sexta-feira, 2 de abril de 2010

Exposições com artistas de renome agitam cotidiano paulistano

Obras de Andy Warhol, Hélio Oiticica e Maureen Bisilliat chegam à cidade mais heterogênea do país





















No meio da confusão cultural de uma megalópole como São Paulo, é preciso traçar prioridades para aproveitar tudo que a cidade oferece, principalmente a partir do mês de abril, quando três grandes exposições chegam por aqui juntas. Mas, São Paulo é assim. Quando tem coisa boa, vem tudo ao mesmo tempo. Para não se perder, confira detalhes dos atrativos que O Estado RJ reuniu para programar sua agenda cultural do mês:

“Fotografias”

Sempre em busca de sua própria raiz, a inglesa Maureen Bisilliat encontrou identificação em nosso povo e cultura, passando a fotografar diversas facetas do Brasil, um qual que até muitos de nós desconhece. Em cartaz até julho na galeria de arte do Sesi São Paulo, “Maureen Bisilliat: fotografias”, conta com um acervo rico, beirando 200 fotografias cedidas pelo Instituto Moreira Sales.

“A ideia foi abrir a exposição juntamente com um livro de fotografias. Por um lado foi uma coisa trabalhosa, mas também deixou bem mais claro o caminho a ser escolhido”, explica Maureen, que começou a pensar no projeto no inicio de 2009.















A base de “Fotografias” ficou focada em trabalhos que resultaram em publicações ao longo da carreira da fotógrafa. “Nunca me satisfez inteiramente a imagem divorciada, a imagem única; sempre usei como referencia o mundo dos escritores”, explica.

Surge daí, então, grandes parcerias com escritores célebres como Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, e o amigo Jorge Amado. Todo passeio pela galeria do Sesi resulta em uma viagem pelas terras tupiniquins, e também por locais inusitados, estreitamente ligados em suas tradições, em outros países como Japão, China, África, Bolívia, e mundo afora.

“Fotografias” ainda reserva outros atrativos, como objetos, guardados pela artista, que resultam em seu processo criativo. Estão lá negativos do ensaio sobre o Xingu indígena, chapas de fotolitos do livro embasado no clássico literário “Os Sertões”, máquinas de impressão de jornais, correspondências com outros artistas e amigos, e etc.

“Museu é o Mundo”

Desde o incêndio que danificou parte de seu acervo no ano passado, o nome de Hélio Oiticica e sua arte foram apenas comentados no boca a boca; suas obras, porém, jamais tiveram o privilégio da presença do público – elemento mais que essencial na obra de Oiticica.

“A maioria das obras nunca havia sido expostas juntas em um contexto de exposição individual, onde podemos aprofundar questões de seu desenvolvimento ao longo do tempo”, explica César Oiticica Filho, sobrinho do artista.
















O curador da exposição, Fernando Cocchiarale, complementa, ressaltando que o processo artístico de Oiticica não começa e termina em seus “penetráveis”, “bólides”, “parangolés”, “metaesquemas” e outros personagens de seu universo. Todo o ciclo criativo, registrado em anotações obsessivas do artista, também são encontrados lá.

“O diferencial dessa curadoria é que ela se entrecruza através dos escritos. Toda exposição é guiada por citações do próprio Oiticica referente ao processo de criação dos seus trabalhos”, conclui Cocchiarale.

Pioneiro, muito cedo o artista plástico percebeu e visualizou a real importância do público na construção de suas obras. No ano de 1964, notando que as galerias de artes estavam cheias de ‘vazios’ [“Ele compreende que o quadro não é uma exigência da pintura, e sim da obra renascentista”, esclarece o curador], Oiticica revolucionou com a arte que sai do quadro e vai para o espaço real.

O público como influenciador das obras é bem explicitado na arte de Oiticica através de seus penetráveis. Justamente foram essas peças curiosas que, além de estarem presentes no Itaú Cultural – espaço em que a mostra é sediada, também se encontram espalhadas em pontos estratégicos da cidade de São Paulo.

“Oiticica compôs trabalhos para serem expostos na rua [justifica-se aí a frase que batiza a exposição ‘Hélio Oiticica - Museu é o mundo’]. Ele é uma espécie de co-curador da exposição. A única que fiz foi respeitar a vontade dele”, explica Cocchiarale.

“Mr. América”

Líderes políticos, ídolos de Hollywood, artigos de consumo. Nada escapou da percepção sarcástica de Andy Warhol, artista plástico da década de 60 que ganhou fama naturalizando objetos triviais (como sopas, bananas e refrigerantes) e estetizando o “horroroso” aos olhos humanos.


















O que mais chama atenção em “Andy Warhol, Mr. América”, exposta na Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo, sem dúvida é a obsessão do artista pela morte. Retratos de suicídios e registros de acidentes não impressionam tanto, quando colocados lado a lado, em cores diversas.

A arte de Warhol bebeu do vouyeurismo da geração de 60, da alienação e do culto pelas celebridades e dos ’15 minutinhos’ de fama, do qual o próprio Warhol se esbaldou. Sim, pois esse era, acima de tudo, uma estrela vaidosa.

No principio, essa era a idéia de um jovem artista que, em 1962, realizou sua primeira exposição individual, aquela que resultou em 32 telas somente com imagens de sopas Campbell. A relação com o produto é bem curiosa: sua mãe, então afetada financeiramente pela crise dos anos 30 nos Estados Unidos, lhe servia a sopa nos almoços que ficaram gravados em suas lembranças remotas de menino.

A desigualdade social é um dos tantos temas polêmicos abordados pela arte aguçada de Warhol, que criticou o “American Way of Life” usando elementos aparentemente triviais como, por exemplo, uma garrafa de coca-cola, produto consumido pelo mendigo da esquina até pelo presidente dos Estados Unidos. “Nos EUA, o consumidor mais rico compra as mesmas coisas que o pobre. As cocas-colas são todas iguais!”, dizia Warhol.

Além das “Campbells” e “Coca-Colas”, outras serigrafias mais conhecidas também estão lá. Sequências da megastar Marilyn Monroe, do líder comunista Mao Tse-Tung, e do representante da política americana John F. Kennedy aparecem lado a lado, coloridos e banalizados.

Nada surpreendente para um artista que nunca economizou em suas palavras, nem mesmo quando questionado pelo crítico musical da “Interview”, Glenn O’Brien, se realmente acreditava no Sonho Americano. “Não, mas acho que podemos ganhar muito dinheiro com isso”, respondeu.

(Karen Lemos - O Estado RJ)

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