Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Atos pelo Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Democracia se espalharam pelo país nesta quinta-feira (31). Em São Paulo, os manifestantes se reuniram na Praça da Sé, no Centro, contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo os organizadores, 60 mil pessoas marcaram presença. Para a Polícia Militar, foram 18 mil. Já o Datafolha divulgou 40 mil participantes.
A convocação da Frente Brasil Popular, formada por movimentos sociais e sindicatos, acontece na semana em que o PMDB deixou a base aliada do governo. Para os manifestantes, porém, a saída do partido, cuja representação no Congresso é significativa, não é uma preocupação.
“[O PMDB ter deixado o governo] é uma tentativa de enfraquecimento, mas a força do governo não está no Congresso, está nas ruas; e é por isso que estamos aqui”, diz Sebastião Albuquerque. Nascido e criado na Paraíba, para ele, o governo petista concretizou avanços em sua região. “Pela primeira vez, alguém olhou para o Nordeste”. Do seu ponto de vista, não há alternativa melhor, no momento, do que a permanência de Dilma no poder.
O paraibano Sebastião Albuquerque (Foto: Karen Lemos/Portal da Band)
Sérgio Timóteo, que milita pelos direitos dos negros, considera uma “tragédia” um Brasil governado por Michel Temer, vice-presidente peemedebista que assumiria caso o processo de impeachment de Dilma Rousseff seja aprovado no Congresso Nacional. “Nós não estamos no mesmo contexto do Collor [presidente afastado em 1992]. Dilma não cometeu nenhum crime. O país ficaria rachado se ela caísse, fora que os movimentos sociais têm muito a perder com isso.”
Luciene Neves, que levou a filha Ana Beatriz, de 11 anos, para o ato, compartilha desta opinião. “Com o PMDB, nossas conquistas vão por água abaixo”, pontua ao lado da menina, que começou a se interessar por política após acompanhar a mãe em reuniões do PT. "Agora estou nessa luta com ela", afirma Ana enquanto segura um cartaz no qual se lê: "Mamãe, não quero ir à Disney do Tio Sam, eu quero respeito à democracia".
Luciene Neves com a filha Ana Beatriz (Foto: Karen Lemos/Portal da Band)
Manifestantes pela causa LGBT também participaram do ato. Carregando uma bandeira do arco-íris (símbolo da luta pelos direitos dos homossexuais), Luiz e Philippe afirmam sentir-se representados pela gestão Dilma. “Ela sempre levantou a bandeira da igualdade e contra o preconceito”, opina Luiz.
O jovem também diz não acreditar que o processo de impeachment ajudará no combate à corrupção. “Se essa batalha contra a corrupção existisse, o [Eduardo] Cunha estaria na prisão e não por trás [do pedido de afastamento de Dilma]”. O peemedebista, que é presidente da Câmara dos Deputados, atualmente é réu nas investigações da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.
Luiz e Philippe pelos direitos dos LGBTs (Foto: Karen Lemos/Portal da Band)
Já na opinião de Marta Ventura, professora da rede pública, o governo do PT passa por um período de rejeição porque, segundo ela, governa de forma popular. “É um governo para todos”, definiu. “E quando todos – pobres, negros, mulheres, homossexuais – passam a ter direitos, isso incomoda muito.”
Impeachment
O processo do pedido de afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República teve início em dezembro do ano passado, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acatou a ação.
Autores do pedido, os juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. alegam que a presidente cometeu pedaladas fiscais – atrasos no pagamento para bancos públicos – o que, segundo os autores, caracteriza crime de responsabilidade, uma vez que Dilma autorizou gastos de R$ 2,5 bilhões a mais do estava previsto no Orçamento, piorando o cenário de crise econômica do país.
Em sua defesa, Dilma afirma que governos anteriores recorreram às pedaladas fiscais e que, no seu caso, elas foram necessárias para o pagamento de programas sociais como Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.
(Karen Lemos - Portal da Band)