Sempre transgressor, não é só no mundo da música que Ney Matogrosso choca (e encanta) o publico ao mesmo tempo em que quebra os tabus da sociedade. Em “Depois de Tudo”, Ney vive um homossexual já na terceira idade, que mantém um relacionamento a mais de 30 anos com outro homem, vivido pelo ator Nildo Parente.
Filmado com muita sensibilidade, o curta acompanha, em 12 minutos, um dia na vida do casal, que na verdade, é como qualquer outro. Eles se encontram, jantam, assistem a um filme, fazem amor e dormem juntos. Na manhã seguinte, tudo volta ao normal, cada um vai para sua casa e esperam pelo dia que voltarão a se ver.
Em cartaz no Festival de Cinema Mix Brasil 2008, que aborda a diversidade sexual, o filme está na mostra competitiva de curtas, e pode ser conferido pelo público no dia 19/11 (quarta-feira), às 20h15, no Auditório do MIS e dia 20/11 (quinta), às 18h00, no Centro Cultural da Juventude. O Mix Brasil 2008 vai até dia 23 de novembro, quando saem os resultados das mostras competitivas.
Já não é a primeira vez de Ney Matogrosso no cinema, em 1987, Ney atuou no filme “Sonho de Valsa” de Ana Carolina, ao lado da atriz Xuxa Lopez; no ano seguinte, o cantor encarou novamente as câmeras no curta experimental “Caramujo-Flor”, que debate a poesia de Manoel de Barros, o filme recebeu vários prêmios em importantes festivais de cinema como o de Brasília e Gramado.
Ainda se espera uma outra intervenção de Ney aos cinemas para o ano que vem, trata-se de “Luz Nas Trevas – A Revolta de Luz Vermelha”, continuação de “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla. O filme conta a história de João Acácio, conhecido como o bandido da luz vermelha. No filme, Ney interpretará o bandido que ficou preso por muitos anos, quando descobre que tem um filho e decide então, ir atrás dele.
“Depois de tudo” é só mais um exemplo da pluralidade do cantor que não se cansa de transgredir.
Confira agora uma entrevista com o diretor Rafael Saar. Formado em cinema pela UFF, “Depois de tudo” é seu sétimo trabalho, no qual ele dirige e também assina o roteiro. Em entrevista a repórter Karen Lemos da BR Press, o cineasta fala de suas influências, de como surgiu a idéia do tema, a seleção do elenco e a importância de um festival como o Mix Brasil, que aborda a diversidade sexual.
Qual a importância do seu trabalho estar incluído na programação do Mix Brasil 2008?
O Mix Brasil é um importante festival não somente pela temática, mas pela curadoria, com uma excelente programação dentro do festival.
Como surgiu a idéia do tema?
A idéia de “depois de tudo” era a princípio mostrar um casal de idosos e gays. O desenvolvimento foi muito simples porque é um filme que mostra o cotidiano. Os personagens não são ou talvez não foram mostrados ainda no cinema ou TV. O que foi feito é construir tudo da maneira mais natural e bonita possível, sem cair na pieguice.
Como foi realizada a produção?
Tudo foi feito num processo bem rápido. Um dia de filmagem e a maior parte do tempo foi na finalização.
Como foi a seleção dos atores?
Encontrar atores que aceitassem estava sendo difícil. O Nildo eu conheci através de um amigo e quando mostrei o roteiro e falei do Ney ele topou na hora. O Ney eu conheci no “homem-ave” (filme de Rafael que ainda está em processo de produção, no qual Ney faz a narração) e também trabalho no documentário do Joel Pizzini sobre ele. Levei o roteiro na casa dele, ele leu na hora e gostou.
E trabalhar com eles, como foi?
Tivemos um "ensaio", uma semana antes da filmagem. Na verdade uma leitura e discussão em cima do conceito do filme e dos personagens. Os entenderam muito rápido e acrescentaram muito ao filme e ao roteiro.
Ney Matogrosso não é ator profissional, qual foi o motivo da escolha dele para o elenco?
O Ney é um ator, e usa isso da melhor forma no trabalho dele com música. Não foi uma escolha propriamente dita, foi um encontro. Ter ele no filme trouxe uma representação muito interessante pelo papel histórico que ele tem no questionamento dos padrões sexuais.
Você teve alguma influência para realizar essa obra?
Dentro do filme há uma referência visual a "Liberdade é azul" do Kieslowski. O cinema de poesia é o que me atrai. Pasolini, Tarkovski, Bertolucci, Godard são os que me fazem pensar e fazer cinema.
Como tem sido a recepção do público e critica do seu trabalho?
A repercussão de um curta-metragem ainda é bem reduzida, mas tenho recebido mensagens e lido alguns textos que fazem com que eu continue a fazer o que gosto.
Fale sobre os seus próximos projetos
Agora estou na preparação de um documentário sobre a Baby do Brasil, e trabalho com o Joel Pizzini no documentário que ele dirige sobre o Ney.
Comentários a acrescentar?
Acho importante dar um destaque grande ao Nildo Parente, que é um ator espetacular. A experiência dele com cinema é enorme, e acredito que este seja um filme especial para ele, que ganhou um prêmio pela carreira lá em Fortaleza a partir do “depois de tudo”. Assim como o Ney, foi muito corajoso de confiar num diretor estreante.
Assista a uma reportagem do programa Zoom na TV Cultura, a respeito do filme:
Um comentário:
Eu vi essa matéria no site da BR Press. hoho
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