sexta-feira, 30 de maio de 2008
Atriz brasileira é premiada em Cannes
Ela não é muito conhecida por aqui, mas a brasileira Sandra Corveloni conseguiu o que muitas atrizes internacionais almejam: o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.
Em seu primeiro papel no cinema (a atriz fazia trabalhos apenas no teatro) Corveloni saiu do anônimato e conquistou um dos principais prêmios do cinema, entrando para o hall das grandes personagens do cinema brasileiro.
E não foi nada fácil, ao lado de grandes nomes como Juliane Moore e Angelina Jolie, Corveloni se destacou com seu papel em "Linha de Passe" (de Walter Salles) e conquistou o júri - que esse ano tinha Sean Penn como presidente.
No longa, a brasileira interpreta Cleuza, uma doméstica, mãe dos quatro irmãos - personagens principais do filme. Em uma interpretação inspirada, ela dá vida a empregada grávida de um pai desconhecido, que passa por dificuldades.
A atriz não pode comparecer a entrega do prêmio - que foi recebido pelos realizadores Walter Salles e Daniela Thomas - mas de São Paulo, ela disse estar extremamente surpresa e agradecida. "Achava que o filme ia ganhar algo, mas não eu".
Sandra Corveloni não foi a única latino americana a sair com a palma de ouro na mão, na categoria masculina, quem levou o prêmio foi o porto-riquenho Benicio Del Toro por sua elogiada interpretação em "Che", de Steven Soderbergh. Benicio vive Che Guerava, o principal personagem desse trabalho de quatro horas e meia, que contou com uma pequena participação do brasileiro Rodrigo Santoro, interpretando Raúl Castro, irmão de Fidel Castro e atual presidente de Cuba.
Ainda na premiação, o turco Nuri Bilge Ceylan foi considerado o melhor diretor por 'Três Macacos', drama de uma família cercada por tragédias, que por muito tempo foi considerado o favorito ao prêmio de melhor filme.
Mas não foi dessa vez. O prêmio de melhor filme - considerado o principal do festival de Cannes - foi entregue a "Entre Les Murs", do francês Laurent Cantet. A tempos a França não comemorava uma vitória em seu festival local, e foi bem merecido. O filme se passa dentro de uma sala de aula na periferia de Paris, onde um professor tenta disciplinar a turma de alunos de diferentes etnias que vivem em conflito. O tema destaca bem a questão da imigração, que é um assunto polêmico na França. O teor social-politico ajudou na decisão dos jurados, já que o presidente do júri, Sean Penn, é engajado nas causas políticas.
Para fechar com grande estilo, o festival ainda prestigiou a carreira de Clint Eastwood e da atriz francesa Catherine Deneuve, que foram homenageados com um prêmio especial.
Conheça todos os vencedores
..e até Cannes 2009.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Começou..
A mostra competitiva (que distribui os prêmios do festival) foi iniciada por “Ensaio sobre a cegueira” (Blindness), do diretor brasileiro Fernando Meirelles (famoso pelo longa “Cidade de Deus” – que já desfilou no tapete vermelho de Cannes). O filme é uma adaptação de um livro do escritor português José Saramago e conta com um elenco de primeira: os norte-americanos Julianne Moore, Mark Ruffalo e Danny Glover, além do mexicano Gael Garcia Bernal e a brasileira sensação-do-momento, Alice Braga.
Ensaio Sobre a Cegueira é uma co-produção de Brasil, Japão e Canadá; na trama a população de uma grande cidade (parte das cenas foram gravadas na cidade de São Paulo) sofre com uma epidemia, sem explicações, que deixa cego os habitantes locais. Por ser uma doença contagiosa, os infectados são tirados do convívio social e levados a um sanatório. A situação em que vivem os pacientes abandonados dão um tom de degradação ao filme – que incluem fezes, urina, restos de comida e uma sucessão de estupros (cenas polêmicas que foram amenizadas para não chocar tanto).
A estréia do filme contou com todo o elenco, além da presença de algumas celebridades, como Dennis Hopper, Faye Dunaway e Cate Blanchett. A recepção dos jornalistas e críticos presentes na exibição do filme foi fria, não houve aplausos, e a imprensa divulgou opiniões diversas, algumas criticando e outras elogiando.
Mesmo assim, já é um grande passo um filme brasileiro dar inicio ao principal festival de cinema da Europa. Porém, Fernando Meirelles não está sozinho. “Linha de Passe”, de Walter Salles também irá competir na mostra do festival. O longa conta a história de um garoto que sonha ser jogador de futebol (interpretado por Vinicius de Oliveira – o menino de “Central do Brasil”, lembram dele?). A estréia mundial de “Linha de Passe” está marcada para este sábado (dia 16). Além de Salles, o ator Matheus Nachtergaele estréia como cineasta em “A festa da menina morta”, que será exibido na mostra Um Certo Olhar. Só para citar alguns dos trabalhos brasileiros que vão passar pelo festival.
Para competir com Fernando Meirelles, estarão grandes nomes do cinema, entre eles, Clint Eastwood, trazendo “Changeling”, estrelado por Angelina Jolie; Steven Soderbergh, que traz seu épico “Che”, em que Benicio Del Toro dá vida a Ernesto Che Guevara - com quatro horas de duração, “Che” conta com a participação do ator brasileiro Rodrigo Santoro, na pele de Raul Castro (irmão de Fidel Castro); e Wim Wenders, com “Palermo shooting”, trazendo Dennis Hoper no elenco.
Fora de competição estão filmes recentes, que terão sua estréia em Cannes; é o caso de "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal", do diretor Steven Spielberg e do produtor George Lucas, e "Vicky Cristina Barcelona", de Woody Allen, com Scarlett Johansson, Penélope Cruz e Javier Barden no elenco. Outro destaque é “Surveillance”, de Jennifer Lynch (filha do cineasta David Lynch) e o documentário “Maradona”, sobre o craque argentino, realizado pelo sérvio Emir Kusturica.
O júri do festival desse ano terá a presença de grandes artistas como os atores Sean Penn e Natalie Portman, além de Marjane Satrap, a quadrinista iraniana que teve sua animação “Persépolis”. Na coletiva de apresentacao do júri, Sean Penn deixou claro que o festival não vai deixar de lado os assuntos políticos: ''Não vamos esquecer do tempo em que vivemos hoje''. – se referindo aos 40 anos de maio de 1968 (naquele ano, o festival de Cannes foi interrompido devido aos boicotes dos membros do júri e dos participantes das mostras.)
O festival ocorrerá entre os dias 14 e 25 de maio, sendo dia 25, a noite das premiações.
terça-feira, 13 de maio de 2008
sábado, 10 de maio de 2008
40 anos do Maio de 1968
2 de maio de 1968. A universidade de Nanterre, na França, é fechada devido aos estudantes que invadiram o local para protestar contra a burocracia da rede ensino francês. Esse foi o estopim para o que ficaria conhecido como as revoltas de 1968.
Com o fechamento da Universidade, os estudantes de Nanterre ganharam as ruas, apoiados por outros estudantes indignados. Logo, os trabalhadores dos sindicatos franceses aderiram a causa e cruzaram os braços. As fábricas entraram em greve geral e cerca de 2/3 dos trabalhadores da França cobravam melhorias do governo. Juntando os estudantes, trabalhadores e milhares de pessoas nas ruas, não é de se espantar que essas manifestações ganhassem o mundo.
Através dos meios de comunicação de massa, os protestos chegaram a proporções grandiosas, atingindo principalmente a cultura. Artistas de todo o mundo apoiavam o movimento; se não fosse por 1968 nunca conheceriamos "Revolution" dos Beatles, ou então "Street fighting man" (que traduzindo para o portugês seria algo como "homem das lutas de rua" - referência clara as manifestações de rua da época), dos Rolling Stones, além de outras referências na música como Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Doors, e muitos outros.
No cinema também houve mudanças; os cineastas franceses Jean Luc Godard e François Truffaut - principais nomes da "Nouvelle Vague" - não teriam o destaque que tiveram se não fosse pelo 1968; Godard chegou a boicotar o Festival de Cannes da época, em prol aos movimentos estudantis.
Nesse ano, os Estados Unidos estavam vivendo o drama da guerra do Vietnã, que indignava cada vez mais os americanos. Com a morte do líder dos militantes, Martin Luther King, os americanos mergulharam na busca por democracia, os movimentos revolucionários na França impregnaram nos Estados Unidos, dando vez ao movimento hippie e a contracultura americana, que até hoje permanece atual.
Aqui no Brasil estavamos mais do nunca longe da esperança pela democracia. Com o regime militar, estudantes protestavam nas ruas e davam inicio a grupos revolucionários de esquerda; o mais conhecido deles é o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) - que ficou famoso pelo sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, no dia 4 de setembro de 1969.
As manifestações da população e a censura do regime foram o ponta pé inicial para o movimento tropicália, a contracultura no Brasil, trazendo artistas como Caetano Veloso que, unido aos Mutantes, conclamavam "É proibido proibir", e também Chico Buarque e Gilberto Gil com a descarada "Cálice"; enquanto isso, os estudantes entonavam "Caminhando e Cantando", de Geraldo Vandré - de braços dados na rua - assim como era feito na França.
Com o tempo, os protestos foram esfriando em todo o mundo, mas a importância que teve os movimentos revolucionários de 1968, ficará para sempre registrados na história. 40 anos depois, as contribuições da época ainda permanecem: a busca pelos direitos humanos e civis, a igualdade sexual, e uma contribuição enorme para a cultura. Eles conseguiram tudo isso em 1968, será que hoje ainda somos capazes de fazer um grande feito como aquele?
Para saber mais sobre o assunto recomendo "1968 - O Ano que não terminou", do jornalista Zuenir Ventura.
Aqui estão alguns links interessantes:
Especial do G1 sobre o movimento
Fotos das manifestações
As músicas que influênciaram na época
Livros e filmes sobre 1968 no Brasil