sexta-feira, 8 de maio de 2009

Resenha: Ney Matogrosso e Dan Nakagawa no Teatro Oficina















A programação do Festival de Outono do Teatro Oficina nos presenteou com uma parceria de duas gerações totalmente diferentes, mas que partilham muita coisa em comum. De um lado um contestador experiente que vem se renovando todos os dias sem medo de transgredir, e do outro, uma jovem revelação, apontada como promessa da nova mpb, que está revolucionando o cenário da música pop atual.

As vésperas de lançar seu novo trabalho “O Oposto de dizer Adeus”, Dan Nagakawa já está fincando os pés no sucesso, sua música que mistura o que há de mais moderno com o clássico vem agradando nomes como Nando Reis e Lulu Santos. Convidado pelo Teatro Oficina a se apresentar no Festival de Outono, Dan decidiu chamar um ilustre personagem da música brasileira: Ney Matogrosso. Ex Secos&Molhados, o cantor escandalizou o país no início dos anos 70 com sua pose irreverente e contestadora – que mantém até os dias de hoje. Em seu atual trabalho, o elogiado “Inclassificáveis”, Ney interpreta uma das canções compostas por Dan, “Um Pouco de Calor”, que está estourando nas rádios nacionais.

Para o grande encontro, foi escolhido um lugar muito especial: o Teatro Oficina. Não há nada melhor do que reunir esses dois grandes artistas no palco de uma das mais importantes companhias de teatro do país, e que foi o antro do tropicalismo e da contracultura brasileira nos anos 60/70. A responsabilidade de se fazer uma apresentação em chão histórico era grande, Dan e Ney o fizeram primorosamente.
Repertório
Em meio aos andaimes do Teatro Oficina, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi (a mesma que desenhou o prédio do MASP), surge Nakagawa lá do alto, em uma passarela que passa por cima do público. Cantando Apartamento 133, de sua autoria, Dan desce as escadas para chegar no pequeno pedaço de palco, coberto de glitter, reservado a ele. Existe todo um jogo de luzes (sobretudo azuis e vermelhas) e fumaça que dão um clima muito especial na apresentação. A fumaça incomoda um pouco a platéia, mas traz um efeito bem interessante, destacando o semblante de Dan.
O ambiente estava pronto para receber canções de Chico Buarque (“Construção”) Caetano Veloso (“Tropicália”, em uma releitura super interessante), o clássico de Ângela Rô Rô (“Amor Meu Grande Amor”), entre outros. A principal sacada do repertório de Dan está em modernizar clássicos da mpb, com novos arranjos criados por sua banda (que é talentosíssima, por sinal) e o seu jeito único de cantar, meio zen, sossegado.














Já que o assunto aqui é clássicos da mpb, que entre o convidado. Nos primeiros acordes inconfundíveis de Sangue Latino (sucesso do primeiro LP de Secos&Molhados) surge Ney Matogrosso, brotando do meio da platéia. Sua postura é totalmente diferente: das telas do cinema Ney trouxe os traços do Bandido da Luz Vermelha, personagem que o cantor está vivendo no longa “Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha”, com estréia prevista para o ano que vem. Agora, adivinhem a luz que predominou no momento de sua entrada.

A versão estendida de Sangue Latino arrepiou o público que, em seguida, cantou junto o sucesso “Um Pouco de Calor”. Pausa. Ney senta-se em uma cadeira colocada estrategicamente no canto do palco – mas as vistas da platéia -, é de lá que ele assiste Dan cantando a ótima “Um Cano de Revólver”. Os dois saem, o público pede bis, e a dupla volta agora com “Na Neblina do Samba” (recomendadíssima, confiram no MySpace do Dan). Lá pelas voltas do segundo refrão, Ney faz a loucura de se enfiar no meio da platéia que enlouquece, ele é tomado por um mar de mãos afobadas e some durante alguns instantes. Quando volta, é para fechar o show, cheio de pose, ao lado de Dan. A química dos dois é realmente impressionante. O sentimento geral foi de ter presenciado um grande show, histórico em todos os sentidos. E ficou um gostinho de quero mais...

Festival de Outono

Até o dia 15 de Maio o Teatro Oficina apresenta uma programação variada com peças de teatro, música, espetáculos e mostra de filmes (alguns raros, retirados do acervo do Teatro). Os eventos são gratuitos, e os ingressos podem ser adquiridos uma hora antes de cada apresentação. Confira toda a programação em: http://www.teatroficina.com.br/

Set List - Ney Matogrosso e Dan Nakagawa

01 - Apartamento 133
02 - Tropicália
03 - Furobá
04 - Amor Meu Grande Amor
05 - Eu Sofro por Amor
06 - O Oposto de Dizer Adeus
07 - Amor Bandido
08 - Não Estamos Sós
09 - Infinito Distante
10 - Sangue Latino (Com Ney)
11 - Um Pouco de Calor (Com Ney)
12 - Cotidiano
13 - Um Cano de Revólver
14 - Na Neblina do Samba (Com Ney)

*Fotos: Teatro Oficina




(Karen Lemos)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Bossa Nova recebe homenagem na França















Tom Jobim no documentário "A casa do Tom, mundo, monde, mondo"

Em meio as comemorações do ano da França no Brasil, nada mais pertinente do que uma homenagem aos 50 anos da bossa nova na terra dos vinhos e perfumes.

De 29 de abril a 12 de maio os franceses vão poder conferir uma seleção de 30 filmes nacionais, entre documentários e filmes de ficção, no Festival do Cinema Brasileiro de Paris. O evento que já está em sua 11º edição tem como proposta divulgar o nosso cinema lá na França. Neste ano o famoso cinema Latina foi escolhido para sediar o festival, para tanto, o local foi todo reformado recebendo até um novo nome: Novo Latina. A escolha não foi ao acaso, tudo teve um propósito maior, já que a mais de 20 anos o Latina se dedica à divulgação de filmes produzidos na América Latina.

Não é só França e Brasil que estão em festas, a bossa nova, estilo musical brasileiro nascido na década de 50 que misturava o jazz com a mpb, comemora o seus 50 anos e terá um espaço especial dentro do festival. Serão apresentados três documentários que abordam o tema: "Coisa mais linda - Histórias e casos da bossa nova", de Paulo Thiago, "A casa do Tom, mundo, monde, mondo", de Ana Jobim (sim, a esposa do homem), e "Vinícius", de Miguel Faria Jr, sobre o poeta que compôs hinos da bossa nova ao lado de Tom Jobim.

Os filmes de ficção também trazem a presença da bossa, são exemplos "Os Desafinados", de Walter Lima Jr, sobre um grupo de jovens músicos amantes do gênero e "Chega de Saudade", de Laís Bodanzky, filme que se passa em um baile da terceira idade e conta as histórias de seus frequentadores.

Além da bossa, outros temas são abordados em diversas produções exibidas no festival: "Feliz Natal", de Selton Mello, "Meu nome não é Johnny", de Mauro Lima, "Se nada mais der certo", de José Eduardo Belmonte, "Um romance de geração", de David França Mendes, "Todo mundo tem problemas sexuais", de Domingos Oliveira, e "Verônica", de Maurício Farias.

A abertura fica por conta de "Romance", de Guel Arraes, e "Palavra (en)cantada", de Helena Solberg, terá a tarefa de encerrar o festival, e com chave de ouro, já que "Palavra" também passeia pelo cenário musical, tratando da poesia nas composições da mpb com destaque para os depoimentos de grandes nomes da nossa música como Chico Buarque, Tom Zé, Maria Bethânia, entre outros.

Clube CBGB é tema de documentário














Conhecido por ser o berço do punk rock nos Estados Unidos, o famoso clube CBGB recebe uma singela homenagem em documentário exibido no Festival de Cinema de Tribeca. Dirigido por Mandy Stein, “Burning Down the House: The Story of CBGB”, mostra as faces do clube habitado por punks maltrapilhos, com seus banheiros nojentos coberto de grafites - perfeitos para o consumo de drogas e a prática de sexo - e, claro, sempre rolando muito som pesado.

Localizado nos lados sujos de Manhattan, em Nova York, o CBGB já teve em seus palcos a presença de bandas punk rock que na época em que se apresentaram (por volta da década de 70, no auge do clube) estavam ainda no inicio de suas carreira. Nomes como Ramones, Patti Smith, Blondie, Television e Talking Heads - compositores da música usada como título do documentário - passaram pelo palco do clube sem saber que, mais tarde, seriam reconhecidos como pioneiros da música punk.

O CBGB foi fechado em 2006 devido a disputas pelo seu aluguel; hoje, o local decadente que abrigou o clube é considerado bairro de luxo. Mas a história da casa não fica restrita apenas as famosas camisetas que desfilam por aí trazendo as siglas do clube. Recentemente, os entulhos que sobraram do CBGB foram alugados pelo estilista John Varvatos, que reformou a casa e a transformou em museu, onde centenas de fãs e curiosos de plantão visitam o local e relembram a magia de um momento (e lugar) único da música.

A diretora Mandy Stein se mudou de Los Angeles para Nova York em 2005, a princípio para acompanhar de perto a disputa de alugueis sobre a casa. Acabou tomando conhecimento de algumas histórias interessantes sobre o lugar e entrevistou pessoas e personalidades que por lá passaram ou que tiveram alguma importância no histórico do clube. Quando percebeu, viu que tinha um ótimo acervo de pesquisa sobre o CBGB, surgiu então a idéia de se fazer o documentário.

A estréia será no tradicional Festival de Cinema de Tribeca que também contará com a exibição de "Garapa" do brasileiro José Padilha. Uma curiosidade é que este ano o festival tem se mostrado afetado pela crise econômica já que anunciou alguns cortes na edição de 2009, que terá um número menor de filmes exibidos.