domingo, 21 de março de 2010

Com ousadia e originalidade, Filipe Catto agita cenário da música brasileira

Aos 22 anos, jovem compositor fala do amor de forma singular, e atrai fãs de todos os cantos do Brasil
















Foto: Ieve Holthausen

O registro raro do timbre de voz (contra-tenor) chama atenção para um jovem compositor e intérprete que começa a vislumbrar toda uma carreira musical a ser traçada em cima de muita boa vontade e pela paixão por cantar. Tido como grande revelação na música brasileira, Filipe Catto enfrenta as desvantagens e soma as vantagens de ser um artista independente, original e talentoso como poucos.

Em seu mais recente trabalho, batizado “Saga”, o jovem compositor trata do amor, tema frequente na canção brasileira, de forma inusitada. Com emprego de termos fortes como “desgraçada”, “esmigalhada”, “desbotada”, “perversa”, “destrincha”, Filipe expressa sentimentos de afeto misturado com a desilusão de grandes paixões.

A linguagem utilizada pelo cantor, que contraria a forma como o tema é normalmente abordado, teve influência das palavras de Hilda Hilst e Chico Buarque, só para ficar em dois exemplos. A respeito de Chico, que também canta o âmago dos sentimentos humanos, Filipe cita a música “Olhos nos Olhos” como modelo de sua poética (“Tantas águas rolaram / Quantos homens me amaram / Bem mais e melhor que você”).

“Quando componho tenho uma tendência natural a falar de coisas na minha música que ninguém fala. Gosto muito de tratar o amor dessa forma bastante íntima e crua”, explica Filipe. “São sentimentos inconfessáveis, tão lá dentro e tão horríveis que tu não consegue falar nem para ti mesmo”.

Nascido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Filipe faz parte da nova leva de compositores/cantores (embora tenha poucos intérpretes masculinos que cumpram esse papel) que teve seu talento descoberto e a carreira alavancada através das facilidades da internet.

Na onda dos artistas independentes, que sobrevivem com as ferramentas da rede, Catto se desdobra em criatividade para divulgar seu trabalho. Pouco ligado no interesse das grandes gravadoras - cada vez menos populares na era virtual, Filipe revela seu principal desejo como profissional: ser ouvido.

“Quis facilitar o trabalho das pessoas. Parti do principio que sou um artista novo e, como artista novo, quero me escutem. Quando eu lancei o álbum, enxerguei aquilo como peça de divulgação. O disco em si não me traz o financeiro, esse papel cabe ao show”, explica.

“Baixem. Se gostarem, espalhem o disco - é esse tipo de pagamento que eu espero, não precisam me dar um real a mais”, complementa. O EP virtual “Saga” está disponível, na íntegra, para download no site oficial (http://filipecatto.com.br/).

Ainda a cerca de suas influências musicais, Catto veio de duas vertentes diferenciadas. Da Música Popular Brasileira mais antiga (como Nelson Gonçalves e o já citado Chico Buarque, e grandes divas da MPB como Maysa, Elis Regina e Maria Bethânia), - e de uma veia mais pop e atual, atribuída à época em que tocava em bandas de rock de garagem, no Rio Grande do Sul, como Nick Cave e PJ Harvey.

“PJ traz uma versão dark do amor, como uma coisa mais misteriosa. Neste ponto, as letras dela são bem parecidas com as minhas”, contou.
















Para complementar o forte discurso do disco, Catto pesquisou sobre as possibilidades de sons em diversos instrumentos para agregar em seu trabalho. “Queríamos um disco quente, acústico, com percussão rica e viva. O bom de ser independente é poder criar a música, sem pressão externa. Experimentar e ver o que vai acontecer”.

O estudo pessoal do músico resultou em uma mistura interessante de ritmos latinos como bolero, samba-canção e o tango tradicional - o que necessitou da presença forte do bandonéon na gravação do álbum.

Filipe conta que, durante a pesquisa, percebeu como a cultura latino-americana possui integração. “Se você olhar a estrutura melódica [do tango], verá que é muito parecida com a do samba-canção. A música latina conversa entre si”, explica.

Foi nesse conceito de unidade musical que o repertório de “Saga” foi pensado. “O repertório conta uma história. [Em “Saga”] uma música brinca com a outra, elas se revelam e se conversam”, explica Catto. Houve também a preocupação com um discurso uniforme, que falasse do amor de forma ‘crua, violenta e passional’, “que é o que me traduz”, diz o compositor das letras.

“Algumas lindas canções tiveram que ficar de fora, porque não traduziam o conceito do disco. Eu trabalhei para deixar tudo coerente; isso se estendeu até o visual do site oficial”.

Graças aos recursos virtuais, o site, que abriga o EP, pode ser acessado por curiosos e fanáticos pela música de várias partes do Brasil, o que propiciou a Catto uma pluralidade de público. Gaúcho, o artista se espantou ao ver que boa parte dos interessados em seu trabalho estavam a quilômetros de distância.

“Tudo está acontecendo o contrário do que imaginei. Acreditava ter uma repercussão maior aqui em Porto Alegre, mas notei que, por exemplo, boa parte dos acessos ao site e downloads do álbum vinham do nordeste, onde ocorre um outro tipo de cultura. Estou muito feliz com isso”, afirma.















Foto: Maciel Goelzer

Para chegar até o nordeste e satisfazer seus distantes fãs, porém, é preciso muito mais do que boa vontade e paixão pela música. Sustentando sua carreira apenas com os lucros de shows, Catto enfrenta certos impasses toda vez que marca uma apresentação além do sul do país.

“É muito caro fazer show. Dependemos de toda uma equipe que temos que transportar, e meu show é um espetáculo, quase como teatro”, reconhece. “Existem as leis de incentivo, mas é difícil tocar um projeto assim somente para um show. Encarece!”.

Para ‘facilitar’ as coisas, como transporte e financiamento, Catto está na estrada acompanhado apenas de um violonista (Ricardo Fá) na turnê que foi batizada “Violão & Vísceras”.

“Temos que viabilizar as coisas. Ou faço show capenga com banda - o que eu não iria consegui fazer, ou tiro tudo”, justifica. Nada mais adequado para o clima intimista que se estende do palco até a plateia. “Show com banda é outra experiência, tem mais entretenimento, mas não quero entreter; quero que prestem atenção em minhas letras. Gosto de sentar, olhar e falar na cara a verdade, isso é comunicação da arte, e arte não se faz sozinha”.

A comunicação também se estende a uma performance teatral, dotada pelo forte domínio de palco de Catto e sua entrega na música. “Como vou cantar algo que diz “uma pobre coisa desgraçada” [trecho de “Ascendente em Câncer”] fazendo cara de paisagem? Não tem como não se apropriar [da música], você usa as mãos e todos os utensílios que possui, a dramaticidade é muito teatral”, acredita.

Para 2010, a intenção de Filipe é fazer o maior número de shows possíveis. Disco novo, somente ano que vem. “Já comecei a compor. A essência é a mesma, mas toca em outra questão e com outra estética. ‘Tá’ indo para uma direção meio Dolores Duran com Amy Winehouse [risos]. Será um disco mais cru, mais simples; e terá maior presença de banda”, nos adianta.

(Karen Lemos - O Estado RJ)

“Estrangeiros” do Oscar analisam as raízes da violência humana













A seleção oficial dos candidatos a Melhor Filme Estrangeiro da 82ª edição do Oscar, prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, provou traçar um painel duplo: por um lado, o talento de cineastas latino-americanos como Claudia Llosa e Juan José Campanella, do outro, o retrato nada animador de diferentes personagens/sociedades que funcionam como uma análise da semente de todo o mal.

Grande vencedor da noite, em uma reviravolta surpresa, “O Segredo dos seus Olhos” de Campanella naturaliza os sentimentos de vingança ao misturar emoções universais como a paixão e o humor.

Transmitidos pela impressionante comunicação que nossos olhos possuem – dá-se aí a força do título – os anseios humanos são apresentados reunidos na trama sobre um ex-funcionário jurista que dedica seu tempo de aposentadoria a escrever um romance, baseado em vivências do passado, aquelas com as quais não consegue mais se desvencilhar.

Inspirado no livro homônimo de Eduardo Sacheri, “O Segredo…” conquistou o público argentino, e bateu marcas de bilheteria, tornando-se um dos longas mais assistidos no país. A história relembra o drama de uma mulher estuprada e, posteriormente, assassinada por um maníaco que permanece impune peça justiça, que o emprega para realizar serviços sujos.

Denso, e estranhamente atraente, o novo trabalho do cineasta argentino se mostra muito diferente dos ótimos “A Filha da Noiva”, de 2001, e “Clube da Lua”, de 2004. Dentro dessa miscigenação de gêneros – suspense, comédia, drama – “O Segredo…” nos mostra, através de um final surpreendente, as origens da violência humana causadas pelo desejo por vingança.

O frequente uso de flashbacks, para recontar os acontecimentos, nos surpreende ao longo da projeção, se desdobrando em uma trama muito mais rica da que é apresentada originalmente. O espectador se torna testemunha de pequenas consequências dos atos dos personagens.

Com humor negro, onde é possível rir das desgraças alheias (outra especificidade humana da qual fugimos), o longa se mistura na sensibilidade de uma história de amor com a violência de um assassinato, e a amargura de um crime sem punição justa. Também nos é apresentado outras tantas surpresas. A sequência de perseguição no estádio de futebol, só para ficarmos em um exemplo, filmada com mestria, é empolgante.












Já o peruano “A Teta Assustada”, de Claudia Llose, trata de preconceitos envolvendo uma lenda que assombra uma pequena comunidade no país. Vencedor da edição 2009 da Berlinale, “A Teta Assustada” toca nos sentimentos de rejeição ao retratar as vítimas de violência de um grupo terrorista, resquícios de uma época de repressão política no Peru.

Violentadas, as mulheres são acusadas pelos habitantes locais de ‘contaminar’ a próxima geral de crianças nascidas após o período de violência, ao dar à luz bebês que são frutos das relações de estupro praticadas pelos terroristas.

A transmissão da tal praga seria através do leite materno (justificando o título do longa). Em clima soturno, a trama vai longe ao mostrar o drama de uma mulher que vive com uma batata na região vaginal, para impedir um possível abuso.

“A Fita Branca”, do austríaco Michael Haneke, vai ainda mais longe. Com uma proposta bem mais intrigante das que analisamos até aqui, Haneke expande suas especialidades de linguagem em seu novo trabalho; e faz isso de forma tão intensa, que chega a ser impossível sair do cinema imune a tudo aquilo – saímos, minimamente, incomodados (para não usar o termo “atormentados”).















O clima de desconfiança é especialidade conhecida de Haneke – já comprovado em trabalhos como “A Professora de Piano”, “Violência Gratuita” e “Cachê”. Em “A Fita Branca”, o realizador traz a história ambientada nos anos que antecedem a primeira grande Guerra Mundial, e se apresenta ambicioso em seu conceito ao atribuir pequenos acontecimentos, ocorridos em uma vila da Alemanha, aos primórdios dos ideais nazistas. Simbolicamente, claro.

Todo produzido em preto e branco (o que rendeu a merecida indicação de Melhor Fotografia para o trabalho de Christian Berger), a trama, que levou a Palma de Ouro no último Festival de Cannes, impressiona em seu conceito ao levar ao extremo a resultante ‘ação e reação’ causada pelos personagens centrais – as crianças.

Algozes da história, os pequenos habitantes são obrigados a manter sua pureza (simbolizada por uma fita branca, amarrada no braço de cada uma) de juventude, e andar na linha conforme as rígidas imposições dos adultos da vila, que exigem um comportamento de acordo com ensinamentos cristãos.

Porém, uma vez que os próprios adultos corrompem os conceitos determinados por eles mesmos, com aplicação de penas severas às crianças que os desrespeitam, a falsa moralidade passa a reinar no vilarejo. Surge um espaço propício para o nascimento de uma onda de violência, que Haneke sugere desembocar nos embates da Primeira Guerra, e que permeiam até os dias de hoje. Uma realidade cruel que quando não assusta, desespera.

Na briga pela estatueta dourada, estes principais concorrentes da categoria Filme Estrangeiro (“Segredo…” e “A Fita Branca”) apresentam em comum personagens movidos pela angústia e aflição. Ambas obras procuram deparar uma possível explicação para tanto ódio, e encontra justificativa na violência instintiva que cada um de nós carregamos internamente.

Em ambientes insólitos e tramas recheadas de fino suspense, as produções estrangeiras deste ano nos trazem uma visão mais negativa de mundo, um desapego total em relação a uma mudança na realidade que parecemos estar fadados a viver.














(Karen Lemos - Portal Cinéfilo)

A distorção que vem do campo

Encontro entre grandes nomes da música brasileira celebra a inusitada mistura do ‘rock rural’















Quando o cantor e compositor Zé Rodrix (25/11/1947 - 22/05/2009) escreveu os versos de “Casa no Campo” em parceria com Tavito, talvez jamais tivesse imaginado que ali dava à luz uma vertente na música brasileira, uma mistura da distorção das guitarras com a harmonia da música regional, em uma fusão que ficou conhecida como rock rural.

O termo, que nasceu com as palavras de Rodrix nos trechos “Eu quero uma casa no campo / Onde eu possa compor muitos rocks rurais”, batiza agora um encontro para manter viva essa miscelânea de sonoridades, que já faz parte das especificidades da nossa MPB.

Desde a célebre gravação de Elis Regina, na década de 70, o gênero é relembrado por aqueles que acompanharam de perto o nascimento da combinação musical, e vem atraindo muitos jovens, cada vez mais interessados no que artistas como Zé Geraldo, a dupla Sá e Guarabyra, e conjuntos como o Terço, têm para mostrar.

O Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, reuniu esses e outros grandes nomes da música brasileira em um encontro na programação da casa, que vai até o dia nove de março. Toda às terças-feiras, em dois horários - às 13h e às 19h30, o palco do CCBB se transforma em uma espécie de sala de reuniões para velhos amigos fazerem o que mais gostam: tocar, inventar, e experimentar a música.

“A ideia é mostrar para o público que a coisa continua sendo feita até hoje. Não se trata de algo nostálgico, e muito menos está estagnado”, explica o curador do evento Ricardo Vignini.

Por trás da empreitada, Vignini, que não por acaso também faz parte da seleção artística do evento - tocando com sua banda Matuto Moderno - acredita que o inusitado resultado trazido pelo rock rural continua vivo para aqueles que apreciam a boa música.

“Quando a gente fala da música do campo, todo mundo que nasceu no centro urbano é despertado por uma identificação. Todos nós temos um antepassado que veio lá do interior, e isso faz com que a música com ‘pé na roça’ seja valorizada até hoje”, define o curador.

Zé Helder, um dos novos nomes convidado para o evento e que dividiu o palco com o Ivan Vilela na última terça-feira (2), complementa a resposta de Ricardo.“Estamos nos referindo a músicos que, ao invés de olhar para as tendências momentâneas, estão procurando algo verdadeiro para expressar com sua música”.















Zé Geraldo, que se apresentou no palco do CCBB na última terça-feira (23), diz não enxergar o rock rural como um movimento – ou até como proposta musical. Para o músico, a mistura de gêneros ocorreu de forma natural, e que já era feita muito antes dos rótulos.

“Muitos artistas já realizavam essas misturas espontaneamente. Só para citar um exemplo, Raul Seixas já fazia isso com mestria, só que ninguém achou um título para isso”, explica o cantor e compositor, nascido em Rodeiro, interior de Minas Gerais.

Música sem preconceito

Sérgio Hinds é integrante do conjunto O Terço, que surgiu no final da década de 60 e abriu o festival no CCBB no dia seis de fevereiro, dando o ponta-pé inicial no encontro e esquentando o palco para uma reunião que, segundo ele, celebra um momento importante da cultura brasileira: época em que a experimentação musical era mais do que válida.

“Não tínhamos o menor preconceito, a gente misturava tudo: samba, baião, coisas nada a ver com o rock and roll; tínhamos total liberdade de criação”. Hinds conta ainda que, naquela época, até mesmo as gravadoras eram mais receptivas em relação à materiais inovadores. “Simplesmente editavam o disco e botavam na rua. Era uma época de experimentalismo, quando não existiam barreiras e ficávamos totalmente livres para criar”.

Flávio Venturini, do conjunto 14 bis e que periodicamente se reúne com Hinds, dividindo o som d’O Terço, compartilha da opinião do companheiro de palco:

“[O Terço] trazia muita informação nova numa época em que não havia globalização; neste ponto fomos inovadores trazendo essa mistura de mpb, pop e rock”.















Mesmo sendo irreverente, o músico crê que a mistura do rock rural esteja perdendo seu espaço dentro das mudanças na música brasileira, e atribui isso a um momento difícil na indústria fonográfica.

“Tenho achado esse momento um dos piores pelo qual nossa musica já passou”, resume. Em todo caso, Venturini faz questão de ressaltar que muita gente ainda tem ‘sede de ver boa música ao vivo’. “Mas isso é cada vez mais raro”, explica.

Música sem idade

Para Luís Carlos Sá, um dos principais representante do’movimento’ ao lado de Guttemberg Nery Guarabyra Filho - com quem forma a dupla “Sá e Guarabyra” - o rock rural não pretendia inovar a forma de se tocar rock no Brasil, mas sim de valorizar a canção tradicional e popular feita aqui muito antes dos ritmos americanos chegarem aos nossos ouvidos.

“O rock americano deu origem aqui a Jovem Guarda, que era essencialmente urbana e nada regionalista em termos de Brasil. Ao contrário do rock rural, que partiu da junção do ‘country rock branco’ de Neil Young, Bob Dylan e James Taylor com a raiz brasileira caipira de Cascatinha e Inhana e outros ritmos populares”, explica o cantor e compositor.

O grande encontro ficou encarregado não só de resgatar este pedaço na história da música brasileira, mas também de prestar uma merecida homenagem a um grande amigo e parceiro de palco de Sá: José Rodrigues Trindade - o Zé Rodrix, o mesmo que iniciou toda a história de rotular a música que toda essa gente fazia de rock rural foi relembrado na reunião musical.

Rodrix, que faleceu pouco menos de um ano, teve um papel cultural importante como músico, compositor e produtor musical. Participou de bandas como Sá, Rodrix & Guarabyra (deixando o trio em 1973) e Joelho de Porco. Também chegou a revelar novos talentos da época, tendo produzido nomes como os teatrais Secos&Molhados, também na década de 70.

Além do tributo, Luís Carlos Sá define a união de artistas do rock rural em um mesmo espaço como um painel inédito do gênero. Inédito - mesmo depois de tantos anos de sua classificação - isso porque, apesar do papel segmentador, o rótulo jamais limitou a criação musical.

“Acho que quando a música é realmente boa, não tem problema nenhum em misturar, fica até mais atrativo”, conta Marlene Alves, de 55 anos, que trabalha como bancária e acompanha de perto a trajetória de Sá e Guarabyra há anos.

Não é só Marlene que fica atraída pela ‘mistura de música boa’. É cada vez mais comum a presença de jovens na plateia em shows de antigos conjuntos ou cantores. Com o público vem se renovando, é cada vez mais certo que a música não tem mesmo idade.

“Temos seguidores fiéis, que atravessaram conosco três gerações musicais, e trouxeram seus filhos e netos. Dessa forma vamos agregando, também, um público mais jovem que se cansou da mesmice sertaneja, e está à procura de algo mais”, finaliza.

(Karen Lemos - O Estado RJ)

Com seis vitórias, “Guerra ao Terror” surpreende e domina Oscar 2010

Favorito, “Avatar” de James Cameron levou apenas três das nove indicações
















E deu zebra na 82ª edição dos prêmios “Oscars” da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, realizado na madrugada deste domingo (7) para segunda-feira (8), em Los Angeles, Califórnia. Com vitória de lavada de “Guerra ao Terror”, da cineasta Kathryn Bigelow, a edição 2010 ficou dividida entre surpresas e prêmios já esperados.

Além de melhor filme, “Guerra ao Terror” trouxe o Oscar para sua realizadora, que entrou para a história da premiação como a primeira mulher vencedora desta categoria, ótimo pretexto de comemoração para o Dia das Mulheres.

“Avatar”, do cineasta James Cameron, o mesmo de “Titanic”, teve que se contentar com apenas três estatuetas (direção de arte, fotografia e melhor efeitos visuais) das nove que estava concorrendo.

Os prêmios de atuação não surpreenderam tanto. Jeff Bridges, como esperado, levou melhor ator por “Coração Louco”, assim como o vilão Christofer Waltz de “Bastardos Inglórios”.

Em uma das principais disputas da noite, Sandra Bullock e Meryl Streep se ‘enfrentaram’ e dividiram opiniões até o último segundo, quando Bullock foi premiada por seu trabalho em “Um Sonho Possível”. Na categoria atriz coadjuvante Mo’Nique, favorita, venceu com seu primeiro papel para o cinema.

Contrariando as expectativas, o alemão “A Fita Branca”, já tido como vencedor, desapontou, e deixou a estatueta para o argentino “O Segredo do seus Olhos”. O prêmio de animação, porém, não surpreendeu. O inteligente “Up! – Altas Aventuras” levou, como todos nós já sabíamos. Confira outros detalhes da grande festa do cinema.

O grande vencedor

O termo que designa os “azarões”, em disputas como o Oscar, não pode ser totalmente atribuído ao filme dirigido por Kathryn Bigelow, afinal, sua vitória já era parcialmente esperada.

A rotina perigosa dos desarmadores de bombas, utilizando o conflito no Iraque como pano de fundo da trama, já havia acumulado boa parte dos prêmios durante a temporada das chamadas premiações Pré-Oscar: Globo de Ouro, Independent Spirt Awards , Bafta da Inglaterra e o SAG, do sindicado dos atores, são alguns exemplos.
















Bigelow com os apresentadores da noite: Alec Baldwin e Steve Martin

Foram com 16 troféus contra nove de “Avatar” em premiações diversas e festivais de cinema. Mas, para ter nas mãos o principal prêmio de todos, “Guerra...” teria que explodir um forte candidato. E não foi fácil. Avatar era o atual recordista de bilheteria no mundo, e também concorria com nove indicações nas categorias do Oscar 2010.

Ficções cientificas como ‘Avatar’ não costumam a saírem vencedora dos eventos da Academia (Vale destacar os megas sucessos de bilheteria “Star Wars”, de George Lucas e “ET”, de Steven Spielberg – indicados e não-premiados). Mas os números, até então, estavam a seu favor.

Em comparação, “Avatar” já faturou mais de US$ 700 milhões (cerca de R$ 1.250 milhões) somente nos Estados Unidos, enquanto que “Guerra ao Terror”, nas mesmas análises, arrecadou “apenas” US$ 12,6 milhões (aproximadamente R$ 22,460 milhões) para as bilheterias norte-americanas. Apesar da diferença, a soma não é nada mal para o filme de Bigelow, que foi realizado com pouco orçamento.

Além de filme e direção, “Guerra...” também venceu melhor roteiro original, melhor edição de som, melhor mixagem de som e melhor montagem.

Assistida pelo ex-marido James Cameron, sentado na plateia, Bigelow dedicou seu prêmio as “mulheres e homens militares que arriscam vidas diariamente, no Afeganistão e no mundo inteiro”, e ainda desejou que “pudessem voltar para casa são e salvos”.

Batalha dos atores
Sandra Bullock definitivamente foi o destaque. Após seus 20 anos de carreira, recheado de comédias românticas e sem nenhum reconhecimento, a atriz levou a melhor por “Um Sonho Possível”, derrotando veteranas como Helen Mirren e Meryl Streep.

Ironicamente, a premiação do Framboesa de Ouro (os piores do Oscar, que ocorre às vésperas da grande noite do Oscar) “agraciou” Bullock com o título de pior atriz por seu trabalho em "Maluca paixão", o qual também produziu.














Bullock e Bridges com a estatueta dourada

No palco do Oscar, Bullock muito emocionada agradeceu, primeiramente, a Academia por “dado a oportunidade de viver uma vida maravilhosa nestes últimos meses”. Sempre brincalhona, ela não deixou de fazer piada acerca da acirrada disputada com Streep.”Você beija muito bem!”, disse, relembrando o momento de empate na premiação do Critics’ Choice, que acabou em selinho entre as duas intérpretes.

O resultado foi que Meryl Streep não precisou receber a estatueta para sair ‘vencedora’ do evento. Interpretando a famosa apresentadora de programa culinário Julia Child”, Streep atingiu 16 indicações ao Oscar (ganhou duas vezes). Um recorde na história da premiação já que Katharine Hepburn, que detinha a marca anterior, somou 12 indicações.

Despontando como favorito, o ator Jeff Bridges “abocanhou” todos os prêmios da temporada 2010, quase não deixando dúvidas sobre sua vitória final. Por seu cantor de country alcoólatra e decadente de “Coração Louco”, Bridges recebeu sua [primeira] estatueta dourada, confirmando seu favoritismo. O ator foi aplaudido de pé, e agradeceu os membros da Academia assim que subiu no palco, e também aos parceiros da produção.

Na categoria melhor ator, nada de extraordinário. Christoph Waltz, merecidíssimo na pele do impiedoso nazista Hans Landa, em “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, levou. Como era esperado, Waltz trouxe a única estatueta para a produção sangrenta - do que jeito que Tarantino gosta, e que tem como protagonista o galã brad Pitt.

O Globo de Ouro, o Independent Spirit Award e o Bafta já haviam premiado Mo'Nique por seu trabalho no longa-metragem “Preciosa”. Nada mais justo do que um repeteco no Oscar.
















Waltz premiado pelo vilão Hans Landa de "Bastardos Inglórios"

Em seu primeiro trabalho como atriz, Mo’Nique, que é conhecida nos Estados Unidos como apresentadora de televisão, impressionou a crítica com sua personagem forte: uma mãe rigorosa com a filha traumatizada por abusos sexuais.

Demais premiados

Outra categoria que é bem esperada na premiação é o de melhor filme estrangeiro, que neste ano foi surpreendente. Contrariando todas as apostas, O favorito – o alemão “A Fita Branca”, de Michael Haneke - deu vez a produção argentina “O Segredo do seus Olhos”, de Juan José Campanella.

“Up! – Altas Aventuras” correspondeu às expectativas e levou o prêmio de melhor animação. Assim como melhor figurino para o filme de época “The Young Victoria”, ainda sem lançamento no Brasil, que confirmou seu favoritismo.

“Preciosa” levou melhor roteiro adaptado, indo contra apostas de alguns críticos que cantavam vitória para “Amor sem Escalas”, de Jason Reitman (roteirista de “Juno”).

Para melhor canção original, que neste ano não contou com os números musicais no palco na tentativa de encurtar tempo de exibição, levou “The Weary Kind" de “Coração Louco”.

“The Cove”, sobre ativistas contra caça de golfinhos no Japão, ganhou como melhor documentário.
















Equipe de "The Cove", vencedor de melhor documentário

Entre as atrações teve homenagem a John Hugers, que faleceu em agosto de 2009, roteirista/diretor de clássicos cinematográficos da década de 80 como “Curtindo a Vida Adoidado”, “Clube dos Cinco” e “Esqueceram de Mim”. A celebração teve direito a Macaulay Culkin, que andava sumido no mundo dos famosos, presente no palco.

Como acontece todo ano, a Academia ainda lembrou das personalidades que contribuíram para o mundo da sétima arte, e que nos deixaram esse ano. No telão foram homenageados artistas Patrick Swayse, David Carradine, Brittany Murphy, entre outros.

(Karen Lemos - Famosidades/MSN)