Na semana em que descobriu ser portador do vírus HIV, o ator curitibano Gabriel Comicholi decidiu que - em vez de esconder esse fato - iria compartilhá-lo com toda a internet. Assim, nasceu a série de vídeos HDIÁRIO, hospedado em um canal onde ele compartilha relatos de seu cotidiano desde que passou a conviver com o vírus em seu sangue.
Para Gabriel, dividir esse momento delicado de sua vida com anônimos não só o ajuda a lidar melhor com a questão, como contribui para quebrar o estigma que, desde a década de 1980, persiste em rondar o assunto.
“As pessoas ainda têm essa ideia errada de que quem é portador do vírus HIV sofre da doença [AIDS]; e não é isso”, ressalta o jovem. “Isso é um problema da minha geração, acho. Ninguém mais fala disso quase. Nas gerações passadas, pessoas famosas como o Cazuza, por exemplo, falavam abertamente sobre isso.”
O primeiro vídeo do canal, publicado no dia 1º, traz Gabriel revelando ser portador do vírus e ainda trazendo um alerta: como muitos jovens, ele nunca havia feito exames de rotina que podem diagnosticar vírus ou bactérias transmitidas por contato sexual. “Muita gente tem medo de fazer exame, mas o resultado pode te trazer uma notícia boa, mesmo que ateste positivo. É a notícia de que você pode começar seu tratamento e seguir normalmente com a vida.”
Esse otimismo, bem como um contagiante bom humor, são presentes nos vídeos gravados pelo ator. “Eu sempre lidei com facilidade com as coisas, nunca fui de ficar me lamentando e agora não poderia ser diferente. Quando veio essa bomba, eu pensei ‘bom, algo de bom eu vou tirar disso’”, observa. “Acho que ficar em casa, me escondendo, poderia piorar tudo. Recebo mensagens de pessoas que decidiram mentir sobre o assunto e percebo que o emocional delas está muito abalado.”
Começo do tratamento
No segundo vídeo do HDIÁRIO, postado no último dia 5, Gabriel fala de suas primeiras visitas a infectologistas e deixa dicas para outros soropositivos: fazer a carteirinha do Sistema Único de Saúde (SUS) para ter acesso à medicação, ir ao posto de saúde do seu bairro para pegar os medicamentos necessários para o tratamento e escolher bem o seu profissional de saúde que vai acompanhá-lo durante todo o processo.
“[Fui a um] infectologista que achei preconceituoso, ele disse que eu não deveria contar isso para as pessoas, o que vai totalmente contra a filosofia [do canal]”, diz. “Então eu falei ‘não, vou procurar outro’.”
No vídeo, o jovem aparece tomando a primeira dose da medicação e relatando os efeitos colaterais. “Estou sentindo muita tontura e calor”, detalha. Dessa forma, Gabriel descontrói a ideia de que o tratamento é um bicho de sete cabeças, mas também deixa claro que, acima de tudo, é um processo com consequências e que, portanto, é importante se cuidar sempre.
Já no terceiro vídeo - o último postado até então - o jovem leva seus seguidores do canal para uma coleta de sangue, que passará a ser frequente agora. “Não dobrem o braço logo após tirar o sangue”, aconselha.
Antes de encarar a repercussão que seu canal de vídeos teria na internet, o ator primeiro conversou com a família sobre o assunto. “A minha mãe não queria que eu criasse a página”, conta. “Ela achava que isso estragaria minha carreira e tinha preocupação com relação ao preconceito que eu poderia sofrer.”
Por fim, a mãe - que desde o início, apesar do choque, está dando todo o suporte para Gabriel - aceitou a ideia e tem, inclusive, incentivado o projeto do filho para a web.
Embora estivesse preparado para comentários hostis, o jovem se surpreendeu. “Recebi coisas maravilhosas em número muito superior ao de comentários negativos. Sempre surge uns ‘haters’ [termo da internet para pessoas que fazem comentários de ódio], mas também tem gente com muito amor no coração por aí”, celebra Gabriel.
(Karen Lemos - Portal da Band)
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