segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Hillary e Trump se atacam em primeiro debate
Candidatos à presidência dos Estados Unidos, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump se enfrentaram no primeiro debate eleitoral na noite desta segunda-feira (26). O encontro, o primeiro de três debates previstos antes das eleições em 8 de novembro, aconteceu na Hofstra University, estado de Nova York.
Trump chegou a dizer que Hillary não teria “cara de presidente”, o que foi considerado um comentário sexista pela democrata. “Ela não parece ser presidente mesmo; não tem a raça, a força para ser uma. É preciso ter condições de negociar acordos comerciais. Ela pode ter experiência, mas é ruim nisso.”
Hillary rebateu. “Este homem já chamou mulheres de porcas, inferiores aos homens, disse que gravidez é algo inconveniente e que mulheres não devem receber remuneração igualitária. Depois que você viajar por 112 países, negociando acordos de paz e de cessar-fogo, ou ficar 11 horas testemunhando para uma comissão, nós podemos discutir sobre força aqui”, disse, arrancando alguns aplausos, ao referir-se à sua experiência como secretária de Estado e ao escândalo dos e-mails do qual precisou justificar-se.
Racismo
Temas em voga, como a economia do país, racismo e o combate ao terrorismo dominaram o debate e levaram, por diversas vezes, os candidatos a se estranharem. A questão racial, por exemplo, levantou novamente a polêmica com relação à nacionalidade do atual presidente, Barack Obama.
Trump, que insiste que o democrata nasceu no Quênia, tentou justificar sua tese, mas o próprio mediador do debate assegurou que a certidão de nascimento de Obama garante que ele é cidadão norte-americano. O republicano disse ainda que é preciso restabelecer a lei e a ordem nos EUA. “Em algumas regiões do país, você anda na rua e leva um tiro. Precisamos tirar as armas das mãos dos imigrantes ilegais, que estão atirando nas pessoas; isso não é discriminação, essas pessoas são do mal, é preciso atuação da polícia.”
Hillary falou que existe preconceito em vários segmentos da sociedade e que é preciso restaurar a confiança entre a polícia e as comunidades, visto os altos índices de morte de jovens negros por policiais brancos. “Vou trabalhar para que os policiais sejam bem treinados, preparados para usar a força só quando necessário e tirar armas das mãos das pessoas que não deveriam portá-las. Temos que atacar essa praga que é a violência das armas.”
Estado Islâmico
A segurança nacional ainda é uma grande preocupação para o eleitor norte-americano. Trump afirmou que o Estado Islâmico não existiria se todo o petróleo fosse tirado da região, já que isso é um dos pilares de sustentação do grupo extremista. Ele também criticou a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que formou coligação para combater os jihadistas. “Nós pagamos 73% da OTAN. Eles que deveriam nos pagar para protegê-los.”
Hillary respondeu que a OTAN enfrenta uma ameaça terrorista que não se apresenta só nos EUA, mas no mundo todo. A democrata disse também que é preciso trabalhar junto a comunidade islâmica, e não atacá-la como, segundo ela, Trump faz de forma temperamental. “Meu ponto positivo é meu temperamento. Eu sei vencer, Hillary não”, rebateu o magnata, arrancando alguns risos da plateia.
Empregos e impostos
Recém-saído de uma crise econômica, os Estados Unidos preocupam-se com o futuro financeiro do país. Ao debaterem o tema, Hillary e Trump se alfinetaram. O plano do empresário é cortar de 35% para 15% a tributação de empresas no país. Dessa forma, de acordo com Trump, as empresas vão querer ficar e gerar empregos nos EUA.
Hillary acredita, porém, que priorizar os ricos foi o que mergulhou o país na crise. “A economia não cresce com o método Trump de distribuir riquezas”, alfinetou. “Trump teve sorte na vida - bom para ele - mas não acredito que ajudar os mais ricos é melhor para todos. Precisamos fortalecer a classe média.”
A discussão esquentou quando Donald foi questionado sobre a declaração de seu imposto de renda que nunca apresentou – os candidatos devem apresentar o documento ao se lançarem na disputa à presidência. “Por que ele não divulga? Tenho um palpite, talvez ele não pague os impostos federais como deve”, provocou Hillary. A democrata ainda lembrou relatos de ex-funcionários do empresário que alegam não ter sido pagos. “Talvez o trabalho deles não tenha sido bom”, respondeu o republicano.
Análise
Na análise de especialistas ouvidos pelo BandNews TV, que transmitiu o debate norte-americano, Hillary surpreendeu, conseguiu tirar seu adversário do sério, enquanto Trump derrapou e se mostrou nervoso demais.
Para a professora Fernanda Magnotta, a democrata precisava – e conseguiu - mostrar simpatia, e o eleitor necessitava ver o lado “presidenciável” de Trump, mas não foi isso o que o magnata apresentou.
“A Hillary reverteu o cenário e se mostrou simpática. O Trump, que por diversas vezes tentou provocá-la, foi quem acabou ficando nervoso”, analisou Raul Juste Lores, que já foi correspondente em Washington.
Para o jornalista norte-americano Matthew Shirts, Hillary superou as expectativas. “Ela demonstrou controle, parecia que era dona da situação. Não acho que foi um nocaute [em cima de Trump], mas ela marcou muitos gols.”
(Karen Lemos - Portal da Band)
sábado, 3 de setembro de 2016
Era digital amplia contato entre candidato e eleitor
Desde os tempos da já extinta rede social Orkut, que existiu até 2014, a advogada e ativista social Michely Coutinho já notava a importância que uma ferramenta como aquela poderia agregar para suas funções.
Em 2016, multiplicou o número de possibilidades em que usuários da internet podem interagir entre si. Para Coutinho, o momento não poderia ser melhor. Neste ano, ela lança pela primeira vez uma candidatura à carreira política e, se não fosse pelos avanços da era digital, as dificuldades de divulgar sua campanha, suas propostas e chegar até seu eleitor seriam imensas. “Utilizar as redes sociais sai muito mais barato - praticamente a custo zero - e é bem mais eficiente”, explica em conversa com o Portal da Band.
Candidata à vereadora pelo Partido dos Trabalhadores em Goiânia, Michely quer trabalhar com políticas públicas voltadas para a mulher e precisa, para ser eleita, ser conhecida pelo eleitor que também quer propostas em prol das mulheres sendo discutidas da Câmara Municipal de sua cidade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a representação feminina no Congresso Nacional não chega nem a 10%. Sem voz na política e sendo um nome novo entre candidatos, quais chances teria Michely de chegar ao seu eleitor-alvo?
“Se eu fosse divulgar minha campanha de porta em porta ou distribuir ‘santinhos’ [panfletos de papel utilizado por muitos políticos], isso seria muito difícil”, conta. “Na rua, eu consigo dialogar com um eleitor ou outro. Na internet, porém, uma publicação sobre mim pode atingir milhares de pessoas.”
Isso acontece porque muitos usuários, reunidos em nichos específicos (por exemplo, redes de amizade ou grupos ou comunidades que compartilham informações sobre o emponderamento da mulher) se comunicam. Se um amigo seu compartilhar a campanha de Michely, pronto, você passa a conhecê-la como possível candidata.
Além disso, páginas específicas na internet fazem um trabalho parecido. Citamos aqui o Vote numa feminista. Como a próprio nome diz, trata-se de um local onde usuários podem encontrar e compartilhar informações sobre candidato(a)s que vão lutar pelos direitos das mulheres na política. Foi através dessa página, aliás, que a repórter conheceu e pode conversar com Michely para escrever esta reportagem.
Mão de obra digital
Uma das maiores preocupações de um candidato à eleição é o financiamento. A grana é curta em partidos menores; se o candidato é novo de carreira, então, nem se fala. Marcio Black, que está disputando uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo pelo Rede Sustentabilidade, sabe bem disso. Com as redes sociais, entretanto, ele conseguiu contornar esse problema.
“Na internet, você cria uma rede de apoiadores, sabe? O cara que acredita na sua campanha não está a fim de doar dinheiro. Ele quer se engajar, quer fazer acontecer. Dessa forma eu consegui gente que faz um vídeo pra mim, cria roteiro, elabora uma arte visual que eu posso usar na campanha, enfim. Ninguém é funcionário meu, mas fazem parte da campanha porque acreditam nela”, comenta o produtor cultural e militante negro que já soma cerca de R$ 200 mil doados através de serviços, horas de trabalho comunitário ou produtos, como uma camiseta ou um adesivo para sua campanha.
Marcio Black, cuja candidatura pode ser encontrada no Enegreça seu voto - página para quem procura políticos com propostas voltadas para os negros - também ressalta outro ponto positivo das redes sociais: a interatividade direta com o eleitor.
“As pessoas estão olhando com muita desconfiança para a política ultimamente, mas elas sabem que precisam pesquisar bem sobre o assunto, porque isso impacta diretamente na vida delas”, afirma Marcio, que encontrou na web uma forma de se aproximar do eleitorado. “Na rede social, o cara vai ver meu vídeo, vai me conhecer, saber em quais eventos eu vou estar e em quais ele pode me conhecer pessoalmente, vai também me mandar uma mensagem, perguntar sobre uma proposta, me contar dos anseios dele enquanto eleitor; ele quer e precisa de um candidato acessível, e a internet faz muito bem esse papel.”
E depois das eleições?
Falamos da interação dos candidatos com o eleitor na campanha. E após as eleições? A sensação que muitos de nós temos é que, depois do período eleitoral, somos ‘esquecidos’ pelo político no qual votamos. Pensando nisso, alguns candidatos da era digital, acostumados a ter as redes sociais como uma grande aliada, querem utilizar a tecnologia como uma ferramenta útil caso forem eleitos.
Para exemplificar isso, citamos uma ideia que teve Todd Tomorrow, militante LGBT e candidato a vereador em São Paulo pelo PSOL. “Através do smartphone, o cidadão poderá usar um aplicativo e decidir como seu vereador vai se portar. Terão vários tipos de cadastros. Alguns cadastros darão acesso desde à fiscalização até, por exemplo, ao direito de opinar nas votações da Câmara.”
Todd, que atingiu quase 20 mil votos na candidatura a deputado estadual em 2014 - quando ainda era um rosto pouco conhecido na política, atribui esse número a uma estratégia de pulverização da campanha pelas redes sociais. Estratégia parecida foi usada pela legenda na candidatura de Luciana Genro à presidência no mesmo ano. Luciana não era favorita e pertence a um partido pequeno (o que já reduz seu tempo nas propagandas eleitorais), mesmo assim, obteve mais de 1,5 milhão de votos, ficando em quarto lugar na apuração.
Para a comunidade LGBT, é possível conhecer candidatos como Todd na página Vote LGBT. “Além de dar visibilidade, redes como essa servem quase como um ‘selinho’ de comprometimento do candidato com uma pauta específica”, define.
Linguagem dos memes
Alguns candidatos possuem propostas para vários segmentos e, por essa razão, podem aparecer em mais de uma página, aumentando ainda mais as chances de alcançar o eleitor. É o caso da professora Luiza Coppieters. Candidata à vereadora em São Paulo pelo PSOL, ela possui pautas para mulheres, para gays, lésbicas e transexuais. Sua candidatura surge em diversas páginas, como o já citado Vote LGBT e também o Candidaturas Trans do Brasil, para quem procura candidatos que vão lutar por melhorias para a comunidade transexual da cidade.
Para conseguir conversar com um eleitorado tão amplo, Luiza encontra nas redes sociais outro fator positivo na relação que se estabelece entre a sociedade e a política. Ela cita como exemplo o uso da linguagem dos memes, que permite uma conversa mais clara e direta com o eleitor. “As redes sociais nos oferecem mecanismos de criatividade que podem estimular as pessoas a participarem da política, saber o que uma vereadora faz, colaborar com a elaboração de um projeto, enfim, dar oportunidade para que a população tenha sua voz ouvida”, explica.
Luiza também tem propostas para um possível mandato que envolvem tecnologia e a participação cidadã. Ela quer propor que qualquer pessoa, através de um cadastro simples na internet, tenha a oportunidade de participar de uma votação de seu interesse na Câmara Municipal. “Ela vai poder escolher o dia e a votação que quer acompanhar e terá direito a uma passagem gratuita até a Câmara”, detalha. “A gente percebe, então, que a internet é um instrumento não só para a eleição, mas também para refazer o modelo de representatividade; o legislativo não pode mais ficar distante da população.”
Quando pensamos em redes sociais, logo vem à mente a mais tradicional delas, o Facebook. Tem muito candidato, porém, que está se dando melhor em outras redes de comunicação nessas eleições 2.0. Ronaldo Denardo, candidato a vereador em Santo André pelo PV, encontrou uma ferramenta mais efetiva para divulgar suas ideias que envolve uma cidade mais acessível para pessoas com deficiência.
“O caminho agora é o WhatsApp; é uma febre, todo mundo usa”, diz. “Tem muitos grupos no aplicativo que trocam inúmeras informações. Eu peço para minha rede falar sobre minha campanha nos grupos do qual eles fazem parte e dá muito certo”. A aposta na ferramenta é tanta que Ronaldo conseguiu que os últimos números de seu WhatsApp fossem, também, os números de sua candidatura.
O contato mais direto proposto pelo Facebook também é um dos recursos oferecidos pelo aplicativo. “Eu encontro alguns eleitores nas pré-campanhas que eu faço. Para não perder o contato, eu adiciono a pessoa no meu WhatsApp e, dessa forma, vou criando uma base de dados que pode ser útil não só na minha campanha, mas nas minhas propostas, já que muitas pessoas me mandam demandas pessoais pelo aplicativo”, acrescenta.
Carolina Marques, candidatada a vereadora em São Bernardo do Campo pelo PPS, também quer lutar pelas pessoas com deficiência em uma almejada carreira política. “Essa eleição será a eleição das redes sociais. É um grande recurso para falarmos com nossos eleitores já que a Justiça Eleitoral proibiu muitos materiais e reduziu o tempo da campanha eleitoral”, diz.
A candidata, aliás, tem trabalhado muito com todas as ferramentas possíveis, desde o Facebook, passando pelo Twitter e Instagram, e até mesmo o Snapchat. “A visibilidade é maior e a formação de opinião também”, observa.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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