Após declarações polêmicas de cunho preconceituoso, o cineasta dinamarquês Las Von Trier foi anunciado como ‘persona non grata’ pelo Festival de Cinema em Cannes
As afirmações nada felizes de Lars von Trier durante coletiva de imprensa para divulgar seu novo filme, Melancolia - com Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg no elenco - custaram ao cineasta dinamarquês, idealizador do movimento cinematográfico Dogma 95, o título de 'persona non grata' pelos organizadores do Festival de Cinema de Cannes.
Nesta quinta-feira, 19, a direção do evento se reuniu e divulgou, em nota, a decisão que, por "condenar as afirmações, declara Lars von Trier 'persona non grata' em Cannes a partir deste momento" - diz o comunicado.
Na coletiva, von Trier polemizou ao declarar que era nazista, entendia Adolf Hitler e achava os israelense um pé no saco. "Sempre gostei de pensar que eu era judeu, mas minha família é alemã então, na verdade, sou nazista, algo que me dá um certo prazer. Eu entendo Hitler. Claro que ele fez coisas erradas, mas o entendo e até simpatizo com ele. Não por conta da Segunda Guerra Mundial. Não sou contra os judeus, embora ache que os israelense são um pé no saco", afirmou. Horas depois, von Trier enviou pedidos de desculpas em um comunicado oficial.
Cineasta orgulhoso de banimento
Banido do Festival Internacional de Cinema de Cannes, em que seu novo filme Melancolia concorre na premiação, o cineasta dinamarquês Lars Von Trier, tentou se explicar em uma entrevista reveladora ao impresso The Hollywood Reporter. Segundo o diretor, suas declarações sobre nazismo, Hitler e judeus não passaram de piadas mal interpretadas. "Parece estranho, mas eu não gosto de conflitos. Fui para coletiva de imprensa querendo entreter as pessoas e, quando me dei por mim, entrei em um assunto do qual não consegui sair. Não pensei muito sobre aquilo. Todo mundo estava parecendo me entender e davam risadas. Quando percebi que disse 'eu simpatizo com Hitler', pensei, 'ai não!'", contou von Trier.
O diretor, contudo, não se mostrou nem um pouco arrependido, embora tenha consciência da seriedade do peso de suas declarações. "Estou um pouco orgulhoso dessa nomeação de 'persona non grata'. Acho que minha família ficaria orgulhosa", ironizou. Vale ressaltar que von Trier, cujo padrasto era judeu, disse na coletiva de imprensa que foi criado pensando que tinha raízes judias, e que seria 'ridículo' chamá-lo de antissemista por isso.
Por conta do banimento, o cineasta terá que manter distância de 100 metros dos locais onde acontecem os eventos do Festival de Cannes. Isso inclui a proibição de sua presença na festa de premiação em que Melancolia concorre estatuetas. Sobre a influência de seus comentários na avaliação do filme, ele foi enfático. "Se eu fosse Hitler - quero registrar que não sou - mas se eu fosse, e tivesse feito um filme grandioso, Cannes iria premiá-lo".
A reação de Kirsten Dunst na coletiva de imprensa foi imediata. Ela riu, sem jeito, e pediu para que Lars parasse com os comentários de cunhos preconceituosos. Na avaliação do diretor, a atriz comportou-se como uma 'louca'. "Uma européia louca", enfatizou. "Já a Charlotte [Gainsbourg, colega de elenco de Kirsten] não me pareceu chocada. O pai dela [o músico e compositor Serge Gainsbourg] sempre foi provocativo. Charlotte me disse que seu pai teria orgulho de mim", polemizou.
Kirsten Dunst: 'Von Trier ainda é amigo'
O constrangimento de Kirsten Dunst, enquanto o cineasta dinamarquês Lars Von Trier fazia comentários polêmicos em Cannes, era nítido. Ao lado do diretor, a atriz franzia a testa, dava risadas sem graça e tentava impedir von Trier de continuar seu discurso bombástico.
Era a coletiva de imprensa do novo filme do dinamarquês, Melancolia, que traz Kirsten como uma das protagonistas, ao lado de Charlotte Gainsbourg. Depois que Lars declarou ser nazista, prestou apoio a Adolf Hitler e disse que os israelenses são 'um pé no saco', Dunst se pronunciou contra o colega. "Com o nazismo não dá para brincar", declarou na época do festival de cinema, há cerca de um mês. Por conta dessas declarações, o diretor foi banido do evento.
Em uma entrevista recente ao jornal Evening Standard, contudo, a atriz voltou atrás e tentou defender von Trier, justificando que o diretor fez uma piada de mau gosto. "Lars diz muitas coisas bobas. Ele estava tentando fazer as pessoas rirem, mas aquele não era o público certo", interveio. Segundo Kirsten, o cineasta permanece sendo seu colega, uma vez que não se sentiu agredida com os comentários feitos em Cannes. "Ele não disse nada que tenha me ofendido. Fiquei chateada e chocada na hora, mas já superei. Lars ainda é um amigo", complementou a moça, que recebeu o troféu de melhor atriz em Cannes por sua interpretação em Melancolia.
(Karen Lemos - CARAS Online)
Nenhum comentário:
Postar um comentário