terça-feira, 28 de abril de 2015

Bateristas tocam vendados para divulgar projeto que ensina música a deficientes



João Barone, do Paralamas do Sucesso, Guto Goffi, do Barão Vermelho, Paulinho Fonseca, do Jota Quest, Daniel Weksler, do NX Zero, entre outros bateristas de renome, já aderiram à campanha, criada na semana passada, para divulgar o projeto Alma de Batera que, desde 2008, oferece aulas de bateria para deficientes que amam a música.

A ideia é que os bateristas toquem vendados e registrem, em vídeo, a experiência. A iniciativa é parte de uma campanha para arrecadar fundos para o projeto que, atualmente, sofre com problemas financeiros.

"Trabalhar com inclusão social no Brasil é muito difícil, principalmente com algo que envolve a música", ressalta o baterista Paul Lafontaine, que decidiu fundar o Alma de Batera após trabalhar com cegos em um projeto voluntário.


Não se trata, no entanto, de musicoterapia. "O Alma de Batera oferece oportunidade para quem quer fazer aulas de bateria como qualquer outra pessoa. Não é uma terapia, embora acabe funcionando dessa forma também", explica Paul que, desde que iniciou o projeto, tem observado mudanças positivas em seus alunos.

"Vejo que eles criam uma autoestima, se sentem mais confiantes, tem a coordenação estimulada, uma vontade de participar mais das coisas, de socializar, enfim, vários resultados que não dá nem para mensurar o quanto são positivos para eles".

As mudanças também partem daqueles que dão aula. Além de Paul e outros professores do Alma de Batera, alguns bateristas famosos, como Eloy Casagrande, do Sepultura, já visitaram a sede da iniciativa e passaram uma tarde falando de música, tocando bateria e trocando experiências com os alunos.


"Os bateristas também sentem mudanças com essa troca. Eles chegam para nos ajudar e relatam uma sensação de que, no final, eles que foram ajudados. É uma troca muito forte", conta Lafontaine que tem divulgado, ao longo da semana, vídeos dos bateristas que toparam participar da campanha e tocaram com os olhos vendados.

 "Queremos que as pessoas 'abram os olhos' para nós, para que possamos continuar com esse projeto cuja causa maior é o amor pela bateria", completa.

(Karen Lemos - Portal RedeTV!)

segunda-feira, 13 de abril de 2015

É Tudo Verdade abre com homenagem póstuma a Eduardo Coutinho


Eduardo Coutinho abriu – em merecida oportunidade – a 20ª edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, que teve início em São Paulo, na noite dessa quinta (9), com destaques do panorama nacional e internacional, além de retrospectivas e exibições especiais de filmes documentais. 

Últimas Conversas, filme no qual o cineasta se despede de seu público, ficou pronto a tempo de sua estreia para a abertura do evento. Coutinho morreu, em fevereiro de 2014, enquanto concluía o longa. Filmou, mas não teve a oportunidade de montar sua derradeira obra, papel que coube aos seus colaboradores de longa data João Moreira Salles e Jordana Berg.

“Montar esse filme veio de uma necessidade minha de permanecer com Coutinho mesmo após sua morte”, contou Jordana em conversa com a Revista O Grito!. “Para algumas pessoas, o luto chegou no dia da morte do Eduardo, para mim, está chegando agora, já que eu pude ficar mais um ano com ele na ilha de edição”, completou a montadora, que passou dez meses cuidando do material deixado pelo documentarista.

Em Últimas Conversas, Coutinho entrevista jovens estudantes do ensino público do Rio de Janeiro. Entre algumas histórias trágicas, curiosas e hilárias dos alunos, contrapondo com uma visão ainda cheia de esperança dos mais novos, o documentarista revela seu processo como entrevistador. Por vezes, a inversão de papéis é permitida e os adolescentes parecem entrevistá-lo por acidente, dando espaço para que o cineasta esmiúce suas opiniões. Este tipo de abordagem, ressalta Jordana, apareceu em uma segunda montagem do filme.


“A primeira montagem estava a cara do Coutinho. Como conheço ele há muito tempo, fiz o filme com a cabeça dele. Mas acho que a segunda montagem ficou mais fiel à captura da pessoa que foi Coutinho”. Ao dedicar a sessão a Eduardo e ressaltar sua importância como o principal praticante do gênero no país, João Moreira Salles falou de sua amizade pessoal e profissional – o que lhe garantiu produzir os últimos filmes de Coutinho – e do legado deixado pelo seu maior incentivador.

“Não tenho dúvidas de que ele foi a pessoa mais importante na minha formação. Perdi uma grande pessoa que me norteava, mas conheci Coutinho tão bem que, até hoje, conversamos muito. Não é uma bobagem, tenho muito dele dentro de mim”, pontuou João, que assina a versão final do filme.

Eduardo Coutinho, 7 de Outubro 

Além de Últimas Conversas, também está em cartaz o documentário Eduardo Coutinho, 7 de Outubro. Dirigido por Carlos Nader, o filme não chega como uma biografia, mas sim como uma análise visceral da obra sob o ponto de vista de seu próprio autor.

No lugar dos personagens aparentemente rasos, mas que se revelam ricos diante da provocação do entrevistador, está o próprio documentarista. Diante da câmera, Coutinho fala sobre tudo; seu papel como documentarista, sua arte de instigar o entrevistado, suas amarguras da vida, suas opiniões sobre qualquer tema – sempre pontuadas por uma acidez e alguns palavrões – e também entra em contato com sua obra, recordando alguns célebres personagens que contribuíram para que seus filmes se tornassem únicos.


Na estreia do longa, que aconteceu mês passado na capital paulista, Nader contou que “7 de Outubro” não era para ser um filme. “Foi uma impressionante série de coincidências”, explicou. “Eu estava fazendo um projeto sobre terceira idade com o Coutinho e, como na ocasião ele tinha pouco tempo para falar comigo por conta das gravações de seu último filme, tivemos que conversar rapidamente por 15 minutos. Claro que não deu certo; a entrevista durou cinco horas e só foi interrompida porque eu tinha um voo naquele mesmo dia”.

Dessa forma, com um vasto material em mãos, Carlos decidiu fazer do projeto um longa-metragem. O documentário estreou sem grandes alardes em 2013 e está sendo lançado novamente após a lamentável morte do cineasta. “Acho que a vontade deste filme era a de ser um filme mesmo”, completou Nader.

(Karen Lemos - Revista O Grito!)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Alunos se vestem de membros da Ku Klux Klan em trote universitário

Reprodução/Facebook

Uma festa para a recepção de calouros do curso de medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) virou alvo de investigação depois que fotos do evento passaram a circular na internet, mostrando alunos do sexto ano - organizadores da festa - vestidos como membros da Ku Klux Klan, que defende a existência de uma supremacia branca.

Em nota, a Unesp declarou que vai instaurar uma comissão para apurar o que ocorreu na festa, chamada "Batizado da Medicina", realizada em 5 de março em Botucatu, interior de São Paulo.

"A Comissão responsável pela apuração deverá levantar informações, confrontando sua veracidade, obtendo nomes, datas, horários, fiscalizando a existência de câmeras, fotos e requerendo providências que se façam necessárias e que possam resultar em provas substanciais", diz a nota.

Caso fique comprovado infração ao regimento geral da Unesp após esta apuração, será aberta sindicância, que pode aplicar sanções aos estudantes envolvidos, que variam conforme a gravidade do caso, podendo chegar à expulsão.

Alunos se defendem 

Os estudantes do sexto ano de medicina se manifestaram em uma rede social esclarecendo que as fantasias usadas na festa não eram uma representação da Ku Klux Klan. "O tema da fantasia escolhido foi de 'carrasco', utilizando roupas pretas e máscaras. As fantasias foram utilizadas apenas para a entrada da turma, sendo que foram retiradas logo após a entrada, dando início a confraternização com os calouros no evento”, garantem os organizadores do evento em nota.

Reprodução/Facebook 

No comunicado, os alunos ainda citaram ameaças que disseram ter sofrido após a "descontextualização" de suas fantasias. “A conclusão de que estávamos fantasiados de 'Ku Klux Klan' foi inferida pela forma como foram divulgadas as imagens, descontextualizando totalmente a fantasia e inserindo imagens que fizessem com que os leitores chegassem a essa conclusão. Nós só retiramos as imagens porque as pessoas que estavam nas fotos começaram a ser ameaçadas”, completam na nota.

Em outra publicação, alguns participantes da festa assinaram um documento garantindo que não sofreram violência física ou moral no "Batizado da Medicina".

Punições cabíveis 

O advogado Daniel Bento Teixeira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) afirmou que as punições, caso a discriminação racial seja comprovada após apuração da universidade, podem ser desde acadêmicas, civis - como indenizações a quem se sentir ofendido pelo ato - e até penal. "Os estudantes podem ser processados pelo artigo 20 da lei Nº 7.716, que criminaliza a discriminação racial, podendo pegar de um a três anos de prisão e multa, uma vez apurado e ficando claro a existência do crime", ressaltou.
O preconceito racial, aliás, foi tema da redação do vestibular deste ano da Unesp, o que indica uma preocupação das universidades com relação ao tema na teoria, mas ainda insuficiente na prática.

Na opinião de Daniel, as universidades têm um papel essencial não só em fiscalizar os trotes como também em incluir aulas de diversidade humana em suas grades curriculares. "Me preocupa muito o tipo de profissional que está sendo formado e que, futuramente, no caso dos estudantes de medicina, terão um papel determinante na vida das pessoas", completa o advogado.

(Karen Lemos - Portal RedeTV!)