domingo, 30 de agosto de 2009

Uma válvula de escape para von Trier













“O senhor pode, por favor, explicar por que fez esse filme?”. Foi assim que um jornalista do “Daily Mail” se dirigiu ao cineasta, após a exibição do seu novo trabalho no último Festival de Cannes. “Não tenho que me justificar”, replica, ríspido, von Trier. Mesmo com a resposta seca, o clima de desconforto permanece na sala da coletiva.

O estado psicológico em que o artista se encontra é refletido em sua obra. A frase aqui não poderia melhor definir o que se passou durante a concepção de “Anticristo”, o mais novo trabalho do polêmico Lars von Trier.

Durante a produção, o cineasta dinamarquês passava por um período difícil na sua vida, enfrentando uma depressão barra pesada. Com a sensibilidade aguçada, ‘Anticristo’ não poderia ficar imune da realidade de um universo sombrio que seu criador estava habitando.

É exatamente isso que faz de “Anticristo” o filme subversivo da vez. “Vaiado pelo público”, “Algumas pessoas da platéia se levantaram durante sua exibição”, “Cannes categorizou como ofensivo”, essas e outras frases do tipo foram as mais ouvidas durante seu lançamento. Os críticos mais ácidos mandaram o cineasta se tratar. “Seu criador certamente precisa de ajuda psiquiátrica”, disse o jornalista Christopher Tookey, do “Daily Mail”.

Claro que boa parte dos comentários fazem o papel do “empurrãozinho” na divulgação do filme. E funciona, viu? Quem não se lembra de “A Paixão de Cristo”, ou então, o mais recente “Rec”, que foram alavancados por um programa de publicidade, feita pela imprensa. Baseado na polêmica, os comentários geram a curiosidade do púbico que corre para as salas dos cinemas em unanimidade. Mal tendo consciência do que irá assistir, o telespetactador está mais preocupado em, dentro das rodinhas de amigos, estar interado daquele “filme que ta todo mundo comentando”.

A jogada de marketing é bem conhecida para quem sabe como se movimenta o mercado cinematográfico ou, no geral, o sistema capitalista. Mas onde há fumaça, há fogo. “Anticristo” é, antes do seu viés comercial, repugnante, nauseante e incômodo, assim mesmo como estão dizendo, acreditem.

Está do jeitinho que Lars von Trier gosta. O idelizador do Dogma 95 (movimento cinematográfico que dispensa maiores recursos para produção de um filme) se deleita com o desespero do público que assiste a uma bateria de cenas desagradáveis, e muitas vezes desnecessárias. Mas, se não fosse por esses exageros - que combinam muito com o estilo de von Trier - não seria von Trier, não teria a mínima graça. (ou desgraça, aqui no caso).

“Anticristo” é sua empreitada experimental no gênero terror. Quem procura monstros, fantasmas e sobressaltos nas poltronas vai se decepcionar. Não é disso que a produção do dinamarquês se trata. O horror aqui é psicológico, instaurado com suspense e claustrofobia.














Agora entendemos porque essa foi a válvula de escape do cineasta depressivo, que soube migrar seus piores demônios para dentro das telas, fazendo disso a sua terapia pessoal. Uma “cura” bem egoísta, já que todos os seus tormentos são passados para a platéia. Von Trier está pouco se lixando se o público vai lidar bem com a carga negativa de “Anticristo”. Para ele, basta ser bem sucedido no exorcismo de seus demônios, seja da forma que for.

Denso, “Anticristo” é recheado com um material nada digestível, inspirado nos pensamentos do cineasta perturbado pela doença. Bem diferente de trabalhos anteriores como “Dançando no Escuro” ou “Dogville" que, apesar da crítica social sempre presente, fazem uso de uma certa leveza e poesia para abordar temas pesados. A mais nova criação aqui, nada tem de poesia.

A começar pelo cartaz chamariz, que retrata uma das cenas chaves do filme. Os protagonistas (o ótimo Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, filha do compositor francês Serge Gainsbourg) aparecem fazendo sexo debaixo de uma grande árvore, ao redor de corpos ataúdes. O título provocador, “Anticristo”, está destacado em letras garranchadas na cor rosa. É um aviso prévio de que, o espectador está prestes a assistir algo nada convencional. E logo de cara, percebemos mesmo que aquilo não é realmente um filme convencional. Nos primeiros cinco minutos de exibição, nos deparamos com sexo explicito, que causa desconforto para os desavisados.

Bom, vamos para sua história. O filme retrata um casal que tem a vida transformada após a morte do único filho. O trágico acidente, que é o ponta pé inicial de toda a mudança nos personagens, é uma das cenas que melhor misturam tragédia com beleza. O casal transa enquanto o filho se joga da janela, embalado ao som da opéra de Händel. Toda rodada em câmera lenta, a sequência detalha sutilezas como gotas de água caindo e flocos de neve voando. Clichê, mas funciona muito bem dentro do contexto proposto pelo diretor.

Atormentada, a mãe da criança, uma escritora bem sucedida, será auxiliada pelo marido psiquiatra para tentar amenizar seu sentimento de culpa. O casal parte em busca de respostas e viajam até uma cabana abandonada no meio da floresta do Éden. O lugar se torna o antro das mais bizarras situações. São ilusões perturbadoras, bichos mortos, animais comento partes de seu próprio corpo, e por aí vai. Sequências horríveis que vão brotando enquanto as revelações da trama vão se desmiuçando.















“Anticristo” é, também, a junção do sexo com violência, explícita e gratuita, dois extremos que a todo o momento estão se unindo na trama. As passagens vão da mais brutal agressão física ao desejo sexual consumado logo na sequência. É a mistura do sangue com o prazer, da forma mais repulsiva possível. Cenas de masturbação, sexo explícito e tortura sexual pontuam o enredo de “Anticristo”. Só as cenas de gozo com sangue, e a automutilação de um clitóris, já bastariam. A platéia se torna o uníssono do incômodo.

Sem muitos propósitos, o filme encontra sua base em uma tese acadêmica que a personagem de Charlotte estava escrevendo antes da morte de seu primogênito. As pesquisas sobre feminicídio, ato de torturar mulheres muito frequente durante a Idade Média, e ainda presente nos costumes de países islâmicos na forma de punição, e no continente africano, onde algumas dessas práticas fazem parte da cultura local. Esse condutor da trama tenta justificar os atos agressivos da personagem, perseguida a todo o momento pela violência da sua própria natureza.

"Acho muito bom que as pessoas saiam do cinema com algum tipo de emoção", declarou em entrevista o realizador de “Anticristo”. E pode apostar nisso. Quanto ao título escolhido, e não justificado durante o filme, von Trier nada revela.

E não tente mesmo encontrar explicação. Isso é Lars vo Trier. É uma câmera na mão, sem amarrações no roteiro, sem preocupação estética, sem querer ser convencional, sem recursos. É apenas o desejo de filmar, de entrega, experimentação, ousadia, abuso.



(Karen Lemos - Portal Cinéfilo)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Especial: O legado de Raul Seixas



















Mesmo após 20 anos de sua morte, completados nesta sexta-feira (21), Raul Seixas ainda consegue vender discos e ser lembrado pela cultura de um país sem memória, onde inúmeros artistas já passaram e se foram, caindo no ostracismo e em total esquecimento.

O segredo da imortalidade pode estar na irreverência e na imagem de rebeldia, cultivada em uma época em que ser rebelde era sinônimo de perigo para a “moral” da sociedade brasileira, ou então no legado musical deixado pelo compositor e intérprete que até hoje reúne diferentes gerações que gritam, em uníssono, o famoso “Toca Raul!” – frase que ficou tão célebre quando seu próprio personagem.

Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, em 28 de junho de 1945. Filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Seixas, o garoto foi criado na capital baiana até sua adolescência. Foi lá que começou a ouvir música, que ia desde clássicos do rock, como Elvis Presley e Little Richard, até marcos da cultura nordestina, como Luiz Gonzaga. O gosto eclético do menino Raul influenciou no seu trabalho, que misturava esses dois estilos tão extremos, e se tornou o diferencial da sua obra que marcou, a ferro e fogo, a cultura brasileira.

Apelidado de Raulzito (diminutivo do mesmo nome do seu pai), os primórdios da carreira do músico, no início dos anos 60, carregaram seu carinhoso apelido no batismo do seu primeiro conjunto de rock, “Raulzito e Os Panteras” (que anteriormente se chamava “The Panthers” e, antes ainda, “Relâmpagos do Rock”). Mas, a projeção nacional, de fato, viria apenas nos anos 70.

Curiosamente, o primeiro sucesso de Raul que estourou era uma canção carregada de letras agressivas, que criticavam a sociedade capitalista, a valorização de bens materiais e as autoridades da época: “E você ainda acredita/Que é um doutor/Padre ou policial/Que está contribuindo/Com sua parte/Para o nosso belo quadro social”, dizia o trecho de “Ouro de Tolo”, lançado em 1973.

Devido ao sucesso do compacto de “Ouro de Tolo”, o músico foi contratado por uma gravadora e lançou “Krig-Ha, Bandolo!”, de 1973, seguido por “Gita”, de 1974. Os dois álbuns se tornariam marcos na trajetória de Raul por trazer algumas de suas mais conhecidas canções, como “Metamorfose Ambulante”, “Mosca na Sopa”, “Al Capone”, “Sociedade Alternativa”, “O Trem das Sete”, “Medo da Chuva”, entre outros. Todas as músicas tinham em comum a presença de um cunho crítico-social, um abuso para aquela época, quando o Brasil era governado pelo General Médici, em plena ditadura militar, e o Ato Institucional número 5 (AI-5), entrou em vigor, iniciando uma fase de censura e repressão no grupo de constadores no qual Raul estava incluído.

Foi nesse período, que o Maluco Beleza conheceu uma pessoa com quem cultivaria amizade e travaria diversas parcerias musicais (“Gita” é o principal exemplo), o escritor Paulo Coelho. Juntos, os dois amigos dividiram loucuras e pensamentos ousados, e chegaram a formar uma sociedade só deles, a “Sociedade Alternativa”, com direito a uma comunidade própria, a “Cidade da Luz”, onde o pressusto era liberdade de viver da forma que cada individuo bem entendesse.

Loucura ou não, o fato é que a dupla contribuiu em grande parte para o cenário musical da época, e grandes sucessos de Raul foram compostos em parceria com o escritor.

Raul foi embora cedo, aos 44 anos, mas deixou um vasto legado que até hoje é revivido. O músico teve uma vida intensa. Foram cinco casamentos, deixando três herdeiros e uma vasta produção musical; até discos póstumos foram lançamento após sua morte, em 21 de agosto de 1989, por pancreatite aguda causada pelos seus abusos com a bebida.

A figura emblemática de Raul não estava apenas na imagem anarquista , suas polêmicas com seitas religiosas e declarações ousadas, mas também no símbolo de um ser humano que se preocupava com o andamento do mundo e as injustiças que eram escancaradas na cara da sociedade, que se calava diante de tanta repressão.
Afinal, quem reúne quatro mil pessoas em um show tributo à sua memória, realizado na última Virada Cultural em São Paulo, mesmo após 20 anos de sua ausência, merece ter a cada ano uma homenagem dedicada só para ele: Raul Seixas, o ícone do rock brasileiro.

Raul Seixas por quem entende

“Eramos amigos de boteco e alas de manicômios”, assim define a amizade de 10 anos que manteve com um dos maiores ícones da cultura brasileira. Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club, fã clube oficial dedicado à memória de Raul Seixas, conheceu essa grande figura por causa da sua admiração.

Ao tomar conhecimento do empenho de um fã em gastar horas do seu tempo dedicados para ele, um receptivo Raul Seixas quis conhecer seu admirador, isso lá nos anos 80, e chamou Sylvio para um almoço em sua casa. Nasceu ai uma amizade que ultrapassou limites entre ídolo e fã. Era um relacionamento íntimo, verdadeiro.

“Um sujeito bacana e bem educado. Ele tinha umas tiradas sarcáticas, críticas e um jeito irônico, mas, acima de tudo, era um homem preocupado com o ser humano, com a humanidade”, define Sylvio. Raul era uma pessoa de fácil convivência e tinha a generosidade como sua maior virtude.

A conviência com Raul mudou e acrescentou à personalidade de Sylvio, que passou a olhar ao seu redor com a ótica do amigo. “Aprendi a ver o mundo de várias formas, a lidar com certos assuntos de um jeito diferente. Isso tudo o Raul me passou, é essa influência dele que trago comigo”, disse.

Ao falar sobre a tragédia que culminou com a morte do ídolo, Sylvia acredita que o próprio fardo que o músico carregava com a sua imagem, o levaram a depressão e a entrega ao álcool. “Raul não entendia porque o colocavam em um patamar de Deus, de rei. Nunca conseguiu lidar direito com essa posição”, revelou.

“Não encontro aquela atitude nos músicos de hoje. Alguns até tentam, mas não são Raul. Em partes, isso é ruim, porque quem imita acaba perdendo a identidade”, revela Sylvio. Apesar da falta de originalidade, o fundador do Raul Rock Club tenta não radicalizar quando se trata de homenagens e saudosismos ao Maluco Beleza, afinal, relembrar o legado de Raul, é manter a lenda viva.

Porque Raul é único? Sylvio explica: “Raul foi o cara que soube como ninguém misturar o roque com a música brasileira, sempre contestando, filosofando, enlouquecendo. Ninguém mais soube fazer isso”.

Quem sabe bem que nenhuma outra pessoa igualava Raul Seixas naquilo que ele fazia de melhor é Roberto Seixas. Não, ele não é nenhum parente do homem, mas, a identificação é tanta, que Roberto adotou o sobrenome do ídolo, a quem mantém 22 anos de sua vida dedicada a apresentações cover.

Raul entrou em sua vida de forma bem curiosa. O primeiro contato, em 1972, foi através de um programa de rádio, onde tocava “Let me Sing, Let me Sing”, que mesclava rock com baião. “Achei aquilo horrível, desliguei o rádio na hora”, conta Roberto.

Uma nova chance, e Raul conquistou de vez um espaço na vida do rapaz que, lá pelos idos dos anos 80, assistia encantado à uma performance do cantor no programa “Globo de Ouro”, da Rede Globo. A identificação foi instantânea. Naquele momento, Roberto se deu conta de qual era a missão de sua vida. “Era uma coisa que eu tinha que fazer” . O ano era 1987, e desde então, o fã encarnou o ídolo, virou artista cover renomado e chegou a receber elogios do original.

Roberto considera que, hoje, não há mais espaço para as músicas críticas de Raul. Mas, isso não quer dizer que a chama acesa pelo astro tenha se apagado, fato que é comprovado quando o caracterizado Roberto sobe ao palco “Olho para o público e vejo gente de 5 a 80 anos. O mais interessante é que são de todas as classes, até aquela que Raul adorava criticar em suas canções”.

Atingir diversas faixas etárias em diferentes poderes aquisitivos é para poucos, o que se torna ainda mais difícil depois de 20 anos de ausência. Roberto atribui a imortalidade do ídolo a sua atemporalidade nos assuntos abordados pela música do Maluco Beleza, e da compreensão do Raul contestador que levam muitos fãs a se identificarem com a lenda.

O fardo e a responsabilidade de levar canções de um ícone, para os que viveram em sua época, ou para aqueles que nem pensavam em nascer enquanto Raul estava no auge, é enorme. Roberto sabe bem disso. “Faço isso no meu trabalho. Não é só subir no palco e cantar. Eu tento, da melhor forma possível, fazer com que o público compreenda a mensagem que Raul queria passar”. 20 anos depois, a mensagem continua viva e atual. E alguém aí duvida?

(Karen Lemos - Famosidades/MSN)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Especial: Alfred Hitchcock


















13 de agosto 1899. Há exatos 110 anos, nascia um dos maiores ícones que o cinema já conheceu. Sir Alfred Joseph Hitchcock, mais conhecido por Alfred Hitchcock, ou simplesmente o “Mestre do Suspense”, como o próprio se autodenominava. O apelido não era só um slogan para atrair atenção, mas também faz juz ao estilo de cinema criado por esse genial diretor, de personalidade forte, domínio de técnicas e, claro, muita criatividade.

Muitos podem indagar ao ouvir seu nome, Hitchcock não ficou marcado na história pela pessoa que era, mesmo se tratando de uma personalidade curiosa, e sim, por clássicos que deixou entre os seus quase 70 filmes produzidos ao longo da carreira. Mesmo para quem não é fã das escuras salas de cinema, com certeza já viu esta cena memorável - uma mulher tomando banho, uma mão segurando a faca, suspense, a mão misteriosa abre as cortinas do chuveiro, a mulher grita, o sangue escorre pelo ralo. Tudo isso ao som de um dos temas que mais marcaram na história do cinema.

A cena, interpretada por Janet Leigh, é o marco de “Psicose”, filme de 1960 que consagrou seu idealizador como um mestre do gênero. Até hoje essa sequência é lembrada e recriada, em forma de paródia ou como uma singela homenagem, pelo cinema contemporâneo. O estilo “claustrofóbico” criado por Hitchcock mantém sua influência e, sem muito procurar, é possível descobrir uma série de vestígios da sua arte no que temos de mais atual na produção cinematográfica.

A imagem do homem encorpado, sempre bem vestido e que, por vezes trazia um corvo posado em seu ombro, foi virando lenda ao longo dos anos. Era o retrato de um gênio que adorava tirar o fôlego de seu público, e atiçar a curiosidade dos telespectadores com suas frequentes aparições dentro de seus filmes. Confira um pouco mais dessa lenda.

Trajetória

Sua paixão pelo cinema começou cedo, aos 21 anos. Nascido em Leytonstone, Londres, Hitchcock teve seus primeiros contatos com o universo da sétima arte quando fazia os cartazes das falas em filmes mudos daquela época, isso ocorreu no seu primeiro emprego na área, já na Paramount Pictures, grande estúdio de Hollywood.

Foi lá que o aprendiz a cineasta foi lecionado com o básico sobre direção, além de outros ensinamentos que obteve com edição e produção de roteiros. Mesmo com tamanha bagagem cultural, um diretor não é genial se não tiver idéias criativas, e isso, Hitchcock tinha de sobra, era só uma questão de oportunidade e tempo para poder provar seu talento.

A oportunidade logo chegou. Em 1925, após os donos dos estúdios perceberem que da cabeça do aspirante poderia sair coisa boa, conseguiu produzir seu primeiro filme “The Plesure Garden”, mas foi no ano seguinte que obteve merecido destaque com “The Lodger”. Neste longa, baseado nas histórias de morte do famoso Jack, O Estripador, o cineasta deu início ao que de melhor sabia fazer nas telas: suspense, gênero que o consagrou.

Um suspense refinado

Em 1939, Hitchcock se mudou para os Estados Unidos, onde deu início a uma produção cinematográfica de grandes obras que o levaram para o auge do seu reconhecimento.
Sua estreia, em grande estilo, foi com “Rebecca – A Mulher inesquecível”, que de cara recebeu o prêmio Oscar de melhor filme naquele ano. Mas foi em clássicos como “Janela Indiscreta” e “Psicose” que Hitchcock personificou o seu estilo único de fazer cinema.

Sem os litros de sangue que os filmes de horror normalmente apresentam em sua composição, o Mestre do Suspense trazia uma trama que prendia o espectador dentro de um clima incômodo e tenso, com os cenários sombrios e a música forte, que só mesmo o cineasta conseguia reproduzir. O segredo era deixar o público avisado de todos os perigos que o personagem iria passar. Aos poucos, a platéia acompanhava, ansiosamente, o desdobramento da história.

Os roteiros assinados por Hitchcock, aliás, eram por si só nada convencionais. Uma pacata cidade atacada por pássaros violentos em “Os Pássaros”, de 1963; uma secretária se esconde em um hotel onde ocorre uma série de mistérios em “Psicose”, de 1960; um policial que sofre de acrofobia é encarregado de vigiar uma jovem com tendências suicidas em “Um Corpo que Cai”, de 1958; fatos estranhos acontecem em frete da janela de um fotógrafo engessado em “Janela Indiscreta”, de 1954; marido planeja a morte de sua mulher para herdar fortuna e vingar-se de uma antiga traição em “Disque M para Matar”, de 1954; isso só para citar alguns exemplos do vasto universo do Mestre do Suspense.

Outra característica bem “hitckcockiana” em suas produções foram as famosas “pontinhas” do diretor em suas obras, o que, mais tarde, se tornou um verdadeiro passatempo para seus fãs, que analisavam meticulosamente cada cena de seus filmes, a procura das participações do ídolo.

Por esse motivo, teve a oportunidade de tocar seu próprio programa de televisão, o “Alfred Hitckcock’s Presents”, que comandou entre os anos 1955 até 1962. No repertório, é claro, entravam somente histórias recheadas de mistérios, que ganhavam ares ainda mais sombrios com a introdução do ilustre apresentador.

Influência ao longo dos anos

Vitimado por insuficiência renal, Hitchcock faleceu em 29 de Abril de 1980. Os frutos deixados por seu trabalho permanecem ativos nas mãos de grandes diretores contemporâneos, que não se cansam de homenagear o mestre.

A linguagem inconfundível de Hitchcock, hoje, pode ser vista presentes em produções de diretores como George Romero, Quentin Tarantino e M. Night Shyamalan; cineastas que normalmente abordam histórias com muito mistério em sua fórmula. Shyamalan, por exemplo, faz uso constante da técnica de prender o espectador dentro de um suspense, que aos poucos vai se revelando, enquanto a trama se desenvolve.

Uma forma mais refinada de fazer cinema também pode ser encontrada, ainda que de forma menos direta, nos trabalhos de Francis Ford Coppola, Mel Brooks e Brian De Palma, só para citar alguns entre tantos outros profissionais.

Para se ter idéia da importância deixada pelo nosso homenageado, é possível encontrar vestígios de Hitchcock até em histórias em quadrinhos. A Turma da Mônica, aqui do Brasil, também foi “vítima” da influência do Mestre do Suspense. O personagem Bidu, um simpático cachorro da publicação, chegou a interpretar alguns personagens famosos dos filmes de Hitchcock em uma das tirinhas de Mauricio de Souza.

Filmes Célebres

· Psicose: Impossível iniciar uma lista com filmes de Hitchcock sem citar a sua obra prima, e o trabalho pelo qual sempre será lembrado. Psicose traz os principais elementos da linguagem do cineasta. A trama se passa em um Hotel, onde uma moça misteriosa passa a noite e presencia fatos suspeitos. Detalhe para a cena memorável do chuveiro, com direito a gritos e sangue escorrendo ralo abaixo.







· Os Pássaros: O roteiro deste clássico do diretor em “Os Pássaros” é simples. Uma cidade vira alvo de ataque por pássaros descontrolados e extremamente perigosos. Uma trama incomum, mas que não chamaria tanta atenção se não fosse pelo modo único que só Hitchcock possui na direção.









· Janela Indiscreta: Os elementos de “Janela Indiscreta” são mesmo dignos de um thriller. Com a visão do cineasta, então, o impacto da trama triplica. Um fotojornalista é obrigado a permanecer dentro de casa, após sofrer um acidente e ter a perna engessada. Dentro do seu apartamento, ele acompanha na janela de frente a sua, fatos esquisitos e desesperadores que se desenrolam.







· Um corpo que cai: Outra obra-prima que não poderia deixar de ser citada. Na trama, um detetive particular, que sofre de vertigem, é contratado para investigar uma mulher com tendência suicidas. Dá para imaginar tanta tensão.










· Disque M para Matar: Com atuação da bela Grace Kelly, estrela de vários filmes de Hitchcock, “Disque M para Matar” traz a história complexa de um marido traído e obcecado pela herança de sua esposa. Para conseguir o que quer, ele contrata um matador de aluguel. A partir daí, muita coisa pode dar errado.








· O Homem que sabia demais: A história dessa produção começa a ficar interessante quando um médico se vê envolvido em um assassinato. Alguns suspeitos passam a persegui-lo a fim de assustar o rapaz, que tem seu filho sequestrado, e que não pode contar com a ajuda nem da própria polícia.









· Rebecca: “Rebecca – A Mulher Inesquecível” vale destaque aqui por ser a primeira produção bem sucedida de Hitchcock. De cara, o longa recebeu o Oscar de melhor filme na década de 40, e seu realizador foi nomeado ao prêmio de diretor. A história da mulher que vive a sombra da ex-esposa de um nobre inglês foi o ponta-pé inicial de sua carreira.








· Pacto Sinistro: Dois rapazes se conhecem dentro de um trem e travam um acordo macabro que envolve matanças. Enquanto um dos homens levou o pacto como uma piada, o outro passageiro considerou como algo muito sério. No desembarque do trem, uma onda de assassinatos e de perseguições se inicia, em ritmo desesperador, nesta grande trama do Mestre do Suspense.








· Interlúdio: Usando o Rio de Janeiro como cenário, “Interlúdio” traz Ingrid Bergman na pele de uma espiã americana dentro do país. A jovem terá que enfrentar agentes nazistas em operação aqui no Brasil. Uma ótima mistura de conspiração e crime com um toque tropical.









· O Terceiro Tiro: Esta produção não é muito conhecida na filmografia do nosso homenageado, mas vale à pena comentar. Uma pacata cidade em New England vira palco de uma trama misteriosa, quando um corpo é encontrado em uma floresta sem nenhuma explicação. Desesperados, os habitantes tentam sumir com o defunto, mas ele sempre reaparece no mesmo local.







(Karen Lemos - Famosidades/MSN)