Tendo as sombras do passado como cenário, o filme japonês "Rebirth" (Youkame no Semi) conta a história de uma mulher que rapta uma criança depois de ficar estéril como consequência de um aborto. O longa-metragem é das grandes atrações do Japanese Film Festival que acontece neste final de semana em Dublin, na Irlanda.
No Japão, "Rebirth" foi ovacionado pela crítica e pelo público e recebeu 11 prêmios no Japan Academy Prize – uma espécie de Oscar no país. Além de melhor filme, o longa também foi agraciado com os prêmios de melhor diretor para Izuru Narushima, melhor atriz estreante, melhor atriz coadjuvante, melhor roteiro (baseado no aclamado romance de Mitsuyo Kakuta), entre outros.
Na trama, Kiwako (Hiromi Nagasaku) tem a vida destruída após abortar seu primogênito. Desde então, convive com um vazio que só é preenchido com o rapto de Erina (Mao Inoue), a filha recém-nascida de seu amante. Apesar do delito, Kiwako cria a menina com muito amor, confundindo o espectador que, diante de uma inesperada compaixão pela protagonista, se encontra na torcida pela criminosa.
Para despistar a polícia, Kiwako muda o visual e vai morar em uma vila de mulheres solteiras, de onde foge após descobrirem o seu paradeiro. Logo, as duas vão parar uma pequena ilha no Japão, lugar em que Erina cresce tranquilamente, estuda e faz alguns amigos. Entretanto, uma fotografia com os moradores da ilha publicada no jornal acaba denunciando, pela segunda vez, o esconderijo de Kiwako. Só que desta vez não será tão fácil fugir do inevitável.
Ao longo do filme, acompanhamos o sofrimento da pequena Erina em reconhecer seus pais verdadeiros. O trauma se estende até sua adolescência e destrói, para sempre, qualquer rotina familiar normal que ela poderia ter caso o seu rapto não tivesse ocorrido. Mesmo depois de anos, o passado volta à tona na vida de Erina com a chegada de uma misteriosa mulher que deseja escrever um livro sobre sua história – o que fará com que a protagonista revisite as dolorosas memórias de sua infância.
A narrativa é, de fato, surpreendente. O roteiro não é entregue logo de cara; vai se desenvolvendo aos poucos e, a cada novo detalhe, o espectador recebe uma peça do quebra-cabeça desta comovente história. Repleto de reviravoltas, "Rebirth" nos mostra que a justiça não é tão simples na vida real como normalmente a encontramos na ficção.
Vale destacar a fotografia do filme: um espetáculo à parte, principalmente nas memórias de infância da protagonista, reveladas com belas imagens daquelas que guardamos quando jovens. A ilha no Japão onde Erina cresceu é colorida do ponto de vista de criança, mas se torna melancólica com o seu retorno anos mais tarde.
Para aqueles que não são muito familiarizados com o cinema japonês, vale a dica. "Rebirth" reúne boas surpresas que só o cinema pode nos proporcionar.
(Karen Lemos)