terça-feira, 12 de outubro de 2010

Politicamente engajado, "Tropa de Elite 2" mostra amadurecimento












Capitão Nascimento, ou melhor, Coronel Nascimento, está mais velho. "E mais consciente também", como definiu seu intérprete Wagner Moura ao Famosidades, presente na pré-estreia badalada de "Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro" em Paulínia, interior de São Paulo, na noite de terça-feira (5). A fórmula, no entanto, não envelheceu.

Apostando nos elementos e recursos que fizeram o sucesso do primeiro filme - como cenas de ação coordenadas por uma equipe importada do cinema hollywoodiano, "Tropa 2", que chega aos cinemas em 8 de outubro, também se apresenta mais maduro, reformulado, mais ácido e critico por tocar fundo na ferida superficialmente explorada no filme antecessor. Os inimigos do Coronel Nascimento são outros, e a forma como isso aparece na tela é pouco agradável.

A sequência quer buscar a origem da violência e dos problemas urbanos que, ao contrário do primeiro "Tropa", ficou concentrada na briga entre polícia e ladrão, tendo como plano de fundo as favelas do Rio de Janeiro. Passaram-se 15 anos desde que o personagem Nascimento deixou de subir os morros para combater o tráfico de drogas. A batalha agora envolve a política nacional.

Após uma operação fracassada no presídio de Bangu 1, Nascimento é promovido a secretário de segurança pública. Ele agora supervisiona a seção de grampeamentos da secretaria, e é lá que torna-se testemunha de um sistema falho. "Tropa 2" inverte os papéis estabelecidos do primeiro longa: no lugar dos bandidos, a polícia; e no lugar da lei, a corrupção.

José Padilha, diretor dos dois filmes, diz acreditar que o cinema político pode interferir na realidade e, assim sendo, não teme apontar erros nas dirigências do país - que estão totalmente corrompidas - como deixa claro em sua continuação. Confiando na popularidade do Coronel Nascimento e nas sequências de operações policiais de tirar o fôlego, Padilha sentiu-se à vontade para alfinetar. "O Brasil tem um problema muito sério que é de segurança pública. Não é um assunto irrelevante, pelo contrário, é de extrema importância tocar nisso", afirmou.

Nesses aspectos, "Tropa 2" não decepciona. Ação, sangue e violência à vontade, como manda a fórmula bem-sucedida que se estabeleceu em 2007, quando "Tropa de Elite" chegou aos cinemas (antes, claro, nas barraquinhas de camelô). Com menos bordões que o primeiro, e com pitadas de humor-negro que nem sempre funcionam, a sequência dá um pulo e evolui na hora de apontar problemas mais sérios como, por exemplo, a presença e o poder das milícias nas favelas do Rio, sustentado pelo próprio governo da cidade.












Irandhir Santos, Pedro Van-Held e o cineasta José Padilha na pré-estreia disputada em Paulínia

Atrás de uma mesa, Nascimento luta contra forças que as armas do BOPE não derrubam. Além disso, vive conflitos internos com seu filho Rafael (Pedro Van-Held), que se distancia do pai quando descobre as verdades de sua profissão; com o crescimento do aspirante André Mathias, e um embate de ego com seu antagonista, vivido pelo ator Irandhir Santos no papel de um irrefutável defensor dos direitos humanos.

"Fizemos uma reciclagem de tudo que aprendemos no primeiro filme, mas a grande sacada da sequência é descobrir que o grande inimigo é, na verdade, o próprio ser humano", pontuou ao Famosidades André Ramiro, intérprete de Mathias que, em "Tropa 2", assume o posto antes ocupado por Nascimento.

Por mais que se renovem os comandos e mortes se desenrolem nos morros, o sistema embasado no crime e na corrupção sempre irá se readaptar. Neste ponto, "Tropa 2" traça um panorama desesperançoso em busca de uma solução para a problemática da violência urbana. A visão critica de Padilha é ácida, e chega até ao topo da pirâmide do Brasil, com imagens aéreas do Planalto Central, em Brasília, em um momento chave do filme.

Em um país onde "eleição é negócio, e o voto é a mercadoria mais preciosa", como proclama um dos personagens do longa, não é de se espantar que campanhas eleitorais sejam financiadas pelos crimes das milícias, que têm como proposta "proteger" as comunidades do morro. A impunidade chega ao absurdo no retrato da morte de uma jornalista que descobre as falcatruas que envolvem polícia e governo.

Com tantos assuntos delicados e perigosos para serem tratados, Padilha acredita na renovação que a sequência traz, e aposta em seu sucesso, mas sem cantar vitória antecipadamente. "Como em qualquer filme, é possível errar. Cinema é complicado porque, para funcionar, tudo tem que estar perfeito. E dirigir uma sequência está inserido nessa regra."

Enquanto Coronel Nascimento segue com sua batalha profissional, e também lutando contra demônios internos, na vida real o inimigo é o mesmo. "Tropa de Elite", de 2007, foi assistido por, aproximadamente, 11 milhões de espectadores de forma ilegal (ou seja, por cópias piratas), segundo dados do Ibope do mesmo ano. Para a sequência, Padilha e sua trupe estão prontos para surpresas do tipo.

"Tropa 2" foi cadastrado na Agência Nacional do Cinema com outro título, nomes de personagens trocados e elenco falso. O roteiro foi impresso em papel vermelho, impedindo cópias por xerox. Sem se apegar aos detalhes, já dava para ter noção dos preparativos que a produção do filme tomou contra pirataria na própria pré-estreia. Portas com detectores de metal e guarda volumes para celulares, câmeras e gravadores chamaram atenção na entrada do Teatro Municipal de Paulínia, que sediou o evento.

Mesmo com tanta cautela, todo cuidado é pouco. Padilha se preveniu que nenhuma cópia vazasse de modo indesejado. "Para o cara piratear tem que roubar sete rolos de filmes, levar para um telecine que custa R$ 2 milhões. Não vai rolar!", anunciou o cineasta, com ar bem-humorado, seguro de estar guardando um segredo precioso e lucrativo.

(Karen Lemos - Famosidades/MSN Brasil)

Um comentário:

Jujuba disse...

Muito bom esse filme, melhor que o primeiro...