Aline Lata/Divulgação
A história de Marlon e Ricardo, ambos com 21 anos, era desconhecida até o dia 5 de novembro de 2015. Daquele dia em diante, tudo mudou para eles e para os outros residentes de Mariana, em Minas Gerais, onde a mineração representa 80% da arrecadação do município. A dupla cresceu vendo Mariana estreitar laços com a mineradora Samarco, que sitiavam os moradores cada vez que adquiria terrenos ao redor de bairros da cidade.
A vida tranquila dos munícipes virou notícia naquele mesmo dia, quando uma barragem administrada pela Samarco se rompeu, jorrando um mar de lama pela cidade, destruindo completamente distritos - como Bento Rodrigues, onde moravam - matando 17 pessoas e dizimando a fauna e a flora da região.
Hoje, Ricardo mora com mais oito familiares em uma casa alugada pela mineradora. A mãe recebe um salário mínimo de R$ 788 e, por ser considerada a chefe da família, é a única do clã a receber o ordenado. Ricardo e o restante embolsam somente 20% desse valor: R$157,60.
Marlon, por sua vez, foi morar com a mãe a irmã na região ainda intacta de Mariana. A situação da família de Marlon é a mesma de Ricardo: somente a chefe da família, no caso a mãe, recebe um salário mínimo e os filhos apenas 20% desse montante.
Tendo que encarar a triste realidade que chegou através da mesma empresa que subsidiava o município, Marlon e Ricardo têm como garantia apenas duas coisas: lembranças de um passado enterrado na lama e a esperança de um futuro ainda incerto com a construção de uma nova Bento Rodrigues.
Helena Wolfenson/Divulgação
Rastro de Lama
Doze dias depois, Aline Lata e Helena Wolfenson saíram de São Paulo e viajaram até Mariana, onde tiveram uma ideia da dimensão de destruição causada pela lama. Nesse ínterim, elas tiveram contatos com muitas das pessoas atingidas pela calamidade, como Marlon e Ricardo. Esses personagens acabaram inspirando-as para realizar um documentário sobre a tragédia.
Os rapazes, que dão rosto ao maior desastre ambiental do país, são os protagonistas do documentário “Rastro de Lama”, que ainda está em processo de produção. Para finalizar a obra, as diretoras criaram um financiamento coletivo para possibilitar que o trabalho continue.
“A ideia é documentar do início ao fim o desfecho dessa catástrofe e os caminhos percorridos pelos personagens atingidos, desde a destruição de Bento Rodrigues até a prometida reconstrução de uma Nova Bento”, diz a página do projeto.
Bancada pela própria equipe e também por doações, a etapa de pesquisa de “Rastro de Lama” já foi concluída. Agora, Aline e Helena usarão os recursos captados para registrar mais profundamente a vida seus personagens; esse processo resultará um curta-metragem. Na terceira e última etapa, as diretoras farão um longa-metragem com o material através de editais de cinema.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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