sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Exposição de Salvador Dalí mostra várias faces do artista catalão
Saindo do Rio de Janeiro, onde fez mais de um milhão de espectadores, a exposição Salvador Dalí – que reúne a maior retrospectiva do artista catalão que já passou pelo Brasil – chega a São Paulo no Instituto Tomie Ohtake.
Até o dia 11 de janeiro de 2015, o público poderá conferir obras provenientes de dois dos maiores colecionadores do pintor: Fundação Gala-Salvador Dalí e Museu Reina Sofia, ambos na Espanha. Diferente da temporada carioca, a exposição de São Paulo não terá obras do Museu Salvador Dalí, da Flórida; em contrapartida, outras raridades estarão disponíveis, como é o caso do valioso óleo sobre madeira “O espectro do sex-appeal” (1934), um dos grandes destaques da exposição na opinião de Carolina de Angelis, do núcleo de pesquisa e curadoria do Instituto.
“A obra é pequena, mas é de grande importância”, ressaltou em conversa com a Revista o Grito! durante a abertura do evento para convidados. “Quem conhece Dalí, reconhece suas características nessa obra: paisagem mineral, tons terrosos e uma figura meio monstruosa e meio humana que revela um medo da sexualidade, da libido, muito abordada por ele em sua arte”.
“O espectro do sex-appeal” está exposta entre outras 23 pinturas, 135 trabalhos entre desenhos e gravuras, 40 documentos, 15 fotografias e quatro filmes em um conjunto que demorou cinco anos para ser concebido. Dessa forma, o espectador terá contato com a produção de Dalí desde os anos 1920 até seus últimos trabalhos, o que torna possível a percepção de sua evolução técnica, suas influências e suas referências.
Para Carolina, a amplitude alcançada pela curadoria mostra o quão versátil era a arte de Dalí. “A exposição não traz uma faceta específica dele”, explicou. “Não enfatizamos o Dalí pintor; o mostramos também como cineasta, como pesquisador – ele foi um grande pesquisador da ciência, da religião e da arte, estudando a holografia e buscas por terceiras dimensões na pintura – e também na literatura, cuja contribuição na área recebeu um grande enfoque nessa temporada”.
Dalí ilustrou de Dom Quixote a Alice
De fato, há uma parte significativa da exposição dedicada à parceria entre Dalí e a literatura. Essa fatia do conjunto é uma grande atração para o público, já que a maioria conhece as histórias de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, entre outros. Dalí fez gravuras para edições desses livros notórios, o que vai aumentar ainda mais o interesse do espectador.
“Além disso, há obras que abordam temas universais como a busca da pessoa amada, o existencialismo humano, dificuldades de se relacionar, e também temas despertam nossa curiosidade, como os sonhos e a psicanálise”, detalhou Carolina. Para ela, a figura excêntrica do artista também foi uma forma de parecer mais atrativo aos olhos de seu público. “A construção do personagem dele mostra muito isso. Ele estava preocupado em criar uma imagem que fosse muito divulgada e, dessa forma, aproximar as pessoas para que elas conhecessem suas obras”, explicou.
Contribuição no cinema
A sétima arte também foi de interesse para o artista. É de grande estima, por exemplo, a parceria cinematográfica entre Dalí e o diretor surrealista Luís Buñel (1990 – 1983), que resultou nas obras O Cão Andaluz (1929) e A Idade do Ouro (1930), cujos excertos também estão expostos no Instituto.
Outra rica parceria se deu com o encontro do pintor com Alfred Hitchcock (1899 – 1980) em Quando Fala o Coração (1945), longa que apresenta cenas de sonhos desenhadas por Dalí. “Dalí era a melhor pessoa para realizar meus sonhos, é assim que os sonhos deveriam ser”, chegou a declarar Hitchcock ao comentar sobre o filme. Há ainda uma animação feita especialmente para a Disney, chamada Destino, que começou a ser pensada em 1945 e só terminou, proporcionalmente falando, em tempos recentes, no ano de 2003. O curta animado é uma verdadeira brincadeira entre aspectos provenientes do universo ímpar e singular do pintor.
Para finalizar, ainda é possível acessar uma obra interativa que, dado a sua complexidade, é necessário enfrentar um pouco de fila para dela usufruir. Trata-se de uma escultura de um enorme rosto em que se pode sentar-se na boca (que, na realidade, é um sofá) e tirar uma foto de dentro do rosto frente a um espelho – um recurso perfeito em tempos de selfies.
(Karen Lemos - Revista O Grito!)
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