segunda-feira, 6 de abril de 2015

Alunos se vestem de membros da Ku Klux Klan em trote universitário

Reprodução/Facebook

Uma festa para a recepção de calouros do curso de medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) virou alvo de investigação depois que fotos do evento passaram a circular na internet, mostrando alunos do sexto ano - organizadores da festa - vestidos como membros da Ku Klux Klan, que defende a existência de uma supremacia branca.

Em nota, a Unesp declarou que vai instaurar uma comissão para apurar o que ocorreu na festa, chamada "Batizado da Medicina", realizada em 5 de março em Botucatu, interior de São Paulo.

"A Comissão responsável pela apuração deverá levantar informações, confrontando sua veracidade, obtendo nomes, datas, horários, fiscalizando a existência de câmeras, fotos e requerendo providências que se façam necessárias e que possam resultar em provas substanciais", diz a nota.

Caso fique comprovado infração ao regimento geral da Unesp após esta apuração, será aberta sindicância, que pode aplicar sanções aos estudantes envolvidos, que variam conforme a gravidade do caso, podendo chegar à expulsão.

Alunos se defendem 

Os estudantes do sexto ano de medicina se manifestaram em uma rede social esclarecendo que as fantasias usadas na festa não eram uma representação da Ku Klux Klan. "O tema da fantasia escolhido foi de 'carrasco', utilizando roupas pretas e máscaras. As fantasias foram utilizadas apenas para a entrada da turma, sendo que foram retiradas logo após a entrada, dando início a confraternização com os calouros no evento”, garantem os organizadores do evento em nota.

Reprodução/Facebook 

No comunicado, os alunos ainda citaram ameaças que disseram ter sofrido após a "descontextualização" de suas fantasias. “A conclusão de que estávamos fantasiados de 'Ku Klux Klan' foi inferida pela forma como foram divulgadas as imagens, descontextualizando totalmente a fantasia e inserindo imagens que fizessem com que os leitores chegassem a essa conclusão. Nós só retiramos as imagens porque as pessoas que estavam nas fotos começaram a ser ameaçadas”, completam na nota.

Em outra publicação, alguns participantes da festa assinaram um documento garantindo que não sofreram violência física ou moral no "Batizado da Medicina".

Punições cabíveis 

O advogado Daniel Bento Teixeira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) afirmou que as punições, caso a discriminação racial seja comprovada após apuração da universidade, podem ser desde acadêmicas, civis - como indenizações a quem se sentir ofendido pelo ato - e até penal. "Os estudantes podem ser processados pelo artigo 20 da lei Nº 7.716, que criminaliza a discriminação racial, podendo pegar de um a três anos de prisão e multa, uma vez apurado e ficando claro a existência do crime", ressaltou.
O preconceito racial, aliás, foi tema da redação do vestibular deste ano da Unesp, o que indica uma preocupação das universidades com relação ao tema na teoria, mas ainda insuficiente na prática.

Na opinião de Daniel, as universidades têm um papel essencial não só em fiscalizar os trotes como também em incluir aulas de diversidade humana em suas grades curriculares. "Me preocupa muito o tipo de profissional que está sendo formado e que, futuramente, no caso dos estudantes de medicina, terão um papel determinante na vida das pessoas", completa o advogado.

(Karen Lemos - Portal RedeTV!)

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