
No Brasil para divulgar seu novo filme, ‘Tetro’, cineasta ressalta paixão pela sétima arte
Quando novo, Francis Ford Coppola invejava o cineasta Ingmar Bergman (de ‘O Sétimo Selo’). Bergman, anos mais velho, passava horas na ilha de edição fazendo filmes com ideias que lhe viessem na cabeça. Era um privilégio, após tanto prestígio.
Foi com esse tom de satisfação pessoal e profissional, que o diretor de clássicos como a trilogia de ‘O Poderoso Chefão’ e o drama de guerra ‘Apocalypse Now’, em visita ao Brasil, discursou para jornalistas e estudantes na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), em São Paulo, na última quarta-feira, 1.
Na coletiva, o cineasta descreveu sua atual fase em que, segundo ele, aos 71 anos, é permitido fazer filmes como se tivesse apenas 21 anos.
“Não faço filmes por dinheiro ou para ficar famoso. Faço para aprender sobre mim mesmo, e posso dizer que é um privilégio poder acordar de manhã e poder filmar algo que escrevi. Agora, só faço filmes pessoais, de histórias com que eu possa aprender sobre”, resumiu.
“Quando você assiste a um filme pensado exclusivamente no dinheiro, parece que você já assistiu àquilo, porque a fórmula se repete”.
O encontro foi consequência do lançamento de um novo trabalho do diretor, ‘Teatro’, que estreia no dia 10 de dezembro nos cinemas brasileiros. O longa é um conflito familiar, filmado em sua maior parte em preto e branco.
“Acredito que o preto e branco seja uma maneira poética de ser realista no cinema”, descreveu.
‘Tetro’, para Coppola, é quase como um drama pessoal. Dentro da história, o foco está na relação conturbada entre dois irmãos, Tetro – quem dá título ao longa – vivido pelo ator Vincent Gallo e o jovem Bennie, interpretado por Alden Ehreinreich, talentoso ator de 17 anos descoberto por Coppola.
"Quando garoto, venerava meu irmão mais velho. Ele me parecia o mais inteligente, o mais brilhante. Queria ser como ele. Acabei me tornando mais famoso que ele, algo que sempre causou muito espanto em mim", recordou Coppola.
Passado em Buenos Aires, na Argentina, ‘Teatro’ acompanha Bennie, que vai atrás de seu irmão mais velho, que abandonou a família por conta de conflitos com o pai, um famoso maestro. Na capital latina, acaba não somente reencontrando com seu passado, mas também desvendando mistérios que sempre rondaram suas conexões familiares.
“São coisas que acontecem em muitas famílias e que tem a ver com a história da minha própria família. Nada realmente aconteceu, mas é tudo verdadeiro”, brincou.
A escolha da Argentina como cenário principal do novo filme, retrata uma ligação já antiga do cineasta com países latino-americanos, cujo elo se fortaleceu com a literatura que tanto atrai Coppola, como por exemplo, as obras do escritor brasileiro Jorge Amado.
“Gravei na Argentina também porque sempre tive uma relação afetiva com a América Latina, imaginei que o local pudesse me servir de inspiração. Sem contar que pensei ser divertido poder viver na Argentina por um tempo”.
Embora, como toda produção de Coppola que se preze, a qualidade de ‘Teatro’ seja notória, o filme foi produzido com baixo orçamento, equipe reduzida e em localidades de pouco custo – características do novo cinema “livre” do cineasta. O nível de sua direção, no entanto, é rígida, e exige alguns gastos que Coppola arrecada com os lucros da vinícola, na Califórnia, Estados Unidos, que é dono.
A vantagem é que o diretor não fica mais acorrentado a grandes estúdios para realizar seus filmes de cunho pessoal. A vinícola é também o que está bancando mais um filme do currículo o cineasta, que acaba de ser finalizado nas últimas semanas.
‘Twixt Now and Sunrise’ (ainda sem título em português), trata de contos de terror, “como uma história de Halloween, um pouco gótico, nos moldes dos contos de Edgar Allan Poe”, adiantou Coppola. A novidade é que o longa inclui duas cenas em 3D, uma forma de fazer cinema com a qual o realizador ainda está se familiarizando.
“Sou a favor do entretenimento e acredito no cinema como peça de diversão, mas desde que tenha algo pessoal em algum aspecto, algo que possa tocar”, fez questão de esclarecer. “É mais uma produção barata, mas que me dá a chance de aprender alguma coisa. Estou velho e sei que a melhor coisa da vida é poder aprender coisas novas”, completou.
O filme será estrelado por Val Kilmer e por Alden Ehreinreich (o Bennie, de ‘Tetro’). Outro projeto, desta vez com Coppola como produtor, foi finalizado este mês e deve chegar às telas em 2011. É ‘On The Road’, adaptação do cineasta brasileiro Walter Salles para o clássico literário de Jack Kerouac, autor de maior prestígio do movimento de contracultura norte-americana que ficou conhecido como ‘movimento beat’ na década de 50.
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