sábado, 29 de novembro de 2014

Fotógrafa retrata opinião de moradores da Rocinha três anos depois da Pacificação


Moradora da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, antes, durante e depois da Pacificação, a fotógrafa norte-americana Margaret Day decidiu retratar a opinião da comunidade em que viveu, entre os anos 2011 e 2014, em um ensaio fotográfico batizado “The Residents Speak – Os Moradores Falam”.

Em entrevista a RedeTV!, Margaret disse que tomou a decisão de realizar este projeto após notar o abismo que existe entre a percepção das pessoas a respeito da vida nas favelas e da realidade que de fato acontece morro acima. "Eu sei como é estratificada a sociedade brasileira", declarou em conversa com a reportagem. "Eu sabia que essas opiniões seriam uma surpresa para quem vive na 'cidade formal'. A maioria das pessoas que conheço que não vivem em favelas não entendem a realidade delas".

Para o ensaio, Margaret fez a seguinte pergunta a 21 moradores da Rocinha. “Você prefere a Rocinha antes ou depois da instalação da UPP?”, referindo-se às instalações de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em 2011. Dos 21, 16 disseram que a vida piorou depois da Pacificação. "Hoje em dia aumentou a violência, roubo; está tendo estupro, todos os dias tem tiroteio na favela", afirma um dos moradores do ensaio. Apenas 5 avaliariam como positivo a chegada das UPPs.

"Eu concebi esse projeto no terceiro aniversário da pacificação da favela, é uma iniciativa que procura transmitir o sentimento que ouço regularmente das pessoas que moram aqui", contou a fotógrafa, que fez questão de manter no sigilo a identidade de seus personagens.

Na altura do rosto, os moradores seguram um cartaz que revelam uma opinião também compartilhada pela fotógrafa. "Muitas pessoas sempre discordam da minha opinião quando faço comentários positivos sobre a vida na Rocinha antes da pacificação; elas geralmente atribuem a minha percepção ao fato de ser estrangeira e portanto de não ser capaz de dar uma opinião equilibrada", explicou. "Não fiquei nada surpresa com o resultado. Em geral, é o que eu ouço ecoou a vida cotidiana na Rocinha".

Margaret chegou ao Brasil após pesquisar sobre a Favela da Rocinha na internet. A ideia era desenvolver um projeto de arte para crianças que vivem em favelas. Com o tempo, a comunidade a conquistou. "Como assistente social, fiquei ainda mais interessada em me conectar com as pessoas que vivem nas favelas do que visitar praias famosas", observou a fotógrafa, cujo interesse nas vidas nas favelas despertou curiosidade.

"As pessoas que moram no asfalto e outros estrangeiros sempre ficam surpresos com o meu interesse por essa comunidade e também porque eu gosto de morar aqui. Elas sempre me perguntam se a vida aqui era melhor antes ou depois da pacificação", completou Margaret, que agora responde a essa pergunta de forma surpreendente.

(Karen Lemos - Portal RedeTV!)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cineasta brasileiro celebra curta-metragem entre finalistas ao Oscar


Mauricio Osaki, diretor de “O Caminhão do Meu Pai”, recebeu com surpresa a notícia de que seu filme está entre os 10 finalistas para concorrer ao Oscar de melhor curta-metragem na mais notória premiação do cinema.

“Eu realmente não imaginava que iríamos chegar tão longe”, declarou em entrevista à reportagem. “Enquanto rodávamos o filme, em áreas remotas ao norte de Hanoi (capital do Vietnã), em pleno inverno, jamais podíamos prever esse tipo de reconhecimento. É um filme falado em Vietnamita, sem atores conhecidos, com uma temática incomum, mas que de certa forma traz uma relação universal, entre pai e filha. Eu fico feliz que o filme possa continuar rodando e trilhando longos caminhos”.

O curta se passa através do ponto de vista de uma menina que, ainda nova, descobre o mundo real ao participar de um dia de trabalho de seu pai, um caminhoneiro que recolhe cachorros e os leva para um abatedouro local. A carne de cachorro, vale lembrar, faz parte da cultura gastronômica do país.


“É tão gratificante ver o quão longe este filme foi. Já passamos pelos festivais mais importantes do mundo. É um filme que já rodou toda a Europa, Estados Unidos, America do Sul e Ásia… Eu fico orgulhoso pela equipe, pelos atores, pois todo mundo trabalhou muito pelo filme”, observou Mauricio.

A lista final dos indicados ao Oscar de melhor curta-metragem sai no dia 15 de janeiro. Já a cerimônia de premiação acontece no dia 22 de fevereiro de 2015.

“O Caminhão do Meu Pai”, primeira coprodução entre Brasil e Vietnã, nasceu durante aulas de direção na NYU (Universidade de Nova Iorque) e contou com a ajuda de outros brasileiros como o fotógrafo Pierre de Kerchove, a assiste de direção Flávia Guerra e a musicista Michelle Agnes.

Além deste curta, outra produção brasileira também está na corrida pela almejada estatueta dourada. “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro, foi escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil na premiação. O longa concorre a uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

(Karen Lemos - Revista O Grito!)

sábado, 22 de novembro de 2014

Longa sobre Caio Fernando Abreu vence prêmio do público no Festival Mix Brasil


Para Sempre Teu, Caio F., de Candé Salles, foi agraciado pelo público com o coelho de ouro de melhor longa nacional na premiação do 22º Festival Mix Brasil – que contempla e dá espaço para a produção cultural LGBT – em noite de cerimônia realizada na capital paulista.

Baseado em um livro homônimo escrito por Paula Dip, amiga pessoal de Caio Fernando Abreu, o filme é o mais completo e sincero resgate de memórias do escritor gaúcho que nos dias de hoje virou uma figura cult das redes sociais. “Quando escrevi o livro, iniciei uma pesquisa e notei que havia uma enorme quantidade de material visual sobre o Caio que estava se perdendo”, recordou em entrevista a O Grito!.

Assim como escreveu o livro, Paula decidiu também assinar o roteiro do longa. A decisão de comandar esses projetos foi fruto de uma promessa firmada com Caio, no ano de 1983, em uma noite regada a bebidas e boas conversas na qual ficou decidido: quem morresse primeiro, contaria a trajetória do outro. “Fiz esse filme para manter viva a memória de Caio, como ele havia me pedido; ter recebido esse prêmio do público me deu uma sensação de missão cumprida”, afirmou, muito emocionada.


A escritora Paula Dip e o diretor Candé Salles

As imagens de arquivos encontradas durante a pesquisa para o livro é um dos pilares que compõe Para Sempre Teu, Caio F., que traz ainda entrevistas com familiares, colegas de trabalho e amigos (que eram muitos!) e também encenações de alguns de seus textos por atores famosos como Camila Pitanga, Mariana Ximenes, Cauã Reymond, Caco Ciocler, Fabio Assunção, Thiago Lacerda, entre outros.

A ideia era não se limitar somente à vida do autor, que por si só oferece um conteúdo riquíssimo, mas também explorar e mergulhar fundo em sua obra. “Foi através do texto que Caio me tocou e, dessa forma, virei seu fã. Portanto, nada mais justo do que dividir isso com o público”, ressaltou o diretor Candé Salles em conversa com a reportagem.

O público ainda premiou o curta estrangeiro Aban + Khorshid, que choca ao mostrar as leis que proíbem a homossexualidade no Irã, o longa estrangeiro E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto, sobre a luta do cineasta português Joaquim Pinto contra a AIDS, e o documentário Nan Goldin – Lembro do seu Rosto, a respeito da vida da fotógrafa nova-iorquina Nan Goldin.

Entre os curtas nacionais, um empate. Aceito, de Felipe Cabral, e A Ala, de Fred Bottrel – que dedicou o prêmio aos detentos da ala gay de uma prisão de Minas Gerais – levaram coelhos de prata para casa.

Outros destaques 

O júri técnico também premiou com o coelho de ouro o longa-metragem Gazelle – The Love Issue, sobre um conhecido transformista da noite de grandes cidades ao redor do mundo que, após perder o seu parceiro e contrair HIV, embarca em uma transformação de consciência em sua vida, e o curta-metragem Algum Lugar no Recreio, de Caroline Fioratti, sobre como adolescentes lidam com os primeiros sintomas de seus desejos sexuais.


“Filmei esse curta com muita dificuldade, pois ele se passa em um colégio católico e, embora a direção do colégio tenha aceitado, os pais dos alunos foram contra a ideia de fazer um filme com esse tema lá”, contou Caroline após receber o troféu. “No final, a gente venceu, porque os jovens do colégio lutaram por isso. Esse prêmio vai para a atitude desses adolescentes, cuja postura eu admiro”, completou a cineasta, que também levou o coelho de prata de melhor direção.

Os jurados ainda fizeram uma menção honrosa a Nova Dubai, de Gustavo Vinagre, exibido no Janela Internacional de Cinema de Recife deste ano, e deram a Quinze, de Maurílio Martins, o prêmio Canal Brasil de incentivo ao curta-metragem, além de reconhecerem o trabalho da atriz Karine Telles por sua interpretação no filme.

Confira todos os vencedores: 
Júri Popular 
Melhor Curta Estrangeiro: Aban + Khorshid de Darwin Serink (EUA)
Melhor Longa Estrangeiro: E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto (Portugal)
Melhor Documentário: Nan Goldin- Lembro do seu Rosto de Sabine Lidl (Alemanha/ Austria/Suiça)
Melhor Curta Nacional: “A Ala” de Fred Bottrel e “Aceito” de Felipe Cabral (empate)
Longa Nacional: “Para Sempre Teu, Caio F.” de Candé Salles (Brasil)
Prêmio Canal Brasil de Incentivo ao Curta Metragem (de R$ 15 mil): “Quinze” de Maurilio Martins
Prêmio Ida Feldman: Colby Keller

Premiados pelo Júri Técnico Competitiva Brasil de Curtas 
Melhor curta metragem nacional Troféu Coelho de Ouro 2014: “Algum Lugar no Recreio” de Caroline Fioratti
Melhor direção de arte: “Edifício Tatuapé Mahal” / Fernanda Salloum
Melhor Fotografia: “Flerte” de Dante Belluti
Melhor Roteiro: “Sobre Papéis”/ Pedro Paulo Andrade
Melhor Interpretação: “Quinze”/ Karine Telles
Melhor Direção: “Algum Lugar no Recreio”/ Caroline Fioratti
Menção Honrosa: “A Ala” de Fred Bottrel

Premiados pelo Júri Técnico Competitiva Brasil de Médias e Longas 
Melhor curta média/ longa nacional Troféu Coelho de Ouro 2014: “Gazelle – The Love Issue” de Cesar Terranova (Brasil / EUA / Polinésia Francesa)
Menção Honrosa: “Nova Dubai” de Gustavo Vinagre

(Karen Lemos - Revista O Grito!)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Caco Ciocler estreia como diretor e desabafa: "problemas com direitos autorais foram frustrantes"


Caco Ciocler exibiu o documentário "Esse Viver Ninguém Me Tira", sua estreia como diretor, pela primeira vez em São Paulo em sessão para convidados no MIS na noite de segunda-feira (3). O filme, uma produção da Cine Group que chega as salas de cinema em 2015, já havia sido exibido no Festival de Gramado e no do Rio este ano.

Em conversa com o Portal da RedeTV, o ator falou dos desafios de retratar nas telas a história de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, esposa de Guimarães Rosa, que salvou dezenas famílias de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

"Eu tinha dois pilares para trabalhar nesse filme. Um deles era abordar a vida de Aracy como esposa de um grande escritor brasileiro, mas, por conta de problemas com direitos autorais, não pude falar do relacionamento deles", contou em entrevista. "Essa dificuldade foi frustrante, mas acabou sendo uma benção porque fatalmente colocaríamos Aracy como coadjuvante do Guimarães".

A impossibilidade forçou Caco a explorar melhor o segundo pilar - o do gesto de Aracy em facilitar a entrada de judeus ao Brasil. Nascida no Paraná, ela se mudou para a Alemanha em 1934, onde começou a trabalhar como chefe do setor passaportes do consulado brasileiro na cidade de Hamburgo. Mesmo correndo risco de ser pega pelo regime nazista, ela liberou vistos ao Brasil para judeus perseguidos pelo governo. "Acho que ela não tinha noção de que estava salvando aquelas pessoas e nem elas sabiam do que estavam escapando, já que a realidade dos campos de concentração não era divulgada. Mesmo assim, ela não economizou nesses pequenos gestos que geraram vidas", completou.

Com esse foco, foi possível colocá-la como protagonista absoluta - o que também não foi uma tarefa fácil. "Não tinha absolutamente nenhuma documentação sobre isso, era um pilar muito frágil. O filme acabou se tornando, então, uma busca sobre o que sobrou da existência dela e de como isso transformou outras existências, inclusive a minha", recorda o ator, que é judeu.

Com depoimentos de pessoas próximas a Aracy ou que tiveram sua vida modificada por conta de suas boas ações e com filmagens que mostram lugares por onde ela passou e viveu, "Esse Viver Ninguém Me Tira" documenta mais a ausência de Aracy do que ela própria. "Foi mais ou menos como a barbatana do 'Tubarão' de [Steven] Spielberg. A produção do filme não podia mostrar o tubarão porque ele era um robô muito bizarro. Aí alguém teve a ideia de mostrar só a barbatana, deixando o público criar o seu monstro", explicou Caco. "Tive que criar essa barbatana para o documentário, o que fez com que o filme deixasse de ser sobre a Aracy e acabou virando um retrato do arquétipo de um herói".

A estreia por trás das câmeras foi tão válida que Ciocler espera repetir a experiência em breve. "Me sinto mais preparado para dirigir novamente agora que aprendi com erros e ingenuidades. Já tenho um novo projeto, mas ainda não posso falar sobre isso", declarou o agora cineasta.

(Karen Lemos - Portal RedeTV!)