quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Personalidades analisam universo de Chacrinha
















O documentário do cineasta Nelson Hoineff sobre Abelardo Barbosa - o Chacrinha - que estreia hoje nos cinemas nacionais, não se atenta a figura excêntrica do apresentador que quebrava todos os princípios éticos na hora de se fazer televisão.

O filme é o muito mais do que isso. Reunindo os elementos que fizeram de Chacrinha um mito, “Alô, Alô, Terezinha!” tenta traçar a personalidade do show man através de depoimentos coletados das pessoas que fizeram parte do seu universo único e totalmente maluco.

Após 21 anos da morte de Abelardo Barbosa, o diretor tenta resgatar os anos de atividade do “Cassino do Chacrinha”, programa comandado pelo Velho Guerreiro nas tardes de sábado, e que reunia toda família na frente da televisão. Com imagens de arquivo (algumas apresentando uma qualidade péssima, mas com riquíssimo conteúdo), Hoineff nos leva de volta ao final dos anos 70 e início de 80, época em que a atração era exibida pela Rede Globo.

O palco era uma bagunça só. Câmera para lá, fios para cá, serpentinas, confetes, balões, dançarinas, músicos, plateia enlouquecida; e no meio de tanta confusão, os artistas tentavam se apresentar - tendo que desviar dos obstáculos - enquanto o apresentador, sempre espalhafatoso, caminhava de um lado para o outro, entrando na frente da câmera, e deixando os produtores todos loucos.

Muitos destes artistas, que fizeram parte da história, estão no documentário para comentar a experiência. O “Cassino do Chacrinha” não era só um programa de auditório com atrações musicais, era também notório por trazer as personalidades que estavam no auge da fama, e por alavancar carreiras de novos conjuntos ou de artistas sumidos da mídia.

E pelo peso do elenco, podemos dizer que Chacrinha estava sempre bem acompanhado. O filme traz importantes depoimentos de Roberto Carlos (que aparece, nos primeiros minutos de projeção, fazendo graça com uma peruca e um bigode), Gilberto Gil, Alcione, Elba Ramalho, Beth Carvalho, Ney Matogrosso, Fabio Jr, Dercy Gonçalves, Fafá de Belém, Byafra, com a famosa cena do seu acidente com o parapente enquanto cantava “Sonho de Ícaro” exibida na íntegra, e muitas outras personalidades.

Há também apresentações históricas de Tim Maia, Barão Vermelho (com Cazuza nos vocais) e Raul Seixas, estes dois últimos, que não tinham lá muita simpatia pela comunicação de massa na televisão, abriram exceção no “Cassino”, devido à popularidade respeitada que tinha o seu apresentador.

Em certos momentos, o documentário assume uma postura mais investigativa ao tentar identificar e ir atrás dos nomes que viraram piada nacional no palco da atração. São os calouros que arriscaram a sorte e, como resposta, receberam a famosa buzinada e o prêmio abacaxi das mãos de Chacrinha.














Mergulhados em total esquecimento, o ex-calouros se emocionam ao se lembrar do Velho Guerreiro e suas brincadeiras. É curioso notar que muitos ainda acreditam no talento artístico que nunca possuíram (um deles se acha melhor que Roberto Carlos, e arrisca uma cantoria em vão). Até a famosa Terezinha é localizada, após muitas versões desencontradas sobre seu paradeiro.

Outro destaque vai para, claro, as chacretes. As dançarinas de Chacrinha eram muito mais do que complementos dos shows musicais. Além de interagir com os participantes do programa, também se tornaram sex symbols na época, tanto que surgiram alguns boatos de que as moças estariam envolvidas com a prostituição (fato que é negado terminantemente por algumas ex-chacretes, enquanto é confirmado e assumido por outras).

Se o lado das dançarinas sensuais transmitia todo glamour que ser uma chacrete poderia trazer, o filme se torna melancólico, quase trágico, ao mostrar a realidade por trás das câmeras. Tentando sobreviver como podem a custa de empregos convencionais, bem longe do glittler e paetês dos anos remotos, hoje, as chacretes vivem em visível decadência.

Daquela época restou apenas a memória de algumas experiências, músicas e passos de danças que recordam, e que reproduzem nostalgicamente na frente das câmeras. Quem ainda possuiu alguma popularidade é Rita Cadillac, que foi a mais notória de todas as chacretes.

Falecido no dia 30 de junho de 1988 aos 70 anos, devido a complicações de um câncer no pulmão, Chacrinha deixou sua marca permanente na história da cultura e da comunicação nacional. Revelou um Brasil que não era mostrado nas telinhas, e inovou a forma de apresentar televisão.

“Alô, Alô, Terezinha!” é mais uma prova de que Abelardo Barbosa continua sendo relembrado como a figura simpática e curiosa que jogava sacos da farinha na plateia, frutas e o famoso bacalhau (que eram restos de peixe que ficavam encalhados nas vendas da “Casa da Banha”, patrocinadora do seu programa), e seus famosos bordões nunca saíram da boca do povo, pois “quem não se comunica, se trumbica”, como já dizia o Velho Guerreiro.



(Karen Lemos - Famosidades/MSN)