quarta-feira, 9 de julho de 2008

Meu inimigo sou eu

Em “Meu inimigo sou eu – um repórter judeu na palestina ocupada” de 1989, o jornalista judeu Yoram Binur se disfarça de palestino para retratar o drama vivido diariamente por israelenses e palestinos.

Ex- tenente do exército de Israel, Yoram Binur começou na área do jornalismo como repórter que cobria a “área árabe” de Israel. Dessa forma, acabou dominando a língua local e se aproximou da cultura árabe. Por muitas vezes foi confundido com um palestino, e daí surgiu a idéia do livro-reportagem.

Durante 6 meses, o jornalista se disfarçou de palestino adotando a aparência típica, como a barba por fazer, as roupas, os acessórios, como jornal e cigarros árabes, e por fim, o keffiyh - pano tradicional que os árabes usam na cabeça. Criou uma falsa identidade, dizendo vir de um campo de refugiados da faixa de gaza. Tudo para se infiltrar entre as pessoas que vivem na palestina ocupada. Por muitas vezes, correu o risco de ser descoberto, mas sempre contava com ajuda de terceiros ou da sorte mesmo.

Os árabes são visto como párias pela sociedade israelense. Explorados, tem suas terras tomadas e regularmente são humilhados pela policia israelense. Sendo que, a maioria da população árabe não tem nenhuma ligação com ações terroristas.

Através de experiências sentidas na pele pelo jornalista judeu, foi possível detalhar o tratamento desprezível e a vida degradante que os trabalhadores árabes levam.

Durante os 6 meses da reportagem, o jornalista passou por situações como trabalhar em um salão de festas em Tel Aviv, onde era obrigado a lavar chão e lavar pratos, em condições escravas e pouco higiênicas; trabalhar como mecânico em Jaffa e morar em uma hospedaria cheio de trabalhadores palestinos de todos os tipos; trabalhar como cozinheiro, ainda em Tel Aviv, nos fundos de um pequeno restaurante judeu, onde passava despercebido pelos freqüentadores do local, e outros exemplos.

Uma das passagens mais interessantes do livro é quando o autor se envolve com uma judia, que não sabia do seu disfarce. A relação era mal vista por ambas as partes, e por muitas vezes tiveram que esconder o romance.

Em outra ocasião, o jornalista se passou por voluntário em um kibbutz (uma espécie de albergue judeu), onde as pessoas são consideradas mais ‘liberais’. Não foi bem assim, apesar da curiosidade dos moradores do kibbutz, todos tinham medo que a qualquer momento o árabe explodisse a todos. A diferença, é que nesse local mais ‘liberal’, o medo era melhor disfarçado.

Também passou pela convivência árabe, se instalando em um campo de refugiados (área ocupada por militares judeus), onde entrou em contato com um estilo de vida precário, ouvindo o que os árabes pensavam sobre os judeus, em declarações cheias de preconceito e ódio. Além de sofrer duras repressões e violência por parte dos soldados israelenses.

Uma das passagens do livro nos transporta para o meio de uma “intifada”. A intifada foi a época de grandes tumultos e protestos dos árabes contra os ocupantes judeus. O autor nos passa o clima de tensão nos momentos que a violência reinava. Fora as interceptações em aeroportos e lugares público, por causa da aparência árabe, que ocorrem freqüentemente durante o livro.

Entre outras experiências, Yoram Binur conta um pouco da sua vida no exército de Israel, como os problemas e os abusos na corporação. Dessa forma, ele explora o lado negativo de ambas as partes.

Mesmo 20 anos após a publicação do livro, o tema ainda é bem recente. Parece impossível um entendimento entre judeus e palestinos que, apesar de vizinhos, permanecem em conflito. Mas, se a experiência de Yoram Binur ajudar um pouco, já é um grande passo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto poderia ser melhor, mas ficou bom, não tá ruim.
Sobre o assunto tratado, é um assunto complicado que envolve principalmente, fanatismo religioso, o que impede qualquer tipo de pacificação entre ambas as partes, independe do período decorrente.