quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Exposição de fotos inéditas traz a figura humana por trás da artista Frida Khalo


Encontradas em um banheiro da Casa Azul (residência na qual morou no bairro de Cocoyacán, na Cidade do México) e guardadas com muito zelo e apreço, as fotografias de Frida Kahlo são tão reveladoras quanto as pinturas que a imortalizaram como um dos grandes nomes da arte hispânica.

Reunidas na exposição Frida Kahlo – as suas fotografias que está rodando o mundo, os registros fotográficos chegam pela primeira vez no Brasil no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e mostram uma faceta curiosa e até inédita, mesmo se tratando de uma mulher que nunca temeu se expor.

“São retratos intimistas que possibilitam que o público vivencie as emoções de Frida nas fotos, isso trouxe algo a mais para esta exposição”, explica Estela Sandrini, diretora cultural do museu que está celebrando o grande sucesso da mostra: mais de 90 mil pessoas já conferiram a exposição (em uma média de 30 mil pessoas por mês); por conta disso, a exibição foi prorrogada e poderá ser visitada até o dia 30 de novembro.

“O curioso é que essa coleção foi exposta sem saber ao certo como o público iria vê-la. Poderia até passar despercebida, mas acreditamos na proposta, apostamos em seu sucesso e deu certo”, ressaltou Sandrini, que apontou a história de vida de Frida – que sofreu um grave acidente aos 18 anos, sua postura diante de tanto sofrimento e da superação ao fazer da dor uma arte como razões para o êxito da mostra.

São 241 imagens divididas em seis seções que tratam de aspectos importantes da trajetória da artista, principalmente porque Frida teve contato com a fotografia quase que a vida toda: ela foi retratada desde a infância por seu pai e pelo avô materno (que eram fotógrafos), por amigos profissionais como a alemã Gisèle Freund e o húngaro Nickolas Muray e também por sua paixão pelo autorretrato – bastante abordada em seus quadros – uma ‘mania’ que herdou do próprio pai. Como nunca foram exibidas antes, muitas dessas fotografias são inéditas – o que garante algumas gratas surpresas. “Existe um registro de Diego Rivera (famoso pintor mexicano e grande amor da vida de Frida) que ela guardou com a marca de um beijo. Os dois tiveram um casamento aberto bastante conturbado e, mesmo assim, Frida sempre teve uma paixão por ele, uma paixão que nunca morreu”, destacou Estela Sandrini.


Saiba mais sobre as seções da mostra:

Origens – Os Pais 
A seção destaca a família de Frida; são registros antigos – porém bem preservados – que mostram os avós maternos da pintora e seus pais Matilde Calderón e Guillermo Kahlo.

Casa Azul 
Aparecem aqui os primeiros registros fotográficos de Frida que, ainda pequena, posava para as lentes de seu pai. Há também retratos de reuniões familiares e entre amigos que aconteciam na Casa Azul – onde hoje funciona o Museu Frida Kahlo.

Corpo Acidentado
A mais dolorida e, sobretudo, mais surpreendente seção da mostra. Traz imagens da época do acidente que sofreu em 1925 quando o ônibus em que viajava se chocou com um bonde. Na tragédia, Frida sofreu diversas fraturas, passou por muitas intervenções cirúrgicas (35 no total) e precisou permanecer imóvel durante muito tempo em sua cama. No leito da dor, a artista posou para Nickolas Muray durante seu período de recuperação.

Amores 
Espaço dedicado às paixões de Frida como amigos íntimos, familiares e amantes. Há registros curiosos, como uma fotografia em que a artista aparece aos beijos com um rapaz fardado cuja identidade não é divulgada. Diego Rivera, claro, surge em várias imagens ao lado de declarações de sua companheira. “Na minha vida tive dois acidentes, num deles um bonde me atropelou… O outro acidente é Diego”, pontuou Frida em uma de suas citações.

Fotografia 
Trata-se de um numeroso arquivo reunido em vida que se estende a raridades como cartões de visita do século XIX, imagens assinadas por grandes nomes da fotografia, como Man Ray, e retratos atribuídos a Frida que revelam seu talento também na arte fotográfica.

Luta Política 
A sexta e última seção da exposição aborda o lado político de Frida, que era comunista. As imagens, na verdade, são recordações de Diego que colecionava registros sobre o tema, como o cotidiano de Berlim e Rússia no período de existência da União Soviética e retratos de líderes e pensadores marxistas como Lenin, Stalin e Trotsky (este último, vale lembrar, teve um rápido envolvimento com Frida na ocasião em que morou na Casa Azul).

Além de expor a artista e a figura por trás da artista, “Frida Kahlo – as suas fotografias” salienta a importância de uma contribuição cultural sem preço, que flertou com surrealismo e a vanguarda, sugando elementos folclóricos dos astecas e de indígenas mexicanos, e que agora está eternizada não somente em quadros, mas também na fotografia – ferramenta mais efetiva contra o esquecimento. “A exposição é uma oportunidade para conhecer Frida da forma como ela mesma se via – ela se mostrou por inteira nessa exposição”, concluiu Sandrini.

(Karen Lemos - Revista O Grito!)

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