam seus clientes para os quartos. “Também acompanhava elas saindo do quarto, indo se lavar, lavando banheiro; não era fácil. Percebi ali o quão guerreira essas mulheres são”.
Guerreira, corajosas, Deborah se perdeu no meio de tantas definições. Ela própria assumiu que não teria a coragem das garotas de programas que, ao aceitarem convites dos clientes, não sabem se irão voltar para casa, se irão apanhar. Mesmo assim elas vão. Por trás de cada mãe e filha que se prostitui, existe uma família e uma vida para serem sustentadas.
“Com elas aprendi a me livrar de julgamentos, de preconceitos. Tenho outra visão agora. Posso dizer que esse filme mudou completamente minha vida. Mexeu comigo de uma forma tão única, que não enxergo minha carreira sem esse marco que o filme representou”, enfatizou Deborah.
“Bruna Surfistinha” mata sim a curiosidade sobre prostituição. Mas vai além. Fala ainda das muitas vidas que existem por trás do trabalho, e o que as donas dessas vidas aprendem com a rotina depreciativa. “O que me atraiu nessa história foi justamente isso, que existe uma menina por trás da Bruna Surfistinha. Uma menina com seus dramas, tentando solucionar problemas e os desencaixes da vida”, contou Marcus Baldini, diretor do longa (foto acima)
O filme, como deu para imaginar com o depoimento do cineasta, não tem como proposta escancarar e expor a profissão das garotas de programa, apontando até onde está certo e errado dentro dessa prática.
“Ninguém está julgando, estamos apenas contando uma história. E quando contamos uma história de forma isenta, cada pessoa terá uma leitura diversa. Por isso fica complicado generalizar a reação do público. Cada pessoa terá a sua: vai ter gente que sentirá dó ou pena, outros que vão sentir raiva, alguns com nojo, enfim, reações completamente adversas”, complementou Deborah.
“Bruna Surfistinha” estreia dia 25 de fevereiro de 2011, pouco depois de a protagonista estrelar outro papel para a televisão em “Insensato Coração”, próximo novela das 21 horas escrita por Gilberto Braga. Até lá, produtores de “Surfistinha” batalham contra a censura do filme. O desejado é mínimo de 16 anos.
(Karen Lemos - Famosidades/MSN Brasil)
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